Jornalista Andrade Junior

FLOR “A MAIS BONITA”

NOS JARDINS DA CIDADE.

-

CATEDRAL METROPOLITANA DE BRASILIA

CATEDRAL METROPOLITANA NAS CORES VERDE E AMARELO.

NA HORA DO ALMOÇO VALE TUDO

FOTO QUE CAPTUREI DO SABIÁ QUASE PEGANDO UMA ABELHA.

PALÁCIO DO ITAMARATY

FOTO NOTURNA FEITA COM AUXILIO DE UM FILTRO ESTRELA PARA O EFEITO.

POR DO SOL JUNTO AO LAGO SUL

É SEMPRE UM SHOW O POR DO SOL ÀS MARGENS DO LAGO SUL EM BRASÍLIA.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Coisa de pobre

Vlady Oliver:

Antes que algum imbecil me tome por preconceituoso, aviso que estou falando de pobreza emocional

Só tem memória quem tem. Só consegue uma informação relevante quem viveu a história toda pra contar. Quem foi até Cuba e só se refestelou nos camarões com certeza não viu o engodo com todas as letras. Socialismo é coisa de pobre, como diria Caco Antibes. Só pobre, com essa tendência natural a um encosto, essa falta crônica de talento individual, é capaz de acreditar numa religião, numa seita ou num golpe do baú para aplacar suas pobrezas.
Prefere acreditar em tudo isso antes de acreditar em trabalho e mérito. E não estou falando de pobreza material, aviso antes que algum imbecil me tome por preconceituoso. Estou falando  de pobreza emocional, de carências afetivas e intelectuais que transformam uma frustração em bandeira, defendida por dez entre dez cretinos fundamentais, que se escondem no “coletivo” para aplacarem suas misérias individuais e sua animalidade mal elaborada.
Onde foi tentada, a porcaria sempre sucumbiu. E por motivos óbvios. O comunismo se sustenta na pretensão de dar condições materiais a quem não tem condições morais para tê-las. Percebam que é a religião predileta de bandidos e encostados diversos. Não se fabrica um prego em Cuba, essa ilha emoldurada na burrice. Vive-se das quirelas do Estado. Engana-se os trouxas. O comunismo coloca lado a lado aquele que produz mil tijolos por dia e aquele que produz só dois. Somados e divididos socialmente por dois, a conta vai fazer a alegria de quem produz dois tijolos e recebe 501.
Mas quem tem de produzir mil tijolos e ficar com os mesmos 501 – a metade do que produziu – torna-se absolutamente prostituto com a situação (para o meu texto parecer elegante). E cruza os braços em protesto. A decadência desses lugares é só a face mais exótica de uma extinção em massa, causada pela absoluta falta de liberdade para empreender, pensar e trabalhar, sem os grilhões dessa escravatura moderna.
Comunista, como qualquer extremista, quer nos ensinar o que comer, o que pensar, o que não pensar e como servir aos interesses de um bando de picaretas. Tamanha reverência a um facínora só pode esconder o caráter avariado de quem sonha com uma sevícia, seja na condição de seviciado, seja na de seviciador. É nessa putrefação moral que um modelo como esse ganha adeptos. Ganha simpatizantes e defensores.
Fidel era o último animal exótico desse zoológico que era caro de manter e deprimente de enxergar. Por uns tempos, o zoo cubano foi comprado e mantido com dinheiro do BNDES pelo magnata dos pedalinhos e apartamentos superfaturados, amigo de pinga do outro canalha velho. E a falcatrua se manteve no reinado da coração indecente. Devo ter meu quinhão de camarões para degustar, lá naquela ilhota encostada num barranco. Era o meu dinheiro que financiava esses larápios todos. Um dia ainda cobro essa fatura. Vagabundos.
















EXTRAÍDADECOLUNADEAUGUSTONUNESOPINIAOVEJA

"O mordomo e a jararaca"

Guilherme Fiuza:  Epoca
Além da novidade, ainda um tanto estranha, de mostrar um presidente da República falando português, a entrevista de Michel Temer no Roda viva trouxe um alerta, feito pelo próprio presidente. Temer disse que a prisão de Lula traria instabilidade ao país. É quase isso: a prisão de Lula trará instabilidade ao país enquanto não acontecer.
A patrulha petista espalhou, antes do impeachment, que após a queda da companheira presidenta, mulher honrada, a Lava Jato seria engavetada. Corta para dois meses e meio depois do impeachment: deputados de oposição – ou seja, a mesma patrulha – apoiam a instituição do crime de responsabilidade para juízes e procuradores. Em outras palavras: quem quer engavetar a Lava Jato – antes, durante e depois do impeachment – são os petistas e seus genéricos. E por que isso?
Porque a quadrilha que arrancou as calças do Brasil é petista. E, por mais que a Lava Jato alcance outros políticos, os mais ameaçados por ela são e continuarão sendo os aloprados do Lula, além do próprio. Onde estão todos esses bilhões voadores que a força-tarefa revelou (até agora) como produto do petrolão? Estão com você, caro leitor? Se não estão, estariam nos cofres do Tesouro Nacional? Ou custodiados no Judiciário? Nada disso: estão nos caixas subterrâneos dos progressistas tarja preta. E só pararão de brotar em vaquinhas milagrosas, de irrigar movimentos boçais de ocupação e de bancar advogados milionários quando estiverem todos presos – especialmente o chefe.
Enquanto Lula não for preso, o Brasil será mais instável por dois motivos: pela sobrevivência da lenda e pela utilização dela para 2018. Com a floresta de crimes atribuídos a ele, o ex-presidente só não será preso se um grande e invisível acordo político evitar isso. A declaração de Temer ao Roda viva deixa essa pista no ar. É até compreensível que o atual presidente tente reger o armistício, dialogando inclusive com os anjinhos de rapina. É papel do presidente. Mas, se passar do ponto, vai ser devorado pela jararaca.
Se Sergio Moro puser o filho do Brasil atrás das grades, já sabemos que será uma injustiça, um ato fascista contra um homem inocente, que virará preso político – e inflamará os movimentos de rua da resistência democrática de aluguel. Mas isso passa – por mais forrado que esteja o cofre da revolução. Os canastrões da falsa esquerda e seus inocentes úteis são capazes de tudo – mas também são, acima de tudo, covardes. Com o país melhorando sem os parasitas nos postos-chave do Estado, o povo perderá a paciência para a lenda e vai tocar a vida, deixando os revolucionários a sós com o seu ridículo. Aí eles próprios, que na verdade não têm causa ideológica alguma, botarão a viola no saco e vão parasitar em outra freguesia.
Se Lula não for preso, ganhará oxigênio para coordenar a ressurreição dos companheiros em 2018 – não necessariamente com uma candidatura dele à Presidência. Os genéricos estão por aí mesmo, facilmente identificáveis entre os que posaram de gladiadores contra o golpe, ou que enfiaram suas cabeças no buraco do tatu quando deveriam se manifestar sobre o impeachment. Se a Lava Jato não for até o fim, não tenha dúvida, caro leitor, de que a jararaca terá veneno suficiente para 2018. E a lenda sempre poderá ser ressuscitada numa Marina Silva (aquela da “democracia de alta intensidade”), num Ciro Gomes (o indignado profissional) ou outro candidato a requentar as fantasias de esquerda.
Lulinha se mandou para o Uruguai, que a esta altura é bem mais seguro para ele. Se a Lava Jato fizer o que tem de ser feito, o pai poderá escapulir pela mesma rota – e ficar por lá dando uma de João Goulart. Se o Brasil engoliu até a comparação de Dilma com Getúlio Vargas, engole qualquer coisa. Mas quem quer trabalhar e não brincar de mitologia fajuta ignorará solenemente esse exílio de picaretas – que poderá ter o reforço da própria Dilma, se ela enfim perder os direitos políticos no TSE, pois é claro que o PT sempre roubou única e exclusivamente para o PT.
Portanto, preste atenção, caro Michel Temer, ao estender a mão para a jararaca. A reputação do seu partido é péssima e para o Brasil você é o mordomo. Na dúvida, ao fim da história, adivinhe quem será o culpado?









