por Paulo Briguet
Estava relendo “A Morte de Ivan Ilitch” quando recebi a notícia da morte do pequeno Alfie. A célebre novela de Tolstói conta a história de um homem que às portas da morte descobre que sua vida foi inteiramente vazia e destituída de sentido. Ivan Ilitch é juiz numa província russa; morre aos 45 anos de idade, após sofrer um acidente doméstico e desenvolver uma doença que os médicos jamais saberiam qual foi. O menino britânico tinha uma doença rara, de difícil tratamento. A diferença é que a morte de Ivan Ilitch pareceu sem sentido a todos que o rodeavam: família, amigos, colegasde trabalho. Já a morte de Alfie contém uma mensagem que jamais esqueceremos, e que ele levará para a eternidade.
Ivan Ilitch morre como peça de um imenso aparato estatal que, de sua época para os nossos dias, só fez crescer e fortalecer-se. Alfie morre vítima dessa máquina de controle social, fria e desumana, que se considera imensamente superior aos vínculos verdadeiros entre as pessoas, especialmente o vínculo entre pais e filhos.
Ivan Ilitch talvez tenha sido salvo no último instante, como o Bom Ladrão, ao contemplar a luz divina. Alfie agora, com toda certeza, está na presença deDeus, como mártir de uma civilização doente e desesperada. Ivan Ilitch morreu diante da frieza de seus familiares e amigos, que só pensavam na herança e nos cargos que se abririam com a sua morte. Alfie morre cercado pelo amor dos pais e de milhões de cristãos em todo o mundo, que rezaram e lutaram por sua salvação.
Alfie morre para mostrar o que os donos do poder global pretendem fazer com todos aqueles que se coloquem como obstáculos para seus planos de“justiça social”, “diversidade”, “empoderamento” e “igualdade”. Morre como vítima da ideologia da morte, da estupidez materialista e da arrogância pseudocientífica. Morre como nós morreremos, se nada fizermos.
A exemplo de milhões de vítimas que nem sequer tiveram o direito denascer, o destino de Alfie seria desaparecer anônimo. Mas a máquina coletivista também se engana — e Alfie teimou em nascer, para desespero dos ideólogos. A correção dessa “falha” do sistema foi dada pela justiça britânica: passar o pátrio poder ao hospital e desligar as máquinas que mantinham a criança viva.
No entanto, inesperadamente, o menino que deveria morrer em questão deminutos acabou sobrevivendo vários dias. Esses poucos dias em que Alfie continuou entre nós têm mais sentido do que a vida inteira daqueles que o condenaram à morte.
“A morte de um indivíduo é uma tragédia; a de milhões, uma estatística”, disse Josef Stálin, responsável por mais de 20 milhões de mortes na terrade Ivan Ilitch. Um mundo que se conforma com a morte programada de um menino acabará por se conformar com a eutanásia da humanidade. Assim como a luz vista por Ivan Ilitch, a tragédia de Alfie é um sinal que Deus enviou para nós.
*Publicado originalmente no facebook do autor, em https://www.facebook.com/profile.php?id=100001948569452&fref=mentions
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