EDITORIAL ZERO HORA
O Brasil cumpre nos próximos dias mais uma etapa do processo irreversível de preparativos finais para Copa, num ambiente que aos poucos substitui o cenário de contestação pelo clima de festa. Foi assim em todos os países que sediaram o evento nas últimas décadas, quando reações previsíveis de contrariedade acabam por se submeter ao desejo da maioria. E a maioria, também aqui, torce para que os brasileiros desfrutem de um evento que não interessa apenas aos que vão aos estádios, aos que têm afinidade com o futebol ou que, diretamente e indiretamente, desfrutarão de seus benefícios.
A Copa deixou, há muito tempo, de ser um acontecimento medido apenas por seus resultados concretos e palpáveis. O maior evento do planeta deve ser visto também pela sua inquestionável capacidade de congraçamento, e essa é a percepção que deve predominar a partir de agora. O sentimento de integração será fortalecido, a partir da semana que vem, quando se intensifica a chegada das delegações e dos torcedores que formam o batalhão precursor dos países participantes.
O percurso desde a escolha do país para sediar o Mundial, em 2007, foi acidentado. Falhamos na adoção de providências básicas, no planejamento de obras, na escolha equivocada de prioridades e ao superestimar o tamanho de estádios que, depois do Mundial, terão pouca ou nenhuma utilidade. O setor público também cometeu falhas na falta de transparência dos gastos públicos e na precária divulgação do legado que a população terá com os investimentos, especialmente em mobilidade urbana.
O balanço geral é positivo, apesar da insistência com que os críticos da Copa repetem questionamentos, da continuidade das manifestações públicas nas grandes cidades e de declarações inoportunas, como as feitas pelo ex-jogador Ronaldo Nazário. Membro do Comitê Organizador Local do torneio, Nazário não só criticou os atrasos nas obras como afirmou, em entrevista, ao abordar os protestos de rua, que os policiais devem “baixar o cacete” nos vândalos. Um ídolo do futebol, o maior goleador de todas as Copas, não deveria, pelos excessos do que diz, equiparar sua linguagem aos atos que condena. A população sabe que manifestações ordeiras e vandalismo não são a mesma coisa.
A Copa será, sim, o que os brasileiros desejam que seja, e a aspiração majoritária é pelo sucesso do evento. O Brasil não tem nenhum exemplo anterior de acontecimento com essa dimensão. É uma chance única para o país que pretende conquistar, além do Hexa, o reconhecimento como nação capaz de mobilizar pessoas, energias e recursos para o êxito de um certame com tal grandiosidade. A Copa tem as seleções como estrelas, é organizada pela Fifa e sustentada pelos que que a viabilizam, é claro, também como negócio. Mas pertence a todos que dela participam, e não a organizações ou governos.
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