extraídaderota2014blogspot

"Entrave para blindar chefe de Estado",

por Roberto Godoy O Estado de São Paulo
É possível impedir que as conversas do presidente da República sejam gravadas – mas não é fácil e está longe de ser barato. Não há um protocolo padrão e muito menos versões comerciais seguras. A rigor, a preservação das comunicações exige um projeto específico, desenhado sob medida, gerenciado em tempo integral. As principais empresas especializadas estão em Israel, nos Estados Unidos e no Reino Unido. Nenhuma delas comenta essa linha de trabalho. 



Evitar os registros eletrônicos das audiências no Palácio do Planalto pode implicar certo constrangimento. A maior parte dos sistemas não bloqueia a gravação, mas acusa a presença do dispositivo de captação, ainda que seja um trivial celular inadvertidamente mantido ativo. A praxe é deixá-lo fora da sala.
O americano Barack Obama emprega um modelo especialmente desenvolvido para ele. Segundo o ex-diretor da CIA e ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos Leon Panetta, a forma mais segura de driblar as escutas é “realizar reuniões dentro de uma sauna, com todos os participantes sem roupas”. Há esquemas mais radicais. Na visita do russo Vladimir Putin ao Rio, em 2014, as torres das redes de telefonia móvel saíam do ar quando a comitiva do presidente se aproximava e voltavam a operar minutos depois da passagem dos carros. 
Os recursos mais confiáveis são as gaiolas eletrônicas, uma espécie de rede de sinais virtuais cobrindo todo o ambiente. Podem ser acionadas no modo de identificação do gravador ou de interferência, o que eventualmente pode afetar outras máquinas. No caso de Michel Temer, a proteção teria de ser estendida à casa e ao escritório do presidente em São Paulo.



















extraídaderota2014blogspot

Juiz manda quebrar sigilo telefônico de jornalista do 'Estado'

O Estado de São Paulo
O juiz Rubens Pedreiro Lopes, do Departamento de Inquéritos Policiais de São Paulo, determinou a quebra do sigilo de dados telefônicos da jornalista Andreza Matais, editora da Coluna do Estadão, do Estado. A medida, mantida sob sigilo, foi tomada no dia 8 de novembro.
A jornalista não é suspeita de crime. O objetivo é identificar a fonte de uma série de reportagens de sua autoria, publicada em 2012 pelo jornal Folha de S.Paulo.
No despacho, o juiz informa que atendeu a provocação do delegado da Polícia Civil de São Paulo Rui Ferraz Fontes. A promotora Mônica Magarinos Torralbo Gimenez concordou com a medida. Antes disso, outros três integrantes do Ministério Público já haviam opinado contra a solicitação em três ocasiões.
O escritório Dias e Carvalho Filho Advogados, que representa a jornalista, requereu ontem ao juiz a reconsideração da decisão, que determinou ao Ministério Público que se manifeste.
“É inaceitável a violação do sigilo da fonte, mesmo que seja por decisão judicial”, diz o advogado criminalista Luiz Francisco Carvalho Filho.
A determinação autoriza o acesso da Polícia Civil aos registros de três linhas de celular. Um dos números estava em nome da Folha de S.Paulo na época.
A investigação que originou a quebra do sigilo foi aberta a pedido do ex-vice-presidente do Banco do Brasil Allan Simões Toledo. Ele foi citado em reportagem que revelou uma sindicância para investigar movimentação atípica de R$ 1 milhão identificada pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). No processo, a jornalista alegou que não iria se manifestar para preservar o sigilo da fonte.















extraídaderota2014blogspot

"A morte de Castro deixa uma pergunta: onde está a “esquerda democrática” no Brasil?"

