#vamosmudarbrasilia
Reinaldo
Azevedo
É… O mal
que Lula faz à decência política do país é algo que será, se for, mensurado a
longo prazo. Espero que as futuras gerações um dia se debrucem sobre este
período, em que o país viveu sob a égide dos valores lulistas. O resultado
certamente será espantoso. Não, senhores! É evidente que o chefão petista não
inventou a corrupção, tampouco é ela uma criação de seu partido. Mas não é
menos evidente que só Lula e seu partido têm a ousadia — nesse caso, entendida
como a cara de pau e a vigarice intelectual — de fazer a defesa pública de que
a falha moral é uma questão menor quando está em disputa o poder. Alguém ainda
poderia ponderar: “Ah, Reinaldo, assim é com todos os políticos”. Em primeiro
lugar, não é verdade. Em segundo, mas não menos importante, é preciso
considerar que a defesa pública da lambança corresponde a um mal adicional,
além do malfeito original. O crime contra o dinheiro público é coisa de gente
deseducada para a democracia. A defesa pública do crime deseduca as gerações
futuras. O crime, em si, é coisa de ladrões; a defesa do crime cria novos
ladrões. O crime, em si, é um mal temporário; a defesa do crime é um mal
permanente; o crime, em si, pode desafiar uma cultura da correção; a defesa do
crime cria a cultura da corrupção do caráter.
E é nesse
preciso sentido que Lula é um professor perverso, que continuará a procriar,
para lembrar Fernando Pessoa, muito além do seu e dos nossos respectivos
cadáveres. Por que isso? Lula foi ao Pará lançar a candidatura de Helder
Barbalho (PMDB) ao governo do Estado. O vice é Paulo Rocha, do PT. Então vamos
ver. Helder é filho do notório senador Jader Barbalho (PMDB), que, em 2002,
chegou a ser preso pela Polícia Federal, junto com outras dez pessoas, todas
acusadas de envolvimento no escândalo da extinta Sudam (Superintendência do
Desenvolvimento da Amazônia). No dia 4 de outubro do ano anterior, tinha renunciado
ao mandato de senador, não resistindo a uma chuva de acusações, como desvio de
recursos do Banpará e emissão fraudulenta de Títulos da Dívida Agrária. Há três
semanas, Dilma chamou o senador de seu “querido”.
E Paulo
Rocha? Também renunciou ao mandato de deputado federal em 2005 em razão do
escândalo do mensalão. Uma assessora sua sacou R$ 620 mil de uma das contas de
Marcos Valério. Ele justificou que o objetivo era pagar dívidas do PT do Pará,
arrancou um empate no julgamento do Supremo e acabou absolvido da acusação de
lavagem de dinheiro. Mas o saque houve. Dada a moral típica do petismo, ele
admitiu que tudo não passou de caixa dois, como se isso fosse legal. Agora
voltemos a Lula.
O homem
foi ao Pará lançar a dupla intrépida ao governo. Poderia ter se calado sobre o
pai de Helder, por exemplo, seguindo a máxima de que as penas pelos crimes do
pai não podem recair sobre o filho — é um princípio do direito romano. Isso na
hipótese, claro!, de Helder não ser um herdeiro também não virtuoso de Jader.
Mas aí Lula não seria Lula. Sabem o que ele disse? Isto: “Helder, você tem
de dizer que é filho do Jader com muito orgulho; Paulo, você tem de ir para
esta eleição com a cabeça erguida”.
Entenderam?
Lula vive a demonizar país afora um político como FHC. Alguém se lembra de
alguma acusação moral contra o ex-presidente? Em São Paulo, promove as alianças
as mais exóticas e improváveis contra Geraldo Alckmin. Alguém se lembra de
alguma acusação moral contra o governador? No Pará, no entanto, ele pede que Helder
se orgulhe de o pai ter sido preso pela PF e de ter renunciado ao mandato. E
convida o petista Rocha a andar de cabeça erguida, apesar daqueles R$ 620 mil…
Afinal, eram só caixa dois, certo?
Sim, é
claro que é legítimo que Lula se oponha a tucanos e a outros que disputam com
ele o poder. Asqueroso é o convite que ele faz para que seus aliados defendam
as lambanças como se fossem virtudes.
Fonte -
diplomatizzando
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