Carlos Alberto Sardenberg: O Globo
Há um intenso debate sobre se a economia brasileira já saiu da recessão
ou, se não, quando isso pode acontecer. Recessão quer dizer queda do
Produto Interno Bruto (PIB), quando um país produz em um determinado
período menos do que em momentos anteriores. Isso aconteceu em 2015,
quando o PIB caiu espantosos 3,8%, e em 2016, provável redução do mesmo
tamanho. Portanto, quase 9% de perda de produto em dois anos.
O desastre estará superado apenas quando a economia recuperar essa
perda. Quando, por exemplo, a taxa de desemprego voltar para a casa dos
6%. Vai levar tempo longo. Mas o caminho começa com uma zeragem: quando o
PIB parar de cair, teremos deixado a recessão para trás e iniciado o
processo de recuperação.
Isso já estaria acontecendo neste ano de 2017?
Listo aqui primeiro os fatores que puxam o Brasil para baixo e os que empurram para cima.
Em seguida, abordo fatores já em andamento. E depois as perspectivas positivas e negativas.
O que puxa para baixo:
Desemprego — 12,5 milhões de pessoas sem trabalho é um enorme drama
familiar e um efeito econômico grave: reduz o consumo das famílias,
poderoso motor do PIB;
Endividamento das famílias e das empresas — há um excesso de dívidas
formadas no período do crédito fácil, frequentemente subsidiado e sem
critério e, no caso das empresas, apoiando os empresários amigos do
governo petista. O momento é de reduzir dívidas, o que, de novo, reduz
consumo e investimentos;
Crise fiscal dos estados — Rio, Minas e Rio Grande do Sul têm PIBs
regionais fortes. A falta de dinheiro afeta todos os setores da economia
local.
O que puxa o Brasil para cima:
Safra agrícola 2016/17 — excelente, acima dos padrões, deve ter um valor
bruto de R$ 545 bilhões, renda espalhada por todo o interior
brasileiro. Vai gerar preços de alimentos comportados e mais excedentes
de exportação. Aliás, as exportações de carne já iniciaram janeiro
detonando;
Liberação das contas inativas do FGTS — nada menos que R$ 43 bilhões,
estimativa da Caixa, que chegarão aos bolsos de 30 milhões de
trabalhadores. É dinheiro, algo em torno de 0,7% do PIB, que poderá ser
usado para abatimento de dívidas e consumo novo;
Queda forte da inflação — IPCA de janeiro, divulgado ontem, foi recorde
de baixa. Isso preserva a renda das famílias e dá ganho para quem obteve
reajustes salariais acima de 5% no ano passado;
Queda acentuada dos juros — poderoso estímulo ao investimento.
Daqui para a frente, o que pode atrapalhar:
Crise política em Brasília, que bloqueie a atividade do governo e do Congresso, impedindo a votação das reformas.
E aqui cabe uma observação: essa crise pode surgir com as delações da
Odebrecht e as investigações decorrentes dela. Vai daí, simplificando,
se diz que a Lava-Jato pode atrapalhar — escorregada que nós mesmos
demos em comentário no “Jornal da Globo”, na última terça. Mas logo
corrigida com o seguinte ponto: a Lava-Jato é favorável ao Brasil, muda
para melhor a política, o comportamento ético e a economia, neste caso,
ao tornar evidente os malefícios do capitalismo dos amigos do governo. E
abre espaço para uma política correta e um capitalismo de verdade, em
que a eficiência e a competição valem mais que a propina paga ao
governante de plantão.
Dito isto, é preciso notar que a Lava-Jato vai atingir autoridades que
estão no comando do governo e do Congresso. Esses políticos apanhados
podem simplesmente cair fora, por vontade ou forçados. Nesse caso, sem
problemas. São substituídos, e segue a recuperação.
Provavelmente, porém, vão espernear, se agarrar ao cargo e tentar
sabotar a Lava-Jato com a ajuda de amigos no Judiciário e no governo.
Isso levará a atrasos na política econômica. Paciência: a
responsabilidade será dos políticos corruptos e coniventes. O país não
sai da crise se eles forem perdoados. Portanto, o caminho a seguir é
apoiar a Lava-Jato na busca da punição nos tribunais e esperar que o
povo mude nas eleições — o que, aliás, já fez em boa parte nas eleições
municipais.
E o que pode empurrar para cima?
Reformas previdenciária, trabalhista e algo de tributária sendo votadas
no Congresso neste ano. É boa a chance, dada a maioria de Temer.
Concessões de obras de infraestrutura, coisa que depende da agilidade do governo federal.
E novos investimentos em petróleo, o que também dá agilidade ao governo
em montar os leilões. Isso depende de uma mudança importante na lei de
conteúdo nacional, uma herança petista, que atrasa e encarece os
investimentos.
Uma pela outra, o pessoal, na média, acha que o Brasil cresce um
pouquinho neste ano (0,5%), saindo do zero neste primeiro trimestre e
chegando ao final do ano com um ritmo de expansão mais forte. Isso
preparando um PIB superior a 2% em 2018.
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