Programa contabiliza profissionais que não concluíram inscrição ou já se afastaram
O processo de desligamento de profissionais que abandonaram o programa Mais Médicos começou com meses de atraso, e a situação atual demonstra falta de controle do governo. Constam no programa médicos que sequer finalizaram sua inscrição e outros que já pediram o afastamento há meses. A notificação para que 89 profissionais expliquem por que deixaram seus postos só foi publicada no Diário Oficial da União na última quarta-feira, mas há casos de médicos fora do programa desde agosto do ano passado.
É o caso do mineiro Samuel Vianney Pereira. Ele diz que participou do processo de seleção em agosto, mas nem finalizou a inscrição. Desistiu do programa por incompatibilidade de horários, uma vez que não conseguiria conciliar seu atual trabalho com o Mais Médicos. Apesar disso, o nome dele está na lista publicada no Diário Oficial.
Pereira diz que recebeu um e-mail do Ministério da Saúde, na terça-feira passada, pedindo que ele explique por que deixou o programa. Em seu perfil no Facebook, há várias críticas ao governo federal e ao Mais Médicos.
— Achei muito estranho. Na verdade é um erro deles, um engano deles. Não participei do Mais Médicos. Isso é uma grande desorganização do governo. Eles não sabem quem está trabalhando lá. Eu nem cheguei a trabalhar no Mais Médicos — disse o médico. — Eles não sabem informar quantas pessoas se afastaram. Essa é a verdade. E provavelmente nem quantas estão trabalhando. Eles não têm essa informação. O meu caso é emblemático.
Outro caso é o do médico cubano radicado na Espanha Bladimir Quintan Remedios, que trabalhava em Recife. Em outubro do ano passado, Bladimir abandonou o programa e retornou à Espanha. Um mês antes, em setembro, em entrevista ao GLOBO, Bladimir disse que veio ao país fugindo da crise econômica da Espanha, que reduziu significativamente seus rendimentos.
Bladimir é contabilizado como médico proveniente da Espanha, e não figura na lista dos milhares de profissionais cubanos que vieram ao Brasil por meio da parceria firmada com o governo da ilha e intermediada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
— Fui para a Espanha como turista, mas desertei. Tinha vontade de mudar. Era médico em Cuba. Mas, na Espanha, terminei passando um período sem conseguir me legalizar e fui trabalhar na construção civil, como pedreiro mesmo — afirmou Bladimir ao “Globo” em setembro.
Ele acrescenta:
— Consegui legalizar minha situação após passar três anos com emprego fixo e aí fui lutar para arranjar emprego como médico. Felizmente os dois países têm uma espécie de convênio, e não foi difícil, depois, trabalhar como médico. Estou na Espanha há 17 anos, constituí família, não pretendia sair de lá, mas veio a crise, e estou pensando em passar uma boa temporada no Brasil.
Dos 89 profissionais que tiveram seus nomes publicados no Diário Oficial, há dois médicos lotados em Porto Alegre que, segundo a Secretaria municipal de Saúde, nunca trabalharam lá. São o ucraniano Bityukov Sergiy e a brasileira formada no México Maria Inez Gonzaga. Outra médica notificada na quarta, a colombiana Fanny Viviana Paz Hurtado, deveria estar atuando em Belo Horizonte, mas a secretaria local de Saúde também informou que ela nunca se apresentou para trabalhar na cidade.
O Ministério da Saúde informou que “a lista publicada no Diário Oficial da União traz nomes de profissionais cujo cadastro ficou pendente, seja por falta de informação da Secretaria municipal de Saúde ou do próprio médico. Cabe ressaltar que, ao oficializar o desligamento desses médicos, o Ministério da Saúde está oferecendo oportunidade de justificativa”.
A nota diz também que a folha de pagamento dos médicos do programa é gerada mensalmente após confirmação do gestor municipal de que o profissional manteve suas atividades. Assim, “o pagamento é autorizado somente aos que estão em atividade”.
Fonte: O Globo
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