, por Eduardo Wolf O Estado de São Paulo
A morte do ditador cubano Fidel Castro no dia 25 passado serviu como peculiar teste para as convicções democráticas daqueles que ainda se reivindicam de esquerda no Brasil. Algumas reações eram óbvias. O Partido dos Trabalhadores, que reiteradamente pronuncia-se em favor do descalabro econômico e humanitário por que passa a Venezuela chavista, naturalmente afirmou em nota oficial que o “comandante” foi líder de revolução por “justiça social”; o ex-presidente Lula da Silva pranteou o ditador classificando-o como o “maior de todos os latino-americanos”; o Partido do Socialismo e Liberdade (PSOL), que até delegações mandou para apoiar o chavista Nicolás Maduro na fraudulenta eleição venezuelana de 2014, referiu-se ao homem diretamente responsável pela morte de dezenas de milhares de opositores políticos como “defensor da paz mundial” e “exemplo” para todas as gerações. Tais declarações são óbvias porque, como disse, já o histórico desses partidos e de suas lideranças atestam as simpatias retrógradas pelo castrismo e por variedades mais contemporâneas de autoritarismo latino-americano.
Menos óbvia, no entanto, foi a reação de lideranças políticas e intelectuais das quais se esperava uma atitude mais sóbria e digna à esquerda. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou nota em que trata o ditador por “homem gentil” e “bom interlocutor”, reservando mais críticas a um futuro governo Donald Trump, sobre o qual nada se sabe ainda, do que aos milhares de mortos que o castrismo objetivamente deixou (timidamente mencionou que Fidel “não teve sucesso para assegurar a tolerância política e as liberdades democráticas”). Em uma rede social, o professor de teoria política da Unesp e colunista deste Estado de São Paulo, Marco Aurélio Nogueira, afirmou que ser um ditador “não é o aspecto mais relevante da biografia dele [Fidel]” e que é preciso “dar valor (…) ao lado sapiens e ao lado demens” das pessoas, pois, do contrário, não conseguiremos fazer da democracia um “valor universal”. O professor da Fundação Getúlio Vargas e ex-ministro nos governos Sarney e FHC, Luiz Carlos Bresser-Pereira, após alguns anos defendendo incansavelmente Hugo Chávez e Nicolás Maduro como verdadeiros exemplos da vontade popular e da verdadeira democracia, enalteceu Fidel Castro e guardou suas ressalvas para o fato de que Cuba traiu o socialismo, que nunca chegou a ser implementado na ilha (nem em parte alguma), sendo apenas um “estado igualitarista”, mas felizmente não se rendeu à traição imperdoável de ser um sistema capitalista. O ex-governador do Distrito Federal e ex-Ministro da Educação pelo PT , Cristóvam Buarque, hoje senador da República pelo Partido Popular Socialista (PPS), tratou Fidel Castro por “herói”, sem qualquer menção ao terror escandaloso implementado por seu regime na ilha caribenha. Outro ex-Ministro da Educação petista, o professor de Ética da Universidade de São Paulo, Renato Janine Ribeiro, saiu-se dramaticamente pior, alegando que “Fidel reprimiu e matou, é verdade”, mas o fez por culpa dos Estados Unidos. Mais: repetindo um chavão indecente dos apoiadores de ditaduras, afirmou que sem o castrismo e seus assassinatos, “Cuba seria o que hoje é o Haiti”. Aqui, não posso não acusar um tipo de deformidade ideológica que compromete até mesmo o caráter do indivíduo capaz desse raciocínio.
Mesmo descontando todas as questões geracionais que poderiam ser invocadas para matizar essas declarações, que vão de infelizes a francamente imorais, é impossível deixar de constatar que não houve uma única voz da chamada “esquerda democrática” que tenha expressado sem tergiversar a recusa firme e inequívoca do legado de Castro: um estado de terror persecutório que silenciou, prendeu, torturou e matou milhares de cidadãos cubanos culpados do terrível crime de pensar diferente do autocrata brutal que foi Fidel. O que devemos pensar, nós que nos importamos com uma democracia vibrante, plural, com variadas perspectivas políticas, em face desse silêncio? Não faz muito, em excelente ensaio publicado no caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo (“É hora de rediscutir programas e ideias na esquerda brasileira”, 13/11/2016), o cientista político Celso Rocha de Barros escreveu que a esquerda precisa abandonar três figuras “patológicas” (no que seguia a lição de Ruy Fausto). Uma delas era justamente o apego ao totalitarismo. Por que razão, se perguntava Barros, seria preciso que os militantes de partidos de esquerda gastassem sua energia para defender regimes totalitários como o stalinismo, o maoísmo e o castrismo? Barros pensava sobretudo no PCdoB, mas estendia sua análise ao PT e ao PSOL:
“Por que não se concentrar na defesa de objetivos razoáveis de redistribuição de renda no quadro da sociedade brasileira (em defesa dos quais, aliás, o PCdoB tem história)? Esse raciocínio se aplica também às defesas que PT ou PSOL fazem do regime cubano.”
O autor concluía sua análise desse problema assumindo certo “cansaço” por ainda ser necessário tratar desses temas no Brasil.
Não vou entrar em questões muito específicas aqui, pois outros artigos no nosso Estado da Arte tratarão delas. É o caso da análise equivocada segundo a qual sem a ditadura castrista, não teria havido avanços sociais em Cuba, como alega espantosamente o professor Janine Ribeiro, endossando o assassinato político em nome de suas preferências estatísticas (que, além de tudo, ainda são falsas). Também não quero tratar do estapafúrdio argumento do professor Marco Aurélio Nogueira, segundo o qual, se não soubermos valorizar o lado bom dos ditadores que perseguem, prendem, torturam e matam, nunca valorizaremos a democracia liberal – de fato, coloquemos esse pequeno delírio na conta das bobagens que, volta e meia, nos escapam nas redes sociais. Vale a pena, no entanto, chamar atenção para a ótima contribuição de Celso de Barros para este debate atual, e questionar, novamente: onde estavam as vozes desta esquerda reinventada e não totalitária, agora que uma clara recusa dos caminhos violentos do castrismo se fazia atual, justificada e necessária? E mais: é possível esperar de uma esquerda de matriz intelectual marxista que seja verdadeiramente comprometida com a democracia, com os direitos humanos e com as liberdades individuais? Deixo o leitor com a excelente síntese oferecida por um dos mais brilhantes historiadores do século XX, o britânico Tony Judt. Social-democrata apaixonado e brilhante, Judt foi, a vida toda, um homem da esquerda liberal anticomunista. Nunca julgou que suas posições socialmente progressistas dependessem do passado sanguinolento das tradições de regimes autoritários de esquerda. E quando escreveu sobre as memórias do também historiador britânico Eric Hobsbawn, não hesitou em deixar patente sua repulsa pelas simpatias stalinistas e totalitárias que Hobsbawn manteve até o fim de seus dias. Suas palavras não poderiam ser mais verdadeiras hoje:
Se a esquerda espera recobrar aquela autoconfiança e reerguer-se, devemos parar de contar histórias reconfortantes sobre o passado. Pace Hobsbawn, que calmamente o nega, houve uma “afinidade fundamental” entre os extremos da esquerda e da direita no século XX, auto-evidente para qualquer um que os tenha experimentado. Milhões de progressistas ocidentais bem-intencionados venderam suas almas para um déspota oriental (…). Os valores e as instituições que se tornaram centrais para a esquerda – da igualdade perante à lei à provisão de serviços públicos como um direito de fato – e que hoje encontram-se sob ataque – não devem nada ao comunismo. Setenta anos de “socialismo realmente existente” não contribuíram em nada para o bem-estar da humanidade. Nada.
Onde está a esquerda democrática brasileira? Onde estão os que aprenderam as lições de Tony Judt?















extraídader4ota2014blogspot

"Fidel Castro morreu levando o jornalismo brasileiro junto"

