por Ascânio Seleme O Globo
Recebi de dois amigos, David Zylberstajn e Werner Capeto, um mesmo zap
com previsões para o futuro atribuído à Singularity University (SU), um think tank do
Vale do Silício que ministra cursos focados em tecnologia e inovação. É
uma leitura deliciosa, concreta, que permite sonhar acordado. Esta
antevisão do futuro vai até 2038, com análises de possibilidades para
cada dois anos.
Todas as previsões são razoáveis, e, a cada passo que se dá, é possível
vislumbrar o que vem depois. Abaixo, listo algumas das previsões para o
mundo e acrescento observações minhas de como poderá estar o Brasil
naqueles mesmos anos se as coisas por aqui continuarem a se descortinar
da maneira que temos visto nos últimos tempos.
Para 2018, a previsão supõe um componente mais humano nas relações do
homem com a inteligência artificial. Gritar com a Siri, por exemplo,
pode resultar numa resposta que lhe peça paciência e calma. No Brasil,
2018 já foi eleito como o ano da intolerância. Os brasileiros gritam
como nunca uns com os outros apenas porque uns não aceitam propostas e
ideias distintas das suas.
Em 2020, a internet 5G fará conexões com velocidade de 10 a 100
gigabytes para dispositivos móveis. No Brasil, sem chance de errar,
pode-se dizer que em 2020 o 4G estará amplamente implantado. Claro que
faltará cobertura em alguns pontos do país, por questões de logística.
Mas aí, um bom deputado proporá uma lei que obrigará uma empresa privada
a entregar 4G naquelas localidades a qualquer custo.
Dois anos depois, em 2022, os habitantes dos Estados Unidos e de alguns
outros países do Hemisfério Norte já terão autorização para possuírem
carros autônomos. No Brasil, ainda veremos nas estradas e nas ruas das
cidades Kombis e Chevettes sem placas caindo aos pedaços. Mas seus dias
estarão contados, não por causa da fiscalização, claro que não, mas
porque uma hora eles vão mesmo se desmanchar.
Para 2024, os primeiros contratos de energia solar e eólica de “um
centavo por KwH” serão fechados ao redor do mundo. No Brasil, com os
impostos comendo mais de 50% da renda nacional, o custo de produção das
energias que ainda chamaremos de alternativas também serão bem baixos,
mas o preço continuará esquentando a cabeça do consumidor graças ao
poderoso braço arrecadador do Estado.
A realidade virtual será onipresente em 2026, e os pais ao redor do
mundo dirão que os seus filhos estão em outro universo. No Brasil, os
pais vão reclamar que os seus filhos vivem no mundo da Lua.
Em 2028, segundo a Singularity University, os robôs passarão a ter
relações reais com as pessoas, cozinhando, cuidando dos mais velhos e
dando banho em bebês. Também se vislumbra que surgirão robôs para manter
relações íntimas com seus donos solitários. No Brasil, estes robôs do
amor serão um sucesso absoluto. Serão importados por cafetões e alugados
para jornadas de uma ou duas horas. Um deles vai desfilar no Sambódromo
como destaque da Beija-Flor.
Dois anos depois, em 2030, prevê-se que agências de inteligência
confirmarão que mensagens armazenadas com segurança máxima entre 1990 e
2029 foram descriptadas com sucesso. O mundo conhecerá antigos segredos
que intrigaram a humanidade por anos. No Brasil, documentos reabilitados
não deixarão mais qualquer dúvida a uma parte da população que se
negava a ver: Lula era mesmo culpado. Assim como Aécio.
Robôs serão comuns em todos os locais de trabalho, eliminando o trabalho
manual e interações repetitivas, em 2032. No Brasil, os sindicatos dos
servidores públicos vão “conquistar na Justiça” o direito de
trabalhadores pagos pelo Erário a continuar fazendo o que sempre
fizeram, nada. E sendo remunerados por isso com todas as “vantagens
adquiridas”.
Em 2034, problemas globais serão solucionados, como o câncer e a
pobreza. No Brasil, o PT vai dizer que o Brasil demorou 20 anos para
voltar ao patamar deixado pelo governo revolucionário do partido quando
do golpe, no longínquo 2016, que tirou do poder a “presidenta” Dilma.
As cidades serão inteligentes e hipereficientes em 2036, capazes de
atender todas as demandas de seus moradores, como segurança e
transporte. No Brasil, o problema da mobilidade urbana ainda vai merecer
seminários e debates para encontrar as soluções mais adequadas para
cada realidade. E a segurança, bem a segurança é uma questão muito mais
complexa, todo mundo sabe disso.
Finalmente, em 2038 a inteligência artificial e a realidade virtual vão
impulsionar a vida humana em todos os seus aspectos. No Brasil, os robôs
do amor continuarão fazendo o maior sucesso.
Ascânio Seleme é jornalista
extraídaderota2014blogspot
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