PAULO NASSAR
O GLOBO -
Ninguém gosta de uma imprensa que fiscaliza
O panorama da imprensa na América Latina é sombrio. Na Venezuela, na Argentina e no Equador, por exemplo, vigoram novas regulamentações que, na prática, cerceiam a atividade dos profissionais e das empresas informativas. Só no Brasil, nos últimos três anos, dez repórteres foram assassinados em pleno trabalho de denunciar corrupção e desmazelos políticos. Na prática, o quarto poder — em vez de intimidar os poderosos e confortar os aflitos — tornou-se ele mesmo intimidado pelos poderosos de plantão.
A organização Pew Research, porém, traz boas-novas dos Estados Unidos. A indústria de notícias, em vez de fenecer sob os desafios digitais, está crescendo e soma hoje, em todas as suas plataformas, um faturamento expressivo de US$ 65 bilhões. Ninguém pode esquecer que os WikiLeaks e os Snowden da vida não teriam sido nada sem os abrigos corajosos do “The Guardian”, em Londres, e do GLOBO, no Brasil. Maduros e Castros não teriam nada a censurar nessas coberturas. Já Obamas e Camerons chegaram a ensaiar um discurso de “traição à pátria”. Ninguém gosta de uma imprensa que fiscaliza, seja de esquerda ou de direita. Como dizia Millôr Fernandes, “jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”.
O que pode significar a liberdade de imprensa? Um termo tão singular e atual. Singular porque está intimamente associado ao exercício do poder num mundo em crise. Já a atualidade é consequência da disseminação desses impasses, sobretudo por meio das redes sociais que ora se revelam, como disse Manuel Castells, redes da indignação e da esperança, ora são também o motor de autêntica Babel, onde todos falam a um só tempo.
A mídia é alvo contínuo de críticas: incompetência, denuncismo, culto do espetacular, manipulação, venalidade, despreparo, golpismo. No Brasil, nada aconteceu ou acontece de forma diferente. A imprensa pode errar — e erra muito —, sem dúvida, mas a vocação dominante é oferecer informação ao público. Os fatos são, assim, o elo aglutinador da sociedade.
É como a dança das cadeiras: a cada erro, declina a credibilidade. As críticas não são tão importantes quando dirigidas por questões de posicionamento ou por condicionamentos partidários. Mas quando comete erros factuais graves, que podem ser imputados a posicionamentos ideológicos, mente ou fantasia as notícias, nesse momento a credibilidade se rompe, trinca e como o cristal não ressoa mais o mesmo som. Jornalismo é fato. E os fatos são teimosos. São como óleo na água, sempre aparecem.
Daí, o culto aos fatos ser o tema de reflexão que inspira a liberdade de imprensa. E em torno dela é que se organizam um dos fortes vetores da liberdade da sociedade e os critérios de verdade. Não são, pois, os fatos que se politizaram, é a politização que turva a visão da realidade concreta. Eis uma concepção de singular atualidade que o país tem descoberto na prática.
Ninguém gosta de uma imprensa que fiscaliza
O panorama da imprensa na América Latina é sombrio. Na Venezuela, na Argentina e no Equador, por exemplo, vigoram novas regulamentações que, na prática, cerceiam a atividade dos profissionais e das empresas informativas. Só no Brasil, nos últimos três anos, dez repórteres foram assassinados em pleno trabalho de denunciar corrupção e desmazelos políticos. Na prática, o quarto poder — em vez de intimidar os poderosos e confortar os aflitos — tornou-se ele mesmo intimidado pelos poderosos de plantão.
A organização Pew Research, porém, traz boas-novas dos Estados Unidos. A indústria de notícias, em vez de fenecer sob os desafios digitais, está crescendo e soma hoje, em todas as suas plataformas, um faturamento expressivo de US$ 65 bilhões. Ninguém pode esquecer que os WikiLeaks e os Snowden da vida não teriam sido nada sem os abrigos corajosos do “The Guardian”, em Londres, e do GLOBO, no Brasil. Maduros e Castros não teriam nada a censurar nessas coberturas. Já Obamas e Camerons chegaram a ensaiar um discurso de “traição à pátria”. Ninguém gosta de uma imprensa que fiscaliza, seja de esquerda ou de direita. Como dizia Millôr Fernandes, “jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”.
O que pode significar a liberdade de imprensa? Um termo tão singular e atual. Singular porque está intimamente associado ao exercício do poder num mundo em crise. Já a atualidade é consequência da disseminação desses impasses, sobretudo por meio das redes sociais que ora se revelam, como disse Manuel Castells, redes da indignação e da esperança, ora são também o motor de autêntica Babel, onde todos falam a um só tempo.
A mídia é alvo contínuo de críticas: incompetência, denuncismo, culto do espetacular, manipulação, venalidade, despreparo, golpismo. No Brasil, nada aconteceu ou acontece de forma diferente. A imprensa pode errar — e erra muito —, sem dúvida, mas a vocação dominante é oferecer informação ao público. Os fatos são, assim, o elo aglutinador da sociedade.
É como a dança das cadeiras: a cada erro, declina a credibilidade. As críticas não são tão importantes quando dirigidas por questões de posicionamento ou por condicionamentos partidários. Mas quando comete erros factuais graves, que podem ser imputados a posicionamentos ideológicos, mente ou fantasia as notícias, nesse momento a credibilidade se rompe, trinca e como o cristal não ressoa mais o mesmo som. Jornalismo é fato. E os fatos são teimosos. São como óleo na água, sempre aparecem.
Daí, o culto aos fatos ser o tema de reflexão que inspira a liberdade de imprensa. E em torno dela é que se organizam um dos fortes vetores da liberdade da sociedade e os critérios de verdade. Não são, pois, os fatos que se politizaram, é a politização que turva a visão da realidade concreta. Eis uma concepção de singular atualidade que o país tem descoberto na prática.
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