CLÓVIS ROSSI FOLHA DE SP
A pauta é simples: transferir a presidência "pro tempore" para a Venezuela, como determina a ordem alfabética. Tão simples como impossível de ser cumprida: Brasil e Paraguai se opõem frontalmente a que a Venezuela assuma a presidência.
A Argentina dança no muro, mas seu presidente, Mauricio Macri, já insinuou estar pronto para tomar o mando (seria o seguinte presidente, sempre no critério de ordem alfabética).
Como a decisão tem que ser tomada por consenso, só alguma mágica a ser produzida durante a semana que falta para a reunião permitirá desbloquear uma situação que paralisa o bloco.
Não poderia, aliás, haver pior momento para a paralisia. Primeiro, porque finalmente começou a andar a negociação com a União Europeia para um acordo de integração.
Segundo porque os países do bloco, com a exceção da Venezuela, já manifestaram disposição para rever os dispositivos que o conformam, sem que haja clareza sobre o que, exatamente, se pretende fazer.
Passar ou não a presidência para a Venezuela acaba sendo o menor dos problemas.
Problemão mesmo é a própria Venezuela, um Estado falido e, como tal, um companheiro de viagem indesejável.
O ideal seria que seus sócios no Mercosul a ajudassem a sair do buraco, mas, para isso, é indispensável que o governo de Nicolás Maduro se renda a uma constatação do general Juan Domingo Perón, grande frasista, para quem "a realidade é a única verdade".
E a realidade é uma só, goste-se ou não dela: o socialismo do século 21, supostamente praticado na Venezuela, é um fracasso redondo, tal como foi o socialismo do século 20.
Como mostrou na sexta-feira (22) reportagem do sempre competente Samy Adghirni, a Unasul até que está tentando ajudar, negociando um plano de estabilização, que começa, corretamente, pela correção do absurdo sistema cambial.
Não há país no mundo que consiga funcionar quando o câmbio oficial vale dez e o paralelo (o que realmente conta) é cem vezes mais elevado.
O problema com o plano da Unasul é que foram convocados para ajudar economistas dos Estados Unidos e da Espanha que simpatizam com o modelo fracassado.
Logo, é altamente improvável que elaborem propostas que deixem cristalinamente claro que a crise não é decorrência da suposta "guerra econômica", como diz o governo.
É culpa da incompetência de um presidente que diz receber o antecessor na forma de um "pajarito" e de um sistema que o alçou ao poder.
Constata, por exemplo, Andrés Cañizáles (Universidade Católica Andrés Bello): "Aqueles que governaram e endividaram a nação com preços do petróleo acima de US$ 100 dificilmente serão capazes de conduzi-lo de forma bem-sucedida em direção à recuperação com o preço do petróleo por volta de US$ 30. É simples aritmética".
O problema, portanto, não é Venezuela presidir ou não o Mercosul. É um modelo podre dele fazer parte.
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