“A
desaceleração econômica corrente em Pequim não é nem cíclica nem
resulta de uma demanda externa fraca por bens chineses. Os males
econômicos da China têm raízes muito mais profundas”.
“Tudo o que você acha que sabe sobre a China está errado”, escreveu peremptoriamente Minxin Pey, da acatada revista Foreign Policy. A China não é a potência econômica, política e militar que se acha comumente, explicou.
A afirmação pega de surpresa, mas Pey apresenta uma argumentação sólida e convincente em seu artigo.
De início, Pey sublinha que enganos do gênero não são coisa nova. “Nos últimos 40 anos”, escreve, “os americanos demoraram a perceber o quanto seus rivais estrangeiros decaíram. Nos anos 70, eles pensavam que a União Soviética era um gigante. No fim dos anos 80, temiam que o Japão fosse superar economicamente os Estados Unidos”.
Para ele, o Ocidente está cometendo erro de apreciação análogo em relação à China.
A seguir ele enumera sinais assustadores da fragilidade chinesa: “desaceleração persistente do crescimento econômico, grande quantidade de bens sem vender, crescimento dos empréstimos bancários podres, bolha imobiliária prestes a estourar, e uma luta acirrada pelo poder no topo combinada com intermináveis escândalos políticos. Muitos fatores que favoreceram a ascensão da China — como dividendo demográfico, descaso pelo meio ambiente, mão de obra super barata e acesso virtualmente ilimitado a mercados externos — estão minguando ou desaparecendo”, diz Pey.
No entanto, o mundo político e a grande mídia fingem não perceber, agem enganosamente e desinformam o público. O caso da política adotada pelo presidente Obama na Ásia é um caso paradigmático, entre muitos outros.
O Center for American Progress e o Center for the Next Generation, dois think tanks de esquerda, reforçaram essa visão enviesada com um relatório prevendo que a China terá 200 milhões de estudantes diplomados em 2030, e, em função disso, pintando um quadro deprimente do declínio americano.
Os promotores dessa visão errada sobre a China já não podem fingir que não percebem a anarquia e o eventual desabamento catastrófico da economia e do estado de coisas ditatorial vigente no país.
Então, pretendem que a China estaria passando apenas por uma crise econômica cíclica como já se verificou em países capitalistas, ligada à crise maior que assola a União Europeia e, em menor medida, aos EUA, e à queda da demanda internacional.
Porém, diz Pey, “a desaceleração econômica corrente em Pequim não é nem cíclica nem resulta de uma demanda externa fraca por bens chineses. Os males econômicos da China têm raízes muito mais profundas: um Estado autoritário dilapidando capital e afugentando o setor privado, ineficiência sistêmica e falta de inovação, uma elite governante rapace interessada exclusivamente no enriquecimento pessoal e na perpetuação de seus privilégios, um setor financeiro dolorosamente subdesenvolvido, e crescentes pressões ecológicas e demográficas”.
Infelizmente, esse descompasso entre a percepção americana da força chinesa e a realidade da fraqueza chinesa tem consequências adversas reais.
Pey pede que a opinião pública americana e seu governo – e o mesmo vale para o Brasil – reavaliem as premissas básicas de sua política com a China e considerem seriamente uma estratégia alternativa.
Do contrário, poderemos ser tragados por catástrofes impensadas.
Como foi impensado o afundamento do Titanic para seus ricos e despreocupados passageiros, que dançavam no salão enquanto o iceberg rasgava irreparavelmente o ventre do famoso e infeliz navio símbolo da prosperidade.
Luis Dufaur, escritor, edita o blog Pesadelo Chinês.
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