CORREIO BRAZILIENSE -
Eleições sem adversários não têm sabor, tampouco autenticidade. Para entusiasmar, as campanhas devem ser aguerridas e fortes, capazes de atrair o interesse do povo, pouco inclinado a tomar conhecimento dos assuntos da política, em relação à qual sentem justificável aversão.
Convencer o cidadão comum, cuja vida se exaure na luta pela sobrevivência, exige talento e habilidade, que raros aspirantes a cargos eletivos possuem.
A peneira da vida pública tem malhas finas. Não por acaso, as disputas se tornam, a cada eleição, mais dispendiosas. À falta de liderança natural tenta-se, por meio do dinheiro, obter adesões que a ausência de qualidades dos candidatos não asseguram.
Getúlio Vargas, se dependesse do tamanho, não conseguiria levar avante a carreira iniciada como deputado estadual no Rio Grande do Sul, encerrada como o maior líder trabalhista da história. Graças ao carisma, alimentado pela decretação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943, retornou à Presidência da República em 1951, pelo voto do povo, após haver sido derrubado em 1945. Jânio Quadros foi outro que, desmentindo prognósticos, saltou de vereador a governador e a presidente, em fulminante ascensão. A renúncia, em agosto de 1964, não lhe retira os méritos, reconfirmados quando se elegeu prefeito de São Paulo, impondo dura derrota a Fernando Henrique Cardoso.
Lula é carismático. Inútil dizer o contrário. É o homem que elege "postes", como se gaba sem constrangimento. Sua presença em qualquer eleição é fator de desequilíbrio. Ignora tudo quanto o PT fez de repugnante, como no caso do mensalão, e põe a campanha presidencial nas ruas, meses antes da data fixada em lei.
Diante disso, o que resta a Aécio Neves e a Eduardo Campos? Bater em retirada significaria por termo a carreiras que os conduziram aos governos estaduais, o que não é pouco, à Câmara dos Deputados, ao Senado. Não há outra via senão a de fazer oposição. Jamais, porém, tímida, relutante, acanhada, dependente de alianças que mais atrapalham do que ajudam.
Televisão é importante. Muito mais é saber o que falar. Se a mensagem é boa, a imprensa se encarregará de difundi-la. Veja-se o deficit da Previdência Social. Trata-se de assunto proibido ao Partido dos Trabalhadores, há 12 anos no poder, incapaz de se eximir do fracasso. Compete à oposição conservar o tema aquecido, o que não será difícil, pois interessa a aposentados, pensionistas e trabalhadores ativos, que um dia recorrerão aos cofres do INSS, para encontrá-los esgotados. Fosse o instituto pessoa jurídica de direito privado, sem dispor do Tesouro Nacional, estaria com processo de falência em Vara do Distrito Federal.
Deve denunciar a desindustrialização, que enfraquece o país e gera desemprego; a redução do mercado de trabalho; a inflação que nos bate às portas; a elevação das taxas de juros; o aumento incontrolável da violência; o abandono da infância e da juventude; a ruína do ensino; o descalabro na saúde; a ausência de recursos para a infraestrutura; os gastos perdulários com a Copa do Mundo e, sobretudo, a desenfreada corrupção.
Para a agenda da oposição sobram temas. Ao PT, entretanto, será complicado explicar como encontrou o país reorganizado, no fim da gestão de FHC, e conseguiu fazê-lo perder posições e prestígio na esfera internacional.
Só existem dois estilos de campanha: de cima para baixo, ou de baixo para cima. Grandes políticos, como Tancredo e Arraes, sabiam como se conservar em sintonia com o povo. Tancredo - a quem o PT negou votos no Colégio Eleitoral, quando eram necessários para derrotar a ditadura - jamais deixou de se interessar pelos humildes, aos quais dedicava carinho especial. Getúlio, Jânio, Juscelino, cada qual com o seu estilo, sabiam como se dirigir às pessoas simples.
O PSDB, como a preguiça, caminha a passos tardos, despreocupado com a popularidade. Ao olhar para os dirigentes, não encontro algum grande líder. São homens e mulheres ilustres, honestos, com belas folhas de serviços à nação. Falta-lhes, todavia, o dom da política, capaz de fazê-los condutores de massas e arrebanhadores de votos.
Não se ganham eleições com as classes A e B. A esmagadora maioria dos votos está nas camadas populares. Aécio Neves e Eduardo Campos, para chegarem ao segundo turno, têm a urgente necessidade de procurá-las.
Não caiam na defensiva. Falem alto, com energia e sem rodeios, e digam ao povo tudo que ele deseja ouvir.
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