ELENA LANDAU
Só há uma palavra para descrever a indicação da dupla Gilmar e Dunga: deboche.
A CBF mandou seu recado; ela faz o que quer. Ilusão pensar que a reforma do futebol virá de lá. Mesmo porque não é a troca de técnico que vai mudar sua estrutura envelhecida, os acordos políticos com federações sem expressão e a falta de transparência de seus gastos, decisões e convocações.
A CBF é uma entidade privada que apenas se submete às regras da Fifa, não será ela motor de transformação.
Clubes fortalecidos podem ajudar a mudar o futebol pressionando a própria CBF, ou pelo menos vivendo de forma menos dependente dela. Por isso, o foco das iniciativas deve ser no fortalecimento dos clubes, que além da reestruturação financeira discutida no momento, demanda fluxo de receitas estáveis e previsíveis.
Receitas vêm da venda de direitos televisivos, marketing e, para poucos clubes, da venda de jogadores. E estádios cheios são fundamentais.
Para atrair o torcedor é preciso antes de mais nada melhorar a qualidade do espetáculo.
Temos um campeonato longo e mal organizado, foco de reclamação de jogadores e de torcedores, um calendário subordinado à grade da TV e contratos de transmissão mal distribuído entre os clubes. Para 2016, os valores pagos aos times pela TV variam de R$ 170 mil a R$ 35 milhões.
Com clubes mais competitivos e receitas equilibradas poderia haver mais investimento em divisões de base, ajudando na desejada renovação de nosso futebol. Os que recebem demais não investem em novos talentos, compram. Os que recebem de menos não têm oxigênio para políticas de longo prazo. E os que investem, vendem.
Também é preciso rever o horário dos jogos para tornar a ida ao estádio um programa, além de combater os cambistas e garantir acesso e segurança, o que já se viu durante a Copa com ajuda do poder público.
Ao governo cabe com certeza a definição de uma política de longo prazo para o esporte em geral, sendo o futebol apenas uma modalidade. Agora é a vez da Olimpíada no Brasil.
O que se vê é o COB apenas criando metas de número de medalhas para esporte de alto rendimento, enquanto a seleção olímpica se subordina a CBF. Não há nenhuma preocupação com a educação esportiva no país. Deveria ser esta a função do Estado, como previsto pelo art. 217, II, da Constituição Federal. Não adianta pensar só em seleção brasileira. Ganhar ou não é uma consequência.
De pouco adianta o governo aparecer só na hora de reestruturação de dívidas em operação de socorro, exigindo contrapartidas que não se sustentam, como a ameaça de rebaixamento em caso de inadimplência que depende da aprovação da própria CBF.
A intervenção pontual do poder público em competições internacionais é fácil. Difícil é jogar um bom futebol.
fonte avarandablogspot
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