 Kim Kataguiri:Folha de São Paulo
 "Líder destemido", "Herói da igualdade", o homem que transformou Cuba "em referência nas áreas de Saúde e Educação". Essas foram as expressões usadas por setores da grande imprensa para descrever Fidel Castro, um dos ditadores mais sanguinários que o mundo já viu.
Mais uma vez, a militância política tomou conta do jornalismo. Supostos avanços na Saúde e na Educação que se tornaram referência para o resto do mundo, luta por igualdade, busca de um sonho. Nem parecia que as notícias tratam da trajetória de um assassino em massa. No máximo, e fazendo cara feia, Fidel foi chamado de "figura controversa".
A cobertura mais evidentemente absurda foi a do canal "GloboNews", que convidou a historiadora Claudia Furiati, autora da única biografia autorizada de Castro, para falar sobre a vida do ditador socialista.
Quando confrontada com o fato de que, apesar do discurso a favor da igualdade, Fidel era um governante autoritário e que até perseguia homossexuais, Furiati afirmou que, em seu livro, explorou essa "questão humana" do ditador com "muito respeito e admiração", afinal, "nós, humanos, temos grandes contradições". A historiadora ainda explica que temos de entender que Fidel conduziu uma revolução, "e numa revolução não há lugar para concessões".
Pois é. Não podemos fazer concessões numa revolução. Nem que seja para a democracia ou para os direitos humanos. Fidel torturou e fuzilou opositores políticos, viveu uma vida de luxo às custas de uma população miserável, mas fez tudo isso em nome da revolução, de um mundo melhor. Façamos, então, uma concessão a ele.
Imaginem se tivéssemos uma biógrafa tão compreensiva e tolerante para explorar a "questão humana" de Hitler, Stalin e Mussolini. Apesar das atrocidades que cometeram, eram apenas seres humanos com suas grandes contradições.
Por fim, ainda sobre a repressão do governo de Fidel, Furiati analisa que "as pessoas reproduzem informações que são veiculadas pela contrapropaganda (...) sem uma verdadeira apuração."
Ou seja, se você sai falando por aí que Cuba não é livre, igualitária e democrática, está simplesmente reproduzindo o que é propagandeado por aí e não conhece a verdade underground que só é divulgada por um dos maiores canais de notícia da TV brasileira e pelos principais setores da imprensa.
De qualquer maneira, fico feliz que a imprensa brasileira possa dizer esse monte de baboseira. Significa que vivemos numa democracia. Significa que há liberdade de expressão. Significa que não vivemos em Cuba.


















extraídaderota2014blogspot

"O Fidel da história",

 editorial do Estadão
 Como os vários tiranos do século 20 que se julgavam portadores da verdade e encarregados de uma missão libertadora, Fidel Castro acreditava que a história o absolveria. O líder da Revolução Cubana, morto no dia 26, foi o responsável pela mais longeva ditadura da América Latina, uma das mais cruéis do mundo, deixando como herança um país devastado economicamente e uma população amedrontada. Mas Fidel conseguiu criar em torno de si uma aura de herói da esquerda latino-americana, por ter enfrentado o império norte-americano e por assumir o papel de líder dos sonhos igualitários num continente marcado pela desigualdade. No tal julgamento da história, portanto, Fidel esperava que seus atos abomináveis fossem vistos como necessários para preservar os pilares da revolução – cujo slogan, não por outro motivo, era “pátria ou morte”.
Fidel não foi um ditador qualquer. Sob seu comando, uma ilhota caribenha, pobre e desimportante, se transformou no símbolo da resistência aos Estados Unidos em plena guerra fria. Sua revolução – que começou nacionalista e só depois se tornaria comunista – visava a romper os laços de submissão que atavam Cuba ao gigante do Norte. Uma vez no poder, Fidel alinhou Cuba à União Soviética e atuou militarmente contra os interesses americanos em diversos países, como Congo, Angola e Etiópia, em nome do “internacionalismo proletário”.
Além disso, Fidel fomentou a guerrilha contra as ditaduras no Chile, na Bolívia e na Argentina, além de ter inspirado a resistência armada ao regime militar brasileiro. Tentou, de várias formas, derrubar o governo democrático da Venezuela. Foi uma espécie de “farol” dos que pretendiam derrubar os governos militares para em seu lugar instalar a chamada ditadura do proletariado.
Seu maior feito, porém, foi ter mantido uma ditadura por mais de meio século a despeito do fato de sua administração ter destruído o país. Em qualquer outro lugar, um dirigente que condenasse seus governados à pobreza crônica e que os submetesse ao atraso tecnológico e industrial por tantas décadas – sem falar da ausência de liberdades individuais e de respeito aos direitos humanos – acabaria sendo derrubado.
Com o intuito de romper todos os laços com os EUA, Fidel criou uma relação de absoluta dependência em relação à União Soviética. De acordo com esse figurino, estabeleceu o modelo socialista, mas, ao contrário de outros países da esfera de Moscou, deixou de criar as bases para algum florescimento da indústria. Ao contrário: Fidel sabotou todos os esforços para o desenvolvimento cubano, começando pela decisão de nomear Ernesto Che Guevara como ministro da Indústria. Mas Che não se preocupou com a indústria, e sim com o “Homem Novo Socialista”, doutrina que obrigava todos os cubanos a abrir mão de seus interesses pessoais e a marchar atrás de Fidel em favor da revolução.
Quando a União Soviética desapareceu, no final dos anos 80, esses erros de planejamento fizeram de Cuba um dos países que mais sofreram com a debacle comunista. Nem mesmo os setores que sempre tiveram algum destaque na ilha, como a produção de açúcar, sobreviveram à catástrofe. Restou a Fidel viver do dinheiro que lhe providenciava o caudilho venezuelano Hugo Chávez – até que este maná também se extinguisse – e da falácia segundo a qual a economia cubana era vítima do bloqueio imposto pelos Estados Unidos.

O espetacular fiasco da experiência socialista e castrista em Cuba deveria servir como prova definitiva da inviabilidade desse modelo e da natureza irresponsável, despótica e corrupta do regime de Fidel. Mas ainda há quem veja nele um modelo a ser seguido. Para a ex-presidente Dilma Rousseff, Fidel foi “um visionário que acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa, sem fome nem exploração, numa América Latina unida e forte”. Para o ex-presidente Lula da Silva, Fidel foi “o maior de todos os latino-americanos”, cujo “legado de dignidade e compromisso por um mundo mais justo” será “eterno”. Já para a maioria dos cubanos, Fidel é um pesadelo que, enfim, termina.

















