editorial de O Globo
A frágil realidade da economia brasileira mostra quanto o desequilíbrio
nas contas governamentais contribuiu para a elevação da dívida bruta do
setor público e afetou negativamente as expectativas sobre a
sustentabilidade fiscal e a estabilidade econômica.
Sem alternativa, o governo Michel Temer avançou na proposição de alguma
racionalidade matemática, há muito reivindicada pela sociedade, embora
desprezada pelo governo anterior: imposição de limite ao crescimento das
despesas. O novo regime fiscal sugerido é o da limitação dos gastos à
taxa de inflação do ano anterior. É essencial para uma economia estável.
Nesse contexto, é absolutamente contraditória a concessão de aumentos de
até 41% na folha de pagamentos do Poder Judiciário. Houve aí um triplo
erro político: do governo, que poderia ter vetado em nome da emergência
nas contas nacionais, mas se precipitou e deu sinal verde à sua base
parlamentar; do Congresso, ao aprovar sem as devidas ressalvas e
rejeições após profunda análise; e dos líderes do Judiciário, ao
insistir numa proposta cuja lógica é incompatível com a exaustão de uma
sociedade que já abriga quase 12 milhões de desempregados no setor
formal da economia.
Como disse o próprio Temer, em discurso, “uma das experiências mais
desagradáveis, eu próprio pude ouvir, mas ouvi de muitos, foram de
pessoas que encontraram famílias inteiras desempregadas. Isto lhes dá
uma ausência absoluta de participação na cidadania.”
Não faltavam motivos para comedimento nos Três Poderes na decisão sobre a
matéria. O que aconteceu foi produto da inércia coletiva. E, mais uma
vez, demonstraram que tinha razão o economista americano George Joseph
Stigler, Nobel de Economia em 1982, quando afirmava que o maior déficit
dos governos localiza-se entre as orelhas dos governantes.
Abre-se, porém, uma janela de oportunidade para o Judiciário. Seus
líderes devem reconhecer e promover com urgência mudanças estruturais
nesse poder. É hora de iniciativas reais, concretas, para sintonia com
uma sociedade que exige mais eficiência por cada centavo de impostos que
paga.
Há estudos situando o Judiciário brasileiro entre os mais caros do mundo
(1,2% do Produto Interno Bruto), em comparação com os EUA (0,14% do
PIB), a Itália (0,19% do PIB) e a Alemanha (0,32% do PIB). Sabe-se que
sua folha de pagamentos abriga 410 mil pessoas. As causas da antiga
morosidade são bem conhecidas.
Os diagnósticos estão feitos e já foram suficientemente debatidos. Falta
efetividade de ação, com abandono de antigos vícios corporativos. É
preciso iniciativa dos líderes do Judiciário para conduzi-lo de vez à
modernidade de um país que, por todos os meios, se mostra decidido a
rever e limitar os gastos públicos. É hora de fazer história. Mãos à
obra.
extraídaderota2014blogspot
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