Ao
cabo de meia hora o carro estava totalmente incinerado, o cadáver de
Ñañez irreconhecível e os guerrilheiros olhávamos atônitos, desde
escassos trinta ou quarenta metros, o incrível ato de sadismo...
Produto do vagalhão midiático que as FARC despertaram com as argúcias de Iván Márquez em Oslo, é pertinente lembrar ao país que não só o “movimento armado”, senão o padrinho político dos terroristas, quer dizer, o manhoso Partido Comunista Colombiano (PCC), inspirador de toda a barbárie marxista-leninista contra a Colômbia devem reparar as vítimas, e tanto os cabeças armados quanto os desarmados devem ser levados ao cárcere pelos crimes cometidos.
Começando pelo próprio Iván Márquez e os camaradas desarmados que aproveitam todos os espaços de opinião para falar da “justeza da insurgência”, etc., etc. Os instigadores do terrorismo são igual ou mais responsáveis que as FARC. Não importa que sejam advogados, jornalistas, historiadores, dirigentes políticos de esquerda com dupla moral, ou infiltrados em sindicatos, na justiça, etc. Devem responder política e penalmente. Do contrário, nunca haverá paz na Colômbia.
Transcrevo o testemunho de Rigoberto Perdomo, cognome “Danilo”, desertor do Bloco Sul das FARC, hoje exilado político nos Estados Unidos, narrado ao autor deste artigo no verão passado em uma cafeteria de uma cidade cheia de imigrantes hispânicos no estado de Maryland:
“Fui testemunha ocular de quando Iván Márquez ordenou seqüestrar, amarrar, torturar e queimar vivo Ernesto Ñañez Ramírez, natural de Neiva-Huila, um narcotraficante de nível médio que servia de ligação entre as Frentes 14 e 15 das FARC e os capos do cartel de Medellín”.
“Ñañez era um desses tipos que chamamos de abelhas. Bastante liso e resvaladiço. Entrava e saía do Caguán como Pedro em sua casa. Nessa época estávamos na ante-sala dos diálogos com Belisario Betancur. O camarada Iván já havia anunciado que ele iria ao Congresso Nacional, como quota das FARC, pelo movimento político que fundaram Jacobo e Manuel na chave com o Partido Comunista, mas que nós tínhamos que continuar empenhados em conseguir recursos no Baixo e Médio Caguán com os impostos aos coqueros [1] e em fazer muito proselitismo a favor desse movimento para continuar organizando as células comunistas de combate”.
“Embora Iván Márquez saudasse Ñañez com abraço e com grande familiaridade, em privado nos dizia que deveríamos investigar muito esse tipo. Lembro muito bem que Ñañez tinha uma caminhonete Chevrolet de cor azul escuro, que deixava guardar (sic) em Cartagena del Chairá e só a utilizava para ir até Remollinos ou qualquer outro lugar para se encontrar com Iván, para lhe entregar o dinheiro e recolher a mercadoria”.
“De volta à Florencia, Ñañez ficava para dormir na casa de um familiar de Iván Márquez e nessas andanças teve um romance secreto com a esposa desse senhor. Como o ofendido era parente de Márquez, ele planejou a vingança para assassinar o traqueto, porém Ñañez se adiantou e o mandou matar, como é costume entre os narcos. Iludido, Ñañez acreditou que Márquez iria pensar que havia sido um assassinato por outros motivos”.
“Porém, para desgraça de Ñañez, Márquez sabia de tudo o que acontecia em Florencia com a morte de seu parente. Uma manhã Iván Márquez nos reuniu uns vinte guerrilheiros perto de Remolino del Caguán, onde nós éramos a lei e a autoridade, pois por ali não aparecia nunca o Exército, nem a Polícia, nem o DAS, nem o F-2, nem nenhuma autoridade do Estado”.
“Ordenou que quando Ñañez chegasse à blitz permanente da guerrilha, o desarmássemos, tirássemos o dinheiro que trazia e o mantivéssemos com uma arma apontada até sua chegada para decidir a sorte do bandido”.
“Para maior desgraça de Ñañez, Iván Márquez estava na blitz quando sua caminhonete chegou ao lugar, onde supostamente voltaria a receber um carregamento de coca e entregaria uma gorda soma de dinheiro às FARC”.
“Rapidamente dois companheiros apontaram-lhe com fuzis G-3, pediram-lhe o dinheiro e lhe tiraram uma pistola Browning 9mm. Iván Márquez lhes passou umas cordas de arame farpado mais ou menos grosso com dois pares de alicates. Os guerrilheiros amarraram as mãos de Ñañez à direção da caminhonete e os pés da vítima no assento do carro. Depois passaram vários fios de arame farpado ao redor da cintura de Ñañez mas por detrás do assento para que não pudesse se mover. Finalmente, com os alicates retorceram as amarras, para assegurar que a vítima não pudesse se soltar”.
“O sujeito implorava que o saltassem, que ele havia entregado o dinheiro completo, que o deixassem ir ele trazia mais dinheiro, que não fossem matá-lo. Porém, Iván Márquez continuava calado, sem dizer palavra alguma. Quando Ñañez esteve totalmente imobilizado, com parcimônia Iván Márquez jogou abundante gasolina no veículo por dentro e por fora, mas sem que o combustível caísse sobre Ñañez. A tortura para esse desgraçado foi tenaz, pois continuava gritando que ele era correto nos pagamentos, que não se equivocassem, que o perdoassem, etc.”
“No fim Márquez falou: ‘Isso é o que deveria ter pensado antes de se meter com minha família’ e, ato contínuo, jogou um fósforo sobre o assento traseiro da caminhonete. O estalido da combustão queimou a cara de Ñañez que aumentou os gritos e retorcidos de dor e de angústia dentro da caminhonete, mas o incêndio avançava com força”.
“Ao cabo de meia hora o carro estava totalmente incinerado, o cadáver de Ñañez irreconhecível e os guerrilheiros olhávamos atônitos, desde escassos trinta ou quarenta metros, o incrível ato de sadismo... Pouco tempo depois Iván Márquez foi congressista da Colômbia pela União Patriótica (UP)”.
Seria muito positivo para a paz do país que Iván Márquez responda por este e milhares de crimes que ordenou cometer em nome da revolução comunista, e que os padrinhos políticos dos terroristas que cada vez que as FARC falam de paz, aparecem ante os meios de comunicação como supostos mediadores bem intencionados, reparem a este e às milhares de vítimas caídas sob balas assassinas, as torturas, os seqüestros, as expropriações, o narcoterrorismo.
Esse é um dos grandes desafios dos negociadores do Governo e da Justiça colombiana, claro, sem que se repitam abomináveis aberrações jurídicas como aquela em que os computadores de Raúl Reyes não são provas válidas contra os comprometidos lá, porque não foram entregues primeiro a Rafael Correa, reconhecido cúmplice das FARC.
Nota da tradutora:
[1] “Coquero” é como se chamam aos plantadores de coca que vendem sua produção às FARC.
Tradução: Graça Salgueiro
0 comments:
Postar um comentário