extraídaderota2014blogspot

Garotinho diz ter provas contra cúmplices de Cabral que ainda estão soltos

Deu em O Tempo
Autointitulado “um homem-bomba”, por conta de provas que afirma ter contra “105 pessoas e empresas” que acusa de corrupção, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR) cogita pedir proteção policial para resguardar sua integridade física. Ele responde em liberdade a um processo por compra de votos em sua cidade, Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, nas últimas eleições, e está em seu apartamento, no bairro do Flamengo, zona sul da capital.
“Já conversamos a respeito e estamos avaliando o pedido de proteção”, disse à reportagem nesta segunda-feira, 28, sua filha Clarissa Garotinho, deputada federal (PR-RJ). Garotinho, que foi governador do Rio entre 1999 e 2002, deu entrevista ao programa “Conexão Repórter”, do SBT, veiculada na noite de domingo, dia 27, na qual mostrou um dossiê com supostas provas de que “o mar de lama” da gestão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) é maior do que o que já foi noticiado.
Cabral é acusado de chefiar uma quadrilha que recebeu pelo menos R$ 224 milhões em propinas de empreiteiras entre 2007 e 2014, e foi preso dois dias depois de Garotinho, junto com nove outros investigados.
RISCO DE VIDA – “Eu temo pela minha vida e eu tenho que zelar por ela. Se eu falar o que você quer saber, o que eu tenho vontade de falar e que o público quer saber, eu posso amanhã facilitar a fuga dessas pessoas (pessoas supostamente envolvidas no esquema de Cabral que ainda estão em liberdade). Minha prisão foi uma retaliação, foi uma perseguição e uma injustiça. Meus inimigos são os poderosos do Rio, envolvidos nas denúncias que venho fazendo. Sofri ameaça. Disseram ‘se você me envolver, eu vou fazer com que alguém te envolva, vou criar um escândalo para você'”, disse Garotinho, mostrando um calhamaço encadernado com as supostas denúncias.
ROSINHA CHOROU – A mulher do ex-governador, Rosinha Garotinho (PR), atual prefeita de Campos, chorou durante a gravação, feita no apartamento do casal, ao falar de sua apreensão quanto à segurança de seu marido. “Ele sabe muito. A Justiça tinha que cuidar da vida dele. Eu temo pela vida dele, ele tem um monte de documentos que ainda não entregou. Eu acho que ele deve dizer parte do que ele sabe, mas não deve falar tudo”, declarou Rosinha. “Eu acho que a própria entrevista é uma forma de proteção”, afirmou Clarissa nesta segunda-feira.

Garotinho, que era secretário de Governo de Rosinha em Campos e já foi exonerado, nega ter comprado votos. Para a Justiça Eleitoral, ele se valeu do programa social Cheque Cidadão, que concede R$ 200 por mês a famílias pobres, para convencer eleitores a votar em seus aliados.
























extraídadetribunadainternet

Curto-circuito

Dora Kramer: Publicado no Estadão

Nos idos do governo Lula já atingido por escândalos de corrupção, mas ainda bem avaliado pela população, o ex-presidente Fernando Henrique fez a seguinte constatação a um grupo que lhe perguntava a razão da passividade popular diante dos desmandos: “Determinadas mudanças na História ocorrem quando, de algum lugar, surge um curto-circuito e as coisas começam a explodir onde antes reinava a calmaria”.
À ocorrência desse colapso, cujo marco localiza-se nas manifestações de junho de 2013, a maioria da classe política resiste. Uma minoria já compreendeu o que se passa. E é por isso que até agora não foi possível a Câmara incluir na Constituição anistia ao crime do uso de caixa 2 e correlatos. Corrupção e lavagem de dinheiro.
Quem já entendeu do que se trata, protesta. A reação da Rede e do PSOL pôs o assunto em patamar de constrangimento. Institucionalmente poderoso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, diz que as divergências decorrem da falta de informação. Segundo ele, existe uma “falsa polêmica” pelo fato de que os deputados não podem anistiar “crime inexistente”.
No intuito de mostrar que seus pares estão em consonância com o espírito da proposta apresentada pelo Ministério Público, com o respaldo de dois milhões de assinaturas, argumenta: “Seria mais fácil não votar a proposta do MP, pois tudo continuaria como estava”.
Sofisma. Fosse assim, bastaria preservar o texto original. Agravar as penalidades do crime de caixa 2, sem incluir de maneira explícita que os infratores anteriores deveriam ser excluídos da regra posterior. Qualquer juiz lhes daria ganho de causa. A questão é que a ideia de suas excelências tem outro alcance: impedir punições por atos correlatos ao uso de dinheiro ilegal em campanhas eleitorais. Vale dizer, corrupção e lavagem de dinheiro.
É isso que todo mundo entendeu, ao contrário do que ele diz quando alega que a sociedade reage à medida porque está sendo mal informada. Foi-se o tempo em que qualquer justificativa aparentemente lógica servia como versão destinada a dar episódios como encerrados. O desdobramento do caso de Geddel Vieira Lima é típico.
Estava encaminhado para deixar tudo nas mãos da Comissão de Ética Pública, cujo poder de decisão é nenhum. Até que, espertamente, Marcelo Calero foi à Polícia Federal, depôs incluindo os nomes do ministro Eliseu Padilha e do presidente Michel Temer na trama, e a história mudou de patamar.
Temer viu-se obrigado a dar mais explicações e, aí, caiu de vez na armadilha montada por seu ex-ministro da Cultura. No lugar de encerrar a questão advertindo o então secretário-geral da Presidência de que incorria em tráfico de influência ao pedir ao colega que interferisse na decisão de uma instância pública em favor de um interesse particular, Temer tentou contemporizar.
Saiu do trilho quando sugeriu que os ministros se “entendessem” e que o caso fosse entregue ao arbítrio da Advocacia-Geral da União, quando já estava nas jurisdições competentes: o Patrimônio Histórico, que vetara a construção de um edifício onde Geddel comprara um apartamento, e a Justiça, que decidiria sobre o embargo da obra próxima à área tombada em Salvador.
Gravidade relativa diante de corrupção escancarada que sustentou de modo implícito o impeachment de Dilma Rousseff, ocorrido de maneira explícita por crime de responsabilidade na condução da economia? Sim, mas em decorrência do curto-circuito que levou ao despertar ético da sociedade, igualmente insustentável.

Um País que reelegeu Lula a despeito dos fatos revelados no escândalo do mensalão, deu a ele o aval de eleger e reeleger uma inepta, dava a impressão de tolerância (para não dizer ignorância) eterna. O bom senso prevaleceu e a paciência se esgotou.



























extraídadecolunadeaugustonunesopiniaoveja

Que país é este?

