RICARDO NOBLAT REVISTA VEJA
Em entrevista, ontem, a uma emissora de rádio do Recife, Lula desmentiu que pretenda fugir do país. E repetiu que será candidato à sucessão do presidente Michel Temer a não ser que acabe barrado injustamente. Disse não acreditar que será preso e nem temer a prisão. Quando nada porque foi preso na época da ditadura militar.
Há aí uma diferença que Lula jamais admitirá. Ele pode se vangloriar de ter sido preso político quando em 1980 ficou retido por 30 dias em uma cela da Delegacia de Ordem Política e Social, em São Paulo. Foi bem tratado por seu carcereiro, o delegado Romeu Tuma, depois senador e seu aliado político. E até driblou uma greve de fome chupando balinhas.
Uma vez que seja preso agora, ele ostentará a condição de político preso, acusado de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro no processo do tríplex do Guarujá. Nada haverá de glamoroso nisso, pelo contrário. Terá sido apenas mais um, embora o mais ilustre, dos políticos e empresários condenados e presos pela Lava Jato.
Poderá encontrar abrigo no estrangeiro – na Bolívia, Venezuela ou Cuba com toda certeza, escapando assim de cumprir pena em Curitiba ou em São Paulo. Mas seu discurso de que foi vítima de perseguição no Brasil e de um golpe que começou com a derrubada da ex-presidente Dilma Rousseff, será corroído por futuras e prováveis novas condenações.
Sim, mesmo no exílio, Lula continuará sendo processado aqui. E os que lá fora o recepcionarão com entusiasmo e pena, por fim o abandonarão ao se convencer que se trata de um preso comum, condenado por crimes comuns como ocultação de patrimônio, enriquecimento ilícito e coisas assim. Um bandido comum como tantos outros.
O que leva as pessoas a se tornarem criminosas, salvo em casos passionais, é a certeza que têm de que escaparão impunes. O que a Lava Jato, pelo menos em Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro está mostrando, é que ricos e poderosos perderam o privilégio da impunidade. Claro, eles ainda poderão ser salvos pelo Supremo Tribunal Federal. A ver.
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