ELIANE CANTANHÊDE O ESTADÃO
O êxito (ou
sobrevivência...) do governo Michel Temer depende de um complexo
equilíbrio num tripé, especialmente enquanto o impeachment definitivo de
Dilma Rousseff não vem: opinião pública, Congresso Nacional e o chamado
“mercado”. Quando ele joga excessivamente o peso numa dessas pernas, as
outras duas se ressentem. Quando joga em duas, a terceira ameaça ruir.
Para
não assombrar ainda mais a opinião pública, Temer tem de repetir, dia
sim, dia não, que não quer, não pretende e não pode ameaçar a Lava Jato
e, além disso, precisa gastar lábia e recursos para neutralizar o
discurso de Dilma e do PT de que ele vai enxugar os programas sociais e
acabar com a Bolsa Família.
Foi por isso que Temer anunciou um
reajuste médio de 12,5% no Bolsa Família, pegando carona numa solenidade
de liberação de R$ 742, 8 milhões para a educação básica de Estados e
municípios. É o primeiro reajuste do programa central da era petista em
dois anos, com um porcentual maior, inclusive, do que os 9% que Dilma
prometeu em maio, mas ainda não tinham sido aplicados. Logo, os 12,5%
são mais políticos do que econômicos ou sociais.
Ainda em
sintonia com a “opinião pública”, Temer achou muito mais prudente levar
adiante o aumento salarial do Judiciário e do Ministério Público do que
alegar a imensidão da crise para adiar a medida. Em público, ele
argumenta que Dilma já tinha assumido o compromisso, a tramitação já
estava avançada no Congresso e, afinal, o valor já fora “precificado” no
rombo de R$ 170 bilhões. Em privado, admitiu: é melhor pagar o preço do
que amanhecer com o Judiciário e o MP detonando uma temporada de greves
no serviço público.
Se contemplada a opinião pública, que não
quer nem ouvir falar na volta de Dilma, mas também não morre de amores
por Temer, ele cede em todas no Congresso e não titubeou um minuto antes
de atender à novíssima pressão dos senadores, que ameaçaram não aprovar
a medida provisória que dá fôlego financeiro à Infraero se ele não se
comprometesse a vetar a cláusula que abre 100% das empresas aéreas
brasileiras ao capital estrangeiro. O Senado estava, evidentemente,
atendendo ao lobby do setor, apesar de a Latam ter um pé no Chile e a
Avianca, na Colômbia. E quem é mesmo dono da Azul? Mas o Planalto fechou
os olhos para esses “detalhes” e topou o veto.
É também com um
olho na real crise dos Estados e com o outro na influência dos
governadores em suas bancadas em Brasília que Temer, camarada, abriu mão
de receber boa parte do pagamento da dívida dos Estados que não fizeram
o dever de casa e estão devendo até salário de funcionários,
aposentados e pensionistas. Como se apenas os Estados estivessem
endividados e a União estivesse nadando em dinheiro...
Somando os
R$ 50 bilhões que o governo federal deixará de receber dos Estados
endividados nestes três anos aos R$ 25 bilhões estimados com o aumento
do Judiciário até 2019 e aos R$ 2,1 bilhões ao ano com o reajuste do
Bolsa Família, o resultado é: o governo Temer anda muito perdulário para
quem chora tanto a falta de dinheiro e o tamanho do rombo fiscal. Sem
contar que a prioridade do País é criar emprego para quem não tem, não
aumentar o salário dos que já têm.
É aí que entra a terceira
ponta do tripé. O tal “mercado” dá de ombros para a Lava Jato e para
escândalos e só pensa naquilo: a recomposição da economia brasileira.
Mas, se Temer abre tanto a guarda para agradar a opinião pública e o
Congresso, no que ele conseguirá se distinguir de Dilma na sobriedade
com as contas públicas? Dilma torrou o que tinha e o que não tinha na
eleição de 2014. Temer pode estar torrando a confiança do empresariado
na transição de 2016 – e, com ela, suas chances. A perna do tripé que
mais torce e trabalha pelo sucesso de Temer é justamente o setor
produtivo, no campo e nas cidades.
extraídadeavarandablogspot
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