Fernando Gabeira:Publicado no Globo
Gostaria de ter ido a Salvador para conhecer e mostrar a Igreja de Santo Antônio da Barra, o Forte de São Diogo e o Cemitério dos Ingleses. Na igreja, você assiste à missa e contempla a Baía de Todos os Santos. O Forte de São Diogo foi erguido para defender o flanco sul da cidade, no tempo em que Salvador era a capital do Brasil.
Só que os inimigos não chegaram pelo mar. Vieram de dentro de Salvador, capitaneados por Geddel Vieira Lima. Construiriam um prédio de 30 andares, que, segundo o Iphan, arquitetos e moradores, arruinaria a paisagem.
Felizmente, a paisagem foi salva. Geddel tentou pressionar o ministro da Cultura, mas acabou perdendo a batalha. Quase continuou no cargo. O governo Temer é feito de cumplicidades pretéritas com o objetivo de escapar da Lava Jato. Ao tentar manter Geddel no cargo, Temer queria impedir que ele caísse nas mãos de Sérgio Moro. Ele é investigado pela Lava Jato. O apartamento de Geddel no prédio La Vue custou R$ 2,5 milhões. Ou comprou ou ganhou. Em ambas as hipóteses, aumentaria a suspeição da Lava Jato.
Lembro-me de Geddel ainda na década dos 1990. Antônio Carlos Magalhães divulgou um dossiê intitulado “Geddel vai às compras”. Os líderes políticos que, inutilmente, lhe deram apoio para evitar sua queda são uma espécie de Bessias, aquele mensageiro cuja missão era evitar que Lula caísse nas mãos de Moro. Não adiantaria muito tentar salvar Geddel, esconder-se nas barras das togas dos ministros do Supremo. A grande delação da Odebrecht vai colocar todo o mundo político na roda.
Existem fortes manobras para decretar uma autoanistia. Essas manobras são conduzidas por Renan Calheiros e Rodrigo Maia, mas têm o apoio de Temer. Eles acreditam que podem deter a Operação Lava Jato através de um golpe parlamentar. Na verdade, podem aumentar a irritação popular com eles e transformar a delação da Odebrecht num genocídio da espécie.
Temer e a cúpula do PMDB, embora estejam trabalhando para estabilizar a economia, confirmam as piores suspeitas. Seu grande objetivo é desmontar a Lava Jato. Considerei o impeachment um momento importante para atenuar a crise brasileira. Achei que era preciso dar um crédito inicial de confiança para que o desastre econômico fosse reparado. Pouco se avançou nesse campo. Mas eles andam rápido no projeto de autoblindagem.
O que não faz o medo? Se Temer, Moreira, Geddel e Padilha, o quarteto do Palácio, partem para essa luta com Renan Calheiros e Rodrigo Maia, o jovem ancião da política brasileira, eles abrem uma nova frente. Quais são seus motivos? Geddel, por exemplo, já aparece em algumas delações premiadas. Seu enriquecimento é visível. Moreira Franco, também citado cobrando propinas em obras de aeroporto, e Padilha, como Geddel, são velhos sobreviventes. ACM o chamava de Eliseu Quadrilha. O próprio Temer tem dois apelidos na delação da Odebrecht.
No momento em que abrem o jogo, não deixam outro caminho a não ser o de uma oposição implacável. Contam com um grande número de deputados e senadores, mas esses estão apenas cavando mais profundamente sua sepultura. Comandados por Renan Calheiros e o quarteto do Palácio, os políticos brasileiros temem encarar a sua batalha decisiva. Ou liberam a corrupção que sempre os alimentou ou vão para o inferno.
Na biografia de Renato Russo, há menções a Geddel Vieira Lima, que frequentava a mesma escola do cantor. Geddel chegava sempre num carro verde e dizia que seu sonho era ser político. Renato Russo o achava insuportável. O que diria hoje diante da bela paisagem que Geddel ameaçava em Salvador?
Não pude ir à Bahia porque a crise no Rio me levou aos presídios de Bangu. Agora que um ex-governador está lá dentro, vale a pena conhecer o que é aquilo. Passei uma noite em claro para documentar o esforço das famílias em visitar os presos. Existe uma visão geral de que as famílias também são culpadas e devem pagar um pouco pelos crimes de seus filhos, pais e maridos. É um equivoco. Com a prisão de Cabral, o sistema penitenciário tem dois caminhos: ou cria um regime de exceção para ele e sua família ou racionaliza a visita de todos os 26 mil presos no complexo. Parece mais fácil criar um regime de exceção. Mas com um bom aplicativo, o que leva horas de espera, pegar uma senha, poderia ser feito pelo telefone. Pelo menos, os problemas com Cabral em Bangu são mais fáceis de equacionar do que os da cúpula do PMDB.
Presos, ainda dão trabalho. Muito menos, no entanto, do que a Renan Calheiros e ao núcleo do Planalto, que mantêm o poder em Brasilia e trabalham, intensamente, numa blindagem de aço especial que consiga, simultaneamente, anular a Lava Jato com suas evidências e a opinião pública com sua justificada fúria.
Que país é esse? Renato Russo dizia na letra da canção: “na morte eu descanso/ mas o sangue anda solto/ manchando papéis e documentos fiéis”. Como Cabral, Geddel foi às compras. Roubar uma paisagem de nada adianta, porque, na cadeia, o que se vê é o sol nascer quadrado.






















extraídadecolunadeaugustonunesopiniãoveja

"Mudança de rumo",

editorial da Folha de São Paulo
O Banco do Brasil, maior instituição financeira do país, anunciou na semana passada uma série de medidas para reduzir custos, visando a aumentar sua lucratividade nos próximos anos.

Com o argumento de adaptar-se à realidade da nova era digital, em que muitos clientes fazem suas transações pela internet, o banco público vai fechar 402 agências (7,4%) e transformar outras 379 (7%) em postos de atendimento. Isso deve resultar, segundo a instituição, em economia anual de R$ 750 milhões, o equivalente a cerca de 1,7% das despesas com suas operações nos últimos 12 meses.

Também foi anunciado um plano de incentivo à aposentadoria para o qual são elegíveis 18 mil funcionários (16,5% do total). Calcula-se que, se houver uma adesão de 30%, os desligamentos podem levar o banco a poupar quase R$ 1 bilhão a mais anualmente.

Analistas do setor financeiro consideraram as medidas como um passo na direção certa, por sinalizarem mudança de rumos em relação à condução dos bancos públicos nos últimos anos.

Como reação à crise financeira global de 2008, o governo Lula usou essas instituições para aumentar a oferta de crédito. A resposta parecia adequada em um primeiro momento, dada a magnitude do desastre nos países desenvolvidos. 

Deveria, porém, ter sido moderada a partir dos primeiros sinais de recuperação.

Ocorreu justamente o oposto disso. A administração de Dilma Rousseff dobrou a aposta, ampliando significativamente os empréstimos. Continuou, numa manobra ainda pior, a pisar no acelerador mesmo quando surgiram claros indicadores da atual crise econômica doméstica. Insistiu na rota para o precipício quando o endividamento de famílias e empresas já era visto como ameaça à capacidade de consumo e investimento.

Essa política pouco guiada por critérios técnicos prejudicou a lucratividade do banco e não surtiu os efeitos esperados em termos de retorno social. Grandes empresas com fácil acesso a crédito e menor potencial inovador foram as maiores beneficiadas, e o efeito dessa estratégia sobre os investimentos não se mostrou significativo.

