NÃO VOTE BRANCO OU NULO, VOTE CONTRA O PT
Uma campanha indigna
Ainda que não seja novidade nas
disputas pela Presidência, o pugilato verbal entre os atuais candidatos
veio surpreender. Não se esperava que a campanha se fizesse por troca de
agressões, e, sobretudo, não se imaginaria um nível tão baixo do teor
político contido nessa agressividade.
A violência verbal não é novidade em termos. Na democracia anterior ao
golpe de 64, nas quatro eleições presidenciais houve muita
agressividade, mas toda por conta de não candidatos à Presidência. Entre
os disputantes, prevaleceu, sempre, a concepção de que pretendentes à
Presidência não podiam mostrar-se ao eleitorado sem a compostura
apropriada ao cargo.
Getúlio nunca citou o brigadeiro Eduardo Gomes nem foi por ele citado. O
mesmo se passara entre o general Dutra e o brigadeiro. O general Juarez
Távora fez campanha até raivosa, e Juscelino se ocupou dos seus planos
para fazer "50 anos em 5", sem referencia direta entre eles. Jânio fez
campanha de fortes insinuações contra tudo o que lembrasse o governo
Juscelino, representado na candidatura do general Lott, mas nunca o fez
de modo explícito e nominal.
Ditadura militar por 21 anos é, na cultura política, o mesmo que a
demolição acelerada de uma edificação construída durante séculos, como
as velhas catedrais. Em 1989, a primeira eleição direta da nova
democracia retrata, em tudo, os efeitos da demolição feita pela
ditadura. Fica muito bem em Collor a personificação da campanha sem
ética política e sem compostura pessoal, com variados modos de
violência, não só verbal.
Até que chegasse ao vitorioso "Lulinha paz e amor", Lula preencheu três
campanhas com irada pregação da temática petista. Sem agressões a
Fernando Henrique, cujas condições nas duas disputas dispensavam embates
diretos, que nem fariam o seu gênero. O mesmo se deu entre Lula e
Alckmin. Mas não com Serra, que se permitiu, contra Lula e contra Dilma,
desde diferentes modalidades agressivas até armações com ajuda de
terceiros.
Por aí se chegou à atual campanha sem imaginar que o candidato da
simpatia, herdeiro de uma prática política sempre elevada, passageiro de
uma vida alegre, não fosse isso mesmo como candidato à Presidência.
Ainda com Eduardo Campos, os dois fizeram um acordo de mútua preservação
que deu o sinal: as farpas logo voaram de um lado e de outro. Dilma e o
governo já estavam na mira, mas de tiros políticos.
O que os céus fizeram por Marina tomaram de Aécio, na queda do avião.
E, pior, trouxeram-lhe a suposição de se salvar pela agressividade
contra a nova concorrente. E logo também contra a antiga. Aécio Neves
foi o disparador da deterioração da campanha em que a perda de
escrúpulos é crescente.
Não se imaginava que a Marina Silva tão contida, como se toda travada
por poderosas forças interiores, ou, sabe-se lá, celestiais ("Deus não
quis que eu estivesse naquele avião"), fosse capaz de tamanha
desinibição para dizer coisas como esta raridade: "Um partido que coloca
por 12 anos um diretor para assaltar os cofres da Petrobras". "Para
assaltar"? A desonestidade dessa afirmação, feita em sabatina há três
dias no "Globo", não tem limite nem para trás...
Funcionário de carreira, Paulo Roberto Costa fez sua ascensão na
Petrobras durante o governo Fernando Henrique, nomeado então para
sucessivos postos e funções relevantes, que vieram a culminar no governo
Lula. É um mistério o momento em que começou sua corrupção. Mas há a
certeza de que, a não ser para Marina, nenhum partido e nenhum governo
dos dois presidentes promoveu Paulo Roberto Costa "para assaltar".
Diante de tamanha e perversa difamação, não surpreende a facilidade com
que Marina diz inverdades bondosas a seu respeito, atribuindo-se votos,
pareceres e projetos no Senado que o Senado nunca ouviu ou leu. Sua
agressividade tem este componente adicional: a inverdade. O que aquela
sabatina tornou ainda mais perceptível (e registrado jornalisticamente).
Mas de Dilma, a "durona", a "gerentona", esperava-se que ao menos
confirmasse a maneira como a imprensa a descreve. A surpresa que lhe
cabe vem, no entanto, do oposto: é a menos ofensiva, tanto no sentido de
ataque como de insulto. Tem preferido dar respostas, algumas duras e
outras irônicas. Sem conseguir, porém, tornar menos deplorável esta
campanha indigna de uma disputa pela Presidência da República.
Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é
um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia
e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos,
terças e quintas-feiras.
Fonte: Por JANIO DE FREITAS, portal UOL
FONTE BLOGDOSOMBRA





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