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18:28
ANDRADEJRJOR
#vamosmudarbrasilia
Ruy Fabiano
Diplomacia, como se sabe, não é exatamente campo adequado para exercícios de militância.
O
Itamaraty, desde os tempos do Barão do Rio Branco, cultivou o que veio a
se chamar de pragmatismo responsável, o que o tornou considerado nos
fóruns internacionais.
Sendo o Brasil um país ainda periférico, sem grandeza bélica, sempre evitou entrar em briga de cachorro grande.
Seu
ingresso na Segunda Guerra Mundial foi precedido de amplas negociações
com os Estados Unidos, que resultaram na Siderúrgica de Volta Redonda,
na Eletrobrás e no consequente up grade em sua infraestrutura
industrial. Mesmo assim, só o fez, já na etapa final do conflito, depois
de ter navios em sua costa bombardeados pelos nazistas. Cautela e caldo
de galinha não fazem mal a ninguém. Mas esse era o Itamaraty pré-PT,
cujas linhas-mestras sobreviveram aos mais variados governos, incluindo
os da ditadura militar.
O PT introduziu na diplomacia brasileira o
vírus da militância. O país deixou de lado seus interesses - comerciais,
políticos, estratégicos -, perdendo mesmo a noção de sua desimportância
relativa, e passou a orientar sua conduta pelo viés ideológico.
A
adesão ao bolivarismo chavista – de cuja gênese o PT participou, via
Foro de São Paulo – o distanciou de parceiros tradicionais, como Estados
Unidos e União Europeia.
Em compensação, o país passou a apoiar – e
financiar – ditaduras, como as de Cuba e do Sudão, que contabiliza
assassinatos numa ordem de grandeza que supera a soma de diversas Faixas de Gaza. Seus aliados preferenciais, na geopolítica global, são países como Coréia do Norte e Irã.
Alia-se
a forças criminosas como as Farc, que mantêm campos de concentração na
selva e vivem do que apuram com sequestros e venda de drogas. O
chanceler de fato, Marco Aurélio Garcia, recusou-se a admiti-las como
grupo terrorista, optando pela expressão oblíqua de “forças
insurgentes”.
É compreensível, já que suas lideranças sentavam-se
lado a lado do PT no Foro de São Paulo. Grande parte dos assassinatos
que ocorrem anualmente no Brasil – mais de 50 mil, a maioria pobres e
jovens – decorre dessa aliança sinistra, que igualmente supera em muito
os até aqui sacrificados da Faixa de Gaza.
Eis, porém, que, não
satisfeito em protagonizar uma diplomacia pelo avesso no continente, o
Itamaraty decide incursionar pelo Oriente Médio. Lula já havia aparecido
por lá, quando presidente, sustentando que sua experiência de
sindicalista, habituado a negociar, seria suficiente para clarear um
conflito que há décadas desafia as maiores diplomacias do planeta.
Expôs-se
(e nos expôs) ao ridículo, sobretudo porque, além de não negociar coisa
alguma, optou claramente por uma das partes – no caso, os palestinos.
Eis que agora o ridículo se repete. E, de certa forma, com maior
gravidade, pois a militância diplomática se dá em pleno conflito.
Diplomacia não comporta amadorismo. O Brasil não integra o grupo de
países com expressão geopolítica, que exercem influência na região e nos
fóruns internacionais. O primeiro dever da diplomacia é o
desconfiômetro, isto é, perceber o seu tamanho. Foi mais ou menos isso
que, para nosso constrangimento, nos disse o porta-voz do governo
israelense, ao nos qualificar de “anões”.
O conflito de Gaza tem
complexidade bem maior que uma negociação sindical. Não começou hoje e
nem se sabe quando, como e se terminará. Apelar ao cessar-fogo –
gesto-clichê que as grandes potências fazem enquanto buscam uma saída -
implica não julgar as partes em conflito.
O Itamaraty valeu-se do
jargão, para, em seguida, condenar apenas uma das partes, exatamente a
que não teve a iniciativa do presente embate. Militância e diplomacia
são práticas que se repelem e, quando se insiste em misturá-las resulta
no que se viu: vexame. Ruy Fabiano é jornalista
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