por Ruy Castro Folha de São Paulo
Já vivi vários golpes de Estado e todos me pegaram de surpresa. Nada
demais nisto, nunca participei de qualquer governo, nem podia saber que
havia um golpe em curso. O incrível é que esses golpes pegaram de
surpresa também os governos que derrubaram. Claro -ou não seriam golpes.
O golpe que vem sendo denunciado pelo governo Dilma é diferente. Dá-se à luz do dia, tramado por 73% da população,
que desaprova o dito governo, sob as barbas do Senado Federal, da
Câmara dos Deputados, de membros do STF, da Procuradoria Geral, do
Ministério Público, da Polícia Federal, da OAB e de outras instituições
da República, que nada fazem para impedi-lo, e obedece a um complexo
ritual de trâmites, todos com data marcada com meses de antecedência.
E, contrariando a natureza dos golpes, em que os golpistas atuam
embuçados e na sombra, neste eles vêm à boca de cena e se identificam
publicamente.
Na terça última (29), inúmeras categorias profissionais ocuparam as
páginas dos jornais dizendo que gostariam de ver a presidente pelas
costas. E se assinaram: fabricantes de sorvete, chocolate, biscoitos,
balas, doces e derivados; plantadores de milho, cana e amendoim e
produtores de óleos e azeites, leite, soja e macarrão.
Sindicatos das indústrias de tintas e vernizes, cerâmicas e olarias,
parafusos, porcas, rebites e similares, de artefatos de metais ferrosos e
não ferrosos, de curtimento de couros e peles e de extração de
mármores, calcários e pedreiras.
Industriais da cerâmica de louça e porcelana, da recauchutagem de pneus e
retífica de motores e do beneficiamento de fibras vegetais e
descaroçamento de algodão. Alfaiates, gráficos, farmacêuticos,
misturadores de adubos, criadores de suínos e controladores de pragas
urbanas. Etc. etc. etc.
Nunca se viu um elenco tão variado de golpistas.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
0 comments:
Postar um comentário