O desafio da instituição agora é conciliar a busca por resultado e eficiência com o compromisso de aumentar o acesso da população carente a serviços bancários, num quadro de fechamento de agências.

As mudanças anunciadas conotam maior racionalidade na direção dessa gigantesca instituição financeira. O caminho até a plena recuperação, entretanto, será longo.
















extraídaderota2014blogspot

20% dos futuros professores no Brasil têm 'nota vermelha'

ANGELA PINHO - Folha de São Paulo



Com baixos índices de qualidade da educação, o Brasil está recrutando futuros professores entre os piores alunos do ensino médio.

O resultado pode ser observado em levantamento feito pelo Inep, instituto ligado ao Ministério da Educação, sobre as notas obtidas no Enem por calouros de diferentes cursos universitários.

Os dados revelam que 19,1% dos candidatos do Enem 2014 que ingressaram em uma graduação de pedagogia no ano seguinte não conseguiriam sequer um certificado de ensino médio com a nota do exame. Tiraram até 450 pontos, considerando-se a média aritmética das quatro provas objetivas e da redação.

Para obter um certificado de ensino médio —possibilidade aberta a pessoas com mais de 18 anos e fora da escola—, é preciso tirar 450 pontos em cada prova e 500 na redação. Mais, portanto, do que esse grupo de quase 1 em 5 futuros professores.

O parâmetro de 450 pontos foi adotado pelo Inep em 2014 após o instituto constatar que essa já é, em regra, a "nota de corte" praticada pelas escolas de ensino médio para passar os alunos de ano.
Mas é uma pontuação "muito baixa", ressalta José Francisco Soares, presidente do Inep à época dessa definição e professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais. Segundo ele, 450 pontos equivale ao acerto de 6 a 8 questões por prova no Enem, de um total de 45. "É preocupante que futuros professores terminem a escola com formação tão frágil."

Os cursos de pedagogia formam, principalmente, profissionais que atuam até a quarta série e educadores em cargos de chefia, como coordenadores e supervisores.

A proporção de calouros com desempenho ruim nessa graduação é bem maior do que a média. Entre os universitários em geral, 9,9% tiraram até 450 pontos. Entre os ingressantes nas áreas de matemática e ciências, é de 5,6%. E, entre os aspirantes a médicos, a faixa é tão insignificante que não entrou na conta.

O grupo dos alunos com pior desempenho vai até 550 pontos. Do total de candidatos, 98,4% estão acima desse patamar —em pedagogia, apenas 16,9%.

MOTIVOS

O Enem é usado como forma de seleção por universidades federais e particulares. 

É requisito para o acesso ao Fies (programa de financiamento estudantil) ou ao Prouni.

Em outros processos seletivos, como o da USP, cursos de pedagogia também têm mais alunos com notas abaixo da média geral, o que vai na contramão do que ocorre nos locais com ensino de ponta. Na Finlândia e na Coreia do Sul, alunos de cursos de formação de professores são selecionados entre os melhores.

Para especialistas, há duas explicações para a situação. A primeira é a baixa concorrência dos cursos. A graduação em pedagogia é terceira com mais vagas no país.

A segunda explicação é a falta de atratividade da carreira. "Como parte significativa dos alunos vocacionados com boa formação não busca o curso, aumenta o número de vagas para alunos com pior formação que gostariam de fazer qualquer um", diz o professor José Carlos Rothen, da Universidade Federal de São Carlos.

O salário é um fator chave —um professor ganha 39% a menos que outros profissionais com nível superior.
Estudo do economista Geraldo Andrade da Silva Filho, do Inep, mostrou que, em locais onde o piso salarial da categoria implantado em 2009 fez diferença, cursos de pedagogia conseguiram atrair mais alunos com melhores notas.

Mas a remuneração não é o único fator, diz Priscila Cruz, presidente da ONG Todos pela Educação. Pesam as condições de trabalho e o desprestígio da carreira. 

"Os governos precisam agir, mas a sociedade também cobra pouco."

FACILIDADE

Mercado de trabalho amplo e facilidade de entrar atraem alunos para cursos de pedagogia, que têm o terceiro maior número de universitários do país, atrás apenas de direito e administração.

São 656 mil alunos, a maioria em cursos a distância, e uma concorrência de menos de dois candidatos por vaga.

Aos 37, Cibele Rodrigues escolheu pedagogia por causa das oportunidades de trabalho e por considerar a formação versátil. "Mesmo se não conseguir emprego na área, vai ser bom, porque o mercado exige. Hoje, ter nível superior é igual ao que antes era ter ensino médio", diz ela, no primeiro semestre de uma faculdade particular em Itaquera, na zona leste de SP.

Aluna de outra instituição privada na periferia, Ana Paula Neris, 30, conta que optou por pedagogia porque era o curso mais barato, mas depois se apaixonou. 

"Tem um sentido de transformação com que me identifico muito."

Filha de mãe faxineira e pai pedreiro, é a primeira da família a cursar o ensino superior. Para se manter, trabalha na cozinha de uma escola municipal e, depois de formada, pretende continuar trabalhando na periferia, dando aulas.

Para alcançar seu sonho, Ana Paula sabe que tem que fazer mais do que o curso oferece. Juntou-se com um grupo de mulheres que estudam juntas. "Na faculdade, são só quatro horas, e tem muita teoria e pouca prática", diz.

Tatiane Cavalcanti, 24, teve a mesma percepção. Abandonou o curso no quarto semestre depois de trabalhar em uma escola na região metropolitana de São Paulo. "Pedagogia é uma coisa muito bonita dentro da faculdade. Fora é muito diferente", diz ela, que hoje cursa direito.

TEORIA E PRÁTICA

A distância entre teoria e prática em cursos de formação de professores é citada em diversas pesquisas sobre o tema. Elas mostram que faltam nas universidades conteúdos sobre como atuar na sala e como alfabetizar, por exemplo.

A qualidade dos cursos também é bastante heterogênea e depende do perfil dos alunos que entram. Nas que recebem os de pior desempenho, com média abaixo de 450 pontos no Enem, alunos têm dificuldade pensamento lógico, de leitura e de texto, afirma Carlos Monteiro, consultor de ensino superior.

Boas faculdades, no entanto, têm conseguido suprir lacunas de formação, diz Clarilza Prado, pesquisadora da área e professora da PUC-SP.

"São os alunos de escolas públicas, ou de menor desempenho, que veem na pedagogia uma das únicas possibilidade de ingressar no ensino superior. Mas os que entram em universidades de melhor nível acabam por modificar sua trajetória de menor qualificação", diz.

Hoje, o mercado de trabalho tem vagas tanto para professores com boa formação como para os que têm deficiências, diz César Callegari, integrante do Conselho Nacional de Educação e ex-secretário municipal da área em SP.

