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14:06
ANDRADEJRJOR
#VAMOSMUDARBRASILIA
RUTH DE AQUINO
Dilma, Aécio e Campos, podem começar a treinar o “Lepo Lepo” – com dancinha sensual e tudo o mais
O eleitor brasileiro está bolado. Não sabe mais em quem quer votar. É
bem mais fácil encontrar quem diga “tudo menos Dilma” ou “tudo menos
Aécio”. Nesta eleição das eleições, o grande campeão antecipado parece
ser o voto da rejeição. A maior batalha do eleitor consciente é contra o
oportunismo e as ilusões do marketing. Se o Brasil quiser mais tempo
para debater os temas incluídos naquelas três letrinhas mágicas, IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano), o melhor candidato é o segundo
turno.
Até agora, na ressaca da Copa e no recesso sem-vergonha do Congresso, o
eleitor só sabe que todos os candidatos prometem mudar. E que a
coerência morreu. A presidente petista Dilma Rousseff anuncia que terá
comitê evangélico e esquece que um dia defendeu o direito das mulheres
ao aborto. Promete subir em todos os palanques. Quer ressuscitar o
perfil satírico da Dilma Bolada, criado por um publicitário no Facebook,
com o dobro de seguidores do perfil oficial.
O candidato tucano Aécio Neves defende o programa Mais Médicos e
qualquer outro projeto que o aproxime do povão. Eduardo Campos, do PSB,
tem duas caras- metades que nunca deram liga: Marina e Alckmin. Todos os
candidatos prometem transparência, eficiência e mudança.
Dilma, Aécio e Campos são contra “os ativistas”, uma denominação que
generaliza e empobrece os protestos legítimos de 2013. Elisa de Quadros
Pinto Sanzi, a Sininho, não tem estofo para ser heroína nem vilã.
Errática, aloprada, ela não representa quem lotou as ruas e acordou o PT
de sua letargia e de seu distanciamento dos jovens. Ninguém me
convencerá de que a Sininho é líder de nada. A moça jamais sonharia com
tamanho status. “Mentora de toda a quadrilha”, segundo a polícia? Dizer
que essa moça, Sininho, ameaça a democracia é levantar demais a bola
dela. Ativistas arrependidos ajudaram a polícia a “montar o organograma
do comando do grupo”? Menos, gente. Daqui a pouco, alguém falará em
guerrilha.
À saída da penitenciária de Bangu, os amigos protegeram uma Sininho
pululante de fotos. Como? Agrediram jornalistas e quebraram câmeras de
repórteres fotográficos. Um enredo de quinta categoria do início ao fim.
Há muitas outras maneiras menos espetaculosas e mais sensatas de
impedir atentados à ordem urbana do que distribuir golpes de cassetete
em moças de jeans. Ou algemar um bando de “ativistas”. Era tão claro que
eles receberiam o benefício do habeas corpus. Criar jovens mártires é
uma atitude tão contraproducente e ingênua quanto pedir asilo no
consulado do Uruguai. Uma bobagem só, que não merece manchete.
O novo eleitor, bolado com a repressão, a recessão e a violência, lê
então na imprensa que os candidatos estão empenhados em atrair o voto da
juventude. Dilma é a mais empenhada porque é na rapaziada que ela
enfrenta a maior rejeição. Uma pesquisa do Datafolha mostrou que 45% dos
jovens entre 16 e 24 anos dizem que não votariam em Dilma em hipótese
alguma no primeiro turno. Segundo a mesma pesquisa, num eventual segundo
turno, 46% dos eleitores de 16 a 24 anos votariam em Aécio, e 39% em
Dilma.
Por que a estrela vermelha não cativa mais os jovens? Porque eles se
sentem traídos por um partido que se dizia de esquerda, prometia lisura e
ética e acabou aliado a José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor e
companhia. Se os jovens querem mudar “tudo isso que está aí”, como
votar na continuidade do único governo que conhecem e que há 12 anos se
mantém no poder? Eles eram crianças, tinham entre 4 e 12 anos, quando
Lula foi eleito pela primeira vez. Para tirar proveito dessa fraqueza de
Dilma, Aécio tem o apoio de um poderoso porta-voz. José Júnior,
fundador e coordenador do AfroReggae, líder de projetos de inclusão
entre a moçada da periferia, conversará com os jovens em nome dele.
Mais que o jovem, o eleitor cortejado é o povão, que não quer só
eletrodoméstico, mas comida, educação, saúde e emprego. O perfil do
eleitor bolado está no maior hit da Copa, o “Lepo Lepo”. Atenção,
candidatos, decorem:
Ah, eu já não sei o que fazer/
Duro, pé-rapado e com o salário atrasado/
Ah, eu não tenho mais pra onde correr/
Já fui despejado, o banco levou o meu carro/
Eu não tenho carro, não tenho teto/
E se ficar comigo é porque gosta/
Do meu rá rá rá rá rá rá rá o lepo lepo/
É tão gostoso quando eu rá rá rá rá rá rá rá o lepo lepo.
O cantor, Márcio Victor, diz que o “Lepo Lepo” é “a música do povo, é o
que o povo quer ouvir”. Dilma, Aécio e Campos, comecem a treinar o
“Lepo Lepo”, com o gestual sensual e tudo o mais. Se perguntarem em
algum debate televisivo, o ritmo é o arrochanejo. Mistura de arrocha com
sertanejo, pagode e axé. A cara do Brasil.
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