AF AFP
"Uma das características da obra de Marx é que pode ser explicada em cinco minutos, em cinco horas, em cinco anos ou em meio século", dizia o estudioso francês de marxismo Raymond Aron.
Veja abaixo algumas das ideias mais emblemáticas de Karl Marx. O nascimento do filósofo e economista alemão completa dois séculos neste sábado (5).
- 'Luta de classes' -
"A história de todas as sociedades existentes, até agora, é a história da luta de classes". ("Manifesto do Partido Comunista", com Friedrich Engels, 1848)
Para Marx, em todos os lados, em todos os momentos da história, houve uma oposição entre os trabalhadores e os que têm o capital ou os meios de produção.
Esta desigualdade leva inevitavelmente a um conflito que ele denomina "de classes", que é o motor positivo da história. Em uma sociedade capitalista, os proletários buscam irremediavelmente suprimir esta relação de dominação através de uma revolução para poder fundar uma sociedade justa.
- 'Ditadura do proletariado' -
Foi 1850 que Marx selou o destino comum dessas palavras, que já eram usadas com outros fórmulas desde a Revolução Francesa, dando origem a uma expressão que marca mais de 150 anos de teoria comunista.
A ditadura do proletariado é uma fase de transição entre a sociedade capitalista e o comunismo. Entre os dois períodos, fica, por padrão, o socialista, durante o qual o Estado é mantido de forma provisória. O proletariado, então, detém o poder e o utiliza para por fim ao controle da burguesia.
A "ditadura do proletariado", proclamada pelos bolcheviques em 1918, está no coração do exercício do poder no experimento feito por Lenin. Este conceito teórico justificou, então, os rumos autoritários do marxismo-leninismo que apareceram após a Revolução de Outubro.
- Comunismo -
Karl Marx foi coautor com Engels do "Manifesto do Partido Comunista", publicado em 1848, durante a eclosão da Primavera dos Povos, uma série de surtos revolucionários na Europa.
O texto ganha relevância a partir de 1872 e se impõe finalmente no século XX como um dos pilares do bloco do Leste.
Para Marx, trata-se de opor o socialismo, considerado utópico, burguês ou reacionário, e explicar o advento de uma sociedade justa, depois da vitória do proletariado na luta de classes.
Os pilares do comunismo são a abolição da propriedade privada, seguido pelo surgimento, após a ditadura do proletariado, de uma sociedade sem classes e sem Estado.
"No lugar da velha sociedade burguesa, com suas classes e seus antagonismos de classe, surge uma associação em que o livre desenvolvimento de cada um é pressuposto para o livre desenvolvimento de todos", afirmaram Marx e Engels.
Na prática, o fim da propriedade privada levou à morte violenta de milhões de pessoas, especialmente na coletivização forçada imposta por Stalin na URSS e no processo comandado por Mao na China.
- 'Internacionalismo' -
"Trabalhadores do mundo, uni-vos!", foi a famosa conclusão do Manifesta, que assenta as bases de uma primeira estruturação política que vai além das fronteiras das nações e dos Estados.
Este chamado a uma aliança internacionalista se tornará o lema da URSS e vai ressoar durante décadas entre os mais desfavorecidos, que toma, consciência da similaridade de suas reivindicações em diferentes origens geográficas.
Depois, essa ideia passa a fazer parte do núcleo do internacionalismo soviético, que une os destinos de países tão afastados geograficamente como Vietnã e Cuba, e da interpretação marxista de grupos como as Farc, na Colômbia, e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
- 'Ópio do povo' -
Para Marx, a religião é uma distração que permite que os explorados esqueçam de sua miséria, e pode ser usada pelos poderosos. Vem daí a famosa expressão, extraída da Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (1844), na qual compara a religião "ao ópio do povo".
Marx defende o ateísmo, embora não seja dogmático neste ponto.
Mas essa tese marxista se radicalizou na União Soviética e em muitos outros países de inspiração marxista. Em decorrência disso, houve o assassinato de religiosos, deportações de crentes, locais de culto destruídos, instituições religiosas condenados pelo Estado.
Para Marx, a alienação religiosa é um dos elementos que explicam a submissão do proletariado.
* Publicado originalmente em https://www.em.com.br
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