por Ruy Fabiano Com Blog do Noblat - O Globo
De um governo que já derrubou o país - e que tem como única meta não ser
derrubado – não se pode esperar muita coisa. Não se trata apenas de um
governo incapaz, o que não seria uma novidade em nosso espectro
republicano.
A galeria de ex-presidentes está cheia de incapazes. O problema é que
este é, simultaneamente, incapaz e capaz – capaz de tudo. Capaz, por
exemplo, de inventar uma reforma ministerial de fachada, cujo único
propósito é renovar os comensais no banquete do Estado. Lotear cargos é
lotear cofres.
A importância do cargo, na lógica do fisiologismo, mede-se pela dimensão
do cofre. O que se quer saber é se, cortando, sai sangue – isto é,
dinheiro. No fim das contas, fazem-se contas.
O impeachment depende disto: números. O aspecto moral é secundário. Um
governo que se julga inocente defende-se, apressa os julgamentos, não
suporta a dúvida.
Um governo que sabe que não é protela os julgamentos, manobra para não
ser julgado: fatia os processos, troca de juiz, coopta os parlamentares
que o denunciam. É nesse quadro que se insere a “reforma” ministerial. É
nele que se enquadram os sucessivos adiamentos de julgamentos no TCU e
no TSE. E é nele que se entende a aversão à figura do juiz Sérgio Moro.
Ele é um ponto fora da curva, como gosta de dizer o ministro Luiz
Roberto Barroso, do STF, ele próprio um ponto absolutamente dentro da
curva.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foi pego na mentira. Havia dito
que não possuía nenhuma conta no exterior. Apareceu, porém, uma, na
emblemática Suíça, com cinco milhões de dólares, exatamente a quantia
que o delator Júlio Camargo havia dito ter-lhe pago. E agora, renuncia?
Em circunstâncias normais, sim. Mas quem disse que as circunstâncias são
normais?
Se fossem, delações anteriores – e já são seis – que afirmam que a
campanha de Dilma Roussef foi abastecida com dinheiro roubado da
Petrobrás já teriam detonado o governo e convocado novas eleições
presidenciais, pois o vice, Michel Temer, seria arrolado no delito,
mesmo não tendo participado dele.
Diversos governadores e prefeitos já perderam o cargo em situações
semelhantes, havendo, pois, ampla jurisprudência no TSE quanto a esse
tipo de delito. A diferença é a escala do roubo. Isso, no entanto, em
vez de agravar e de apressar a sentença, acaba, pelo contrário,
protelando-a e tornando-a imprevisível.
Que é o delito de Cunha comparado a tudo isso? Numa rapina que, só na
Petrobrás, abarca 19 bilhões de reais, que são cinco milhões de dólares?
Pedro Barusco, o supergerente, devolveu 100 milhões de dólares. E o que
não devolveu? Alguém acredita que ele ficou sem nada? E seus superiores
hierárquicos?
Dilma e Lula, reconheça-se, cumpriram o que prometeram. Dilma disse que
faria “o diabo” para reeleger-se – e fez, como mostram as denúncias dos
delatores da operação Lava-Jato, confirmando o que Lula dissera: “Eles
não sabem do que somos capazes para ganhar uma eleição”. Agora sabemos.
Sabemos, por exemplo, que Lula, ainda na presidência, foi capaz de
vender uma medida provisória, a 471, que estendia a isenção fiscal à
indústria automobilística, numa transação que envolveu o próprio filho e
rendeu 36 milhões de reais de pixulecos – sete vezes o depósito de
Cunha na Suíça - aos intermediários.
Uma pessoa inocente, repita-se, não suporta tantas acusações. Quer logo
esclarecê-las e mostrar sua isenção. Lula, ao contrário, manobra para
não ir à CPI da Petrobrás, à do BNDES, à Justiça Federal. Usa todo o seu
cacife político – e a reforma ministerial desta semana mostra que ainda
dá as cartas – para não ser ouvido. Pouco se lhe dá que o acusem de
corrupto, que um boneco que o mostra vestido de presidiário circule com
êxito o país.
Basta-lhe estar solto, com sua fortuna intacta, fortuna que seu
ex-companheiro de chapa numa eleição de governador, o jurista Hélio
Bicudo, garante ser uma das maiores do país. Vale-se, mesmo não a
conhecendo, de uma lógica aristotélica, segundo a qual “a palavra cão
não morde”. O que morde é a Justiça – e ele cuida de ficar longe dela.
Até aqui, graças a uma oposição frouxa, em que seu líder maior, FHC, não
vê ainda razões para o impeachment – e provavelmente não leu o pedido
subscrito por seu ex-ministro da Justiça, Miguel Real Jr -, os planos de
Lula et caterva vão de vento em popa. O time continua jogando de costas
para a arquibancada (o povo), indiferente às vaias que de lá não cessam
de pipocar.
É uma partida sem povo – e contra o povo -, que só entra em cena como
pano de fundo. O jogo é no tapetão – e até aqui todos, ou quase todos,
são cúmplices.
extraídaderota2014blogspot





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