Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 1 de julho de 2014

Copa do Mundo não aquece a economia conforme propagado pelo governo

#vamosmudarbrasilia

Enquanto algumas cidades-sede que já se despediram do evento lamentando os números abaixo do esperado, o governo maquia balanços e chega a dizer que as obras do "trem-bala" estão "em dia".

Com o início da Copa do Mundo, vieram também a empolgação da população brasileira e elogios ao evento. De fato, do ponto de vista esportivo, o Mundial é sim um sucesso. Para a economia, no entanto, não se pode dizer o mesmo. Embora o governo tenha afirmado que ela seria aquecida com o início da competição, o que se vê são notícias sobre a sua crescente queda.
A indústria de São Paulo, por exemplo, reagiu à crise com a demissão de 96 mil trabalhadores em um ano, e os que ficaram viram seu rendimento diminuir. Os ganhos médios recuaram 2,7% em maio em relação ao mesmo período de 2013. Segundo Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do mercado de trabalho no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação de Getúlio Vargas, a dispensa de trabalhadores só não aconteceu antes porque os empresários de mostravam resistentes a demissões.
“A indústria percebeu que não vale mais a pena ficar segurando trabalhador, porque não vai precisar desse empregado tão cedo. Os empresários estão ajustando a força de trabalho porque o mundo não vai melhorar num horizonte próximo”, explicou Barbosa Filho.
Apesar disso, o número de desempregados diminuiu, mas, segundo ele, não por um motivo bom.
A taxa de desocupação recua devido à migração de pessoas para a inatividade. “A taxa de desocupação está mais baixa por um motivo ruim, porque as pessoas estão saindo do mercado de trabalho, e não porque há geração de postos”, diz Barbosa Filho.
Nem mesmo as empresas de construção civil, sempre tão beneficiadas pelos superfaturamentos do PT, têm se mostrado dispostas a abraçar as oportunidades que surgem no governo. Segundo matéria do Valor Econômico, as grandes empreiteiras estão se afastando do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que possui um orçamento de R$ 10 bilhões por ano para cuidar da malha rodoviária do país.
Uma combinação de fatores, que passa pelo uso intensivo do regime diferenciado de contratações públicas (RDC) e pela defasagem na tabela referencial de preços adotada pelo Dnit em suas licitações, ajuda a explicar o desinteresse das líderes no segmento. Elas também reforçam apostas em concessões na área de logística – rodovias e aeroportos – e em oportunidades no exterior, deixando a autarquia ainda mais de lado.
Isso, claro, afeta a arrecadação de impostos. O governo, inclusive, já diminuiu as suas expectativas para 2014. No início do ano, esperava-se um aumento de 3,5% nas receitas com impostos e outras contribuições. Hoje, esse número caiu para 2%.
O governo federal arrecadou R$ 87,89 bilhões em maio, 5,95% a menos que no mesmo mês do ano passado (já considerando a inflação no período). Foi o pior resultado para maio desde 2011, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (27) pela Receita Federal.(…) O secretário-adjunto da Receita, Luiz Fernando Nunes, afirmou que os maus indicadores da economia – como queda na produção industrial e venda de bens e serviços – foi preponderante para o resultado.
Para esconder os problemas, o governo segue maquiando números e tirando proveito como pode. O trem-bala, cuja inauguração fora prometida para este ano, ainda nem foi licitado, mas, de acordo com o balanço do PAC 2, está “em dia”.
O Trem de Alta Velocidade (TAV) que ligará Campinas a São Paulo e ao Rio de Janeiro – em um trajeto total de 511 km – está orçado em R$ 32 bilhões, mas seu leilão foi adiado pela terceira vez em agosto do ano passado e ainda não tem previsão para ser retomado. Mesmo assim, o Balanço do PAC 2 divulgado hoje considera que o empreendimento está “em dia”, com a continuidade da execução do projeto de engenharia.
Em notícias mais recentes, as cidades-sede que já concluíram a participação na Copa se despendem fazendo um balanço abaixo do esperado para o evento.
“Foi o pior mês em 15 anos. Duas semanas praticamente sem passeio. Porque o torcedor veio ver o jogo, sair para beber e fazer festa”, reclama Luciano Amaral, 48, o “Pepeu do Buggy”, conhecido como “bugueiro da Fifa” após apresentar, em vídeo da entidade, as atrações de Natal. O setor hoteleiro, força da economia local, também não fechou a conta, apesar do aporte de norte-americanos (22 mil), mexicanos (12 a 15 mil) e uruguaios (11 a 12 mil). “Queríamos 80% [de ocupação dos leitos] e chegamos a 70%”, disse Habib Chalita, da associação de hotéis.
Por mais que o governo prometesse o oposto, era de se esperar um esfriamento da economia num evento que gera tantos feriados e pontos facultativos. Mesmo os turistas parecem estar mais dispostos a economizar alguns trocados para os jogos do que conjugar o verbo “turistar”, jogando-se de cabeça em compras e pontos turísticos. Mantega, em pronunciamento recente, disse esperar que a Copa ajude o Brasil a elevar o PIB no segundo semestre. Esse número só deve ser conhecido em agosto, pleno início de campanha. Mas, a se continuar assim, o ministro da fazenda precisará de uma nova desculpa.

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