Diante dessa realidade, ele defende uma reformulação dos cursos de formação para profissionais que já estão na sala de aula, com um reforço maior da parte prática.

"Hoje, os cursos satisfazem mais a necessidade de obter títulos para progredir na carreira do que a as demandas efetivas dos alunos e professores", diz. Ele também defende um exame nacional de admissão para atuar na área.

Priscila Cruz, do Todos pela Educação, defende começar a formação de professores já no ensino médio, colocando a educação como uma possível área de especialização. Para ela, a ampliação do período integral, prevista pela proposta de reforma no ensino médio, deve começar por esses alunos.





























extraídaderota2014blogspot

terça-feira, 29 de novembro de 2016

"Gargalhadas demoníacas e tirânicas"

Roberto Romano: O Estado de São Paulo
Uma foto possui a qualidade de falar aos olhos e à mente. Ela mostra o real sentido da palavra “evidência”: o que aparece de modo insofismável. No século 20 algumas fotografias mostraram ao mundo fatos graves e ridículos, terríveis e comoventes. Recordo algumas delas: a menina que foge do napalm, no Vietnã; o beijo dos enamorados após a 2.ª Guerra Mundial, nos EUA; o vestido de Marilyn Monroe que se ergue por virtude do vento; a figura de Trotsky cortada na foto por ordem de Stalin; o horror de corpos quase mortos nos campos nazistas. Tais imagens testemunham a brutalidade humana, mas também exibem instantes de frágil ternura, inteligência ou estupidez.
Em formas televisivas ou fílmicas, além da evidência existe a vantagem das figuras em movimento, inclusive e sobretudo no campo da face. Esta última tem sido um meio de estudos filosóficos, artísticos (especialmente no teatro), políticos importantes. Em momentos pouco felizes da ciência, como nas teses avançadas por Lombroso, a cara revelaria o caráter das pessoas, suas mazelas escondidas. Em outro sentido, Diderot, pai das Luzes democráticas, utilizou muito o livro de Le Brun sobre as paixões reveladas na face. Charles Darwin tem um contributo relevante para o tema. As tentativas de velar a linguagem do rosto, desde a mais remota vida em sociedade, encontram nas máscaras o seu grande instrumento. Um capítulo essencial do clássico Massa e Poder traz análises profundas de Elias Canetti sobre a maquiavélica dissimulação permitida ao poderoso mascarado.
Os bisonhos e incultos políticos brasileiros não controlam a técnica do mascaramento. A sua maioria exibe sem nenhum pudor o que lhe vai nas entranhas, confiante na impunidade trazida pelo indecente privilégio de foro.
No dia 23 de novembro último, O Estado de S. Pauloapresentou na primeira página uma foto estarrecedora. Deputados riem às escâncaras em companhia do então ministro Geddel Vieira Lima. Este proclamara que “não havia nada de imoral” em conversar sobre assuntos privados com um colega, em proveito próprio. O quadro exibido no jornal mostra explícito deboche das leis e do povo soberano. Temos nele uma visão completa das pessoas que dominam nossas instituições políticas. Segundo Milan Kundera, “o riso é o domínio do diabo”. Nem todo riso, no entanto. Existe, diz ainda o romancista, o riso dos anjos, movido pela admiração da bela ordem dada ao universo pelo ser divino. A gargalhada demoníaca mostra a quebra daquele ordenamento, o absurdo entronizado nas coisas mundanas (O Livro do Riso e do Esquecimento). A pândega dos deputados, a zombaria e o desprezo pelos cidadãos comuns, traz o selo do Coisa Ruim, do Não-sei-que-diga. Renan Calheiros piorou a dose ao reduzir o episódio a um caso de hermenêutica. Caolha como todas as demais por ele efetivadas, sobretudo no plano da ética pública.
Certa feita a imprensa trouxe notícias bem fundadas sobre o uso, na Câmara dos Deputados, de verbas para o bem-estar de prefeitos e hóspedes de parlamentares. Entre as comodidades e os serviços, a prostituição. Na semana em que a denúncia invadiu páginas de jornais e telas da TV, apareceu outra novidade: a Mesa da Câmara providenciava nova leva de cargos em comissão para servir aos parlamentares. Sem apurar o primeiro escândalo, veio o outro, urdido em silêncio. Um jornalista da TV Record entrevistou Inocêncio de Oliveira. Este negou, rindo muito, a existência de qualquer ato visando a criar cargos. Deu adeus aos brasileiros, virou as costas e seguiu adiante, rindo. Na tela, apareceu o documento oficial criando os cargos.
A mentira e o deboche suscitaram minha indignação. Escrevi um artigo intitulado, justamente, O prostíbulo risonho. Ele me valeu muito ódio dos chamados representantes do povo. Um deles me processou, com apoio de seus iguais. Na oitiva das testemunhas, um auxiliar do acusador assim falou ao jovem magistrado: “Gosto muito do professor Roberto Romano. Mas ele abusou da escrita. Imagine, Excelência, que o professor afirmou existir corrupção no Congresso Nacional!”. Nem o juiz pôde conter o riso, agora angélico.
As gargalhadas dos “nossos representantes” seriam apenas ridículas se não gerassem lágrimas de famílias brasileiras aos milhares A corrupção retira da economia, das políticas públicas, da vida nacional bilhões para lucro dos que deveriam zelar pelo bem comum. Desde a Grécia, o pensamento ético e jurídico ocidental define a prática de usar os bens coletivos em proveito próprio como tirania. O governante correto “guarda a piedade, a justiça, a fé. O outro não tem nem Deus, nem fé, nem lei. Um tudo faz para servir ao bem público e manutenção dos governados. Mas o outro tudo faz para seu lucro particular, vingança ou prazer. Um se esforça por enriquecer seus governados, o outro só eleva sua casa sobre a ruína dos dirigidos (…) um se alegra ao ser avisado em toda liberdade, e sabiamente corrigido, quando falha. O outro não suporta o homem grave, livre e virtuoso (…) um busca pessoas de bem para os cargos públicos. Mas o outro só emprega os piores ladrões para os utilizar como esponjas” (Jean Bodin, Os Seis Livros da República, capítulo IV).
Em A República, ao desenhar a tirania Platão afirma que o péssimo governante realiza uma purga invertida no corpo político: expulsa os cidadãos livres e bons e usa os salafrários como sua base política. Heinrich Heine, poeta lúcido, disse certa feita: “Quando penso na Alemanha, à noite, choro”.

Termino citando um baiano que merece respeito. Dada a desfaçatez exibida na política brasileira, Castro Alves retomaria seus versos candentes: “Mas é infâmia demais! (...) Da etérea plaga/ Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!/ Andrada! arranca esse pendão dos ares!/ Colombo! fecha a porta dos teus mares!”.












extraídaderota2014blogspot

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More