Mais lenha na fogueira - SUELY CALDAS
Comprovado por números divulgados há dias pelo Banco Central,o agravamento da situação fiscal é mais um indicador a revelar que a economia brasileira vai de mal a pior. Como se não bastassem inflação em alta, dívida pública em expansão, investimentos em queda, Produto Interno Bruto (PIB) medíocre, mega déficit das contas externas e superávit primá- rio abaixo da meta, agora o tombo na arrecadação de impostos em março e no primeiro trimestre é mais lenha na fogueira a alimentar um cenário futuro sombrio e preocupante para a economia - neste ano e no próximo.
Se a presidente Dilma
Rousseff quer mesmo ser reeleita em 2014, como tem demonstrado em suas
aparições públicas, ela precisa urgentemente mudar a política econômica
de seu governo, tentar frear e reverter situações que estão por trás da
piora dos indicadores econômicos.
Depois de 13 anos de
existência, os programas de transferência de renda não são mais novidade
política,incorporaram-se à rotineira vida dos beneficiários e o seu
cacife eleitoral vai enfraquecer em 2014. Até porque o candidato de
oposição vai prometer mantê-los. E a nova classe média, com que Dilma
conta para ser reeleita, deixou a pobreza e agora quer mais: quer
emprego, salário, renda, bem-estar. Emprego e salário resistiram, porém
dão sinais de arrefecimento, perdem força com os dois anos ruins para a
economia.
Mudar a política
econômica implica abolir renúncias fiscais pontuais, que premiam poucas
empresas em detrimento da maioria e subtraem do Orçamento mais de R$ 10
bilhões,que poderiam ter melhor uso. Mudar a política econômica é
restabelecer e fortalecer o tri pé macroeconômico em vigor desde 1999
(metas de inflação,câmbio flutuante e garantia de superávits primá-
rios); é o governo recuar de intervenções na economia que afastam
investidores, como fixar a taxa de lucro do negócio ou congelar o preço
dos combustíveis, o que levou a Petrobrás a triplicar importações; é
preparar licitações para serviços públicos com qualidade e competência,
capazes de atrair investidores de primeira linha; e é, principalmente, o
governo cumprir o seu papel: regular a economia privada, investir na
área social e no que não há interesse privado e zelar, economizar,
cuidar bem do dinheiro do contribuinte e aplicá-lo melhor.
Nesse último item, tem
havido crescente desleixo e exageros que abrem brechas à corrupção e ao
desperdício de dinheiro,atrapalham a gestão pública e, por vezes, criam
verdadeiro caos administrativo. Como tem repetido o presidente da Câmara
de Gestão do Palácio do Planalto, Jorge Gerdau Johannpeter (ao defender
o enxugamento da máquina do governo),"é burrice e loucura" administrar o
País com 39 ministérios.
Antirreforma. Na
contramão de Gerdau, em 2003 o ex-presidente Lula deu seguimento a uma
antirreforma administrativa: em vez de conceber uma estrutura de governo
voltada para organizar,dar racionalidade e operara gestão pública com
eficiência, Lula decidiu usar essa estrutura para a comodar aliados e
buscar o apoio do maior número possível de partidos políticos.Um partido
aliado quer cargo de primeiro escalão? Não há problema, cria-se mais um
ministério. Foi assim que Lula inaugurou um inédito conceito de gestão
pública, segundo o qual o ministro está no governo para rechear os
cofres de seu partido, e não para servir ao País (em 2011 Dilma Rousseff
demitiu alguns). Foi assim que ele multiplicou, inflou a máquina, criou
superposição de funções, gerou o caos administrativo e criou brechas
para a corrupção.
De Fernando Henrique
Cardoso Lula herdou 24 ministérios, e atualmente já são 39, quase o
dobro da média de países da Europa. Há ministros que nunca tiveram uma
única audiência com a presidente Dilma Rousseff e outros que são
completamente desconhecidos dos brasileiros. O leitor sabia que há um
ministério para a Pesca, outro para as Mulheres e mais um para a
Igualdade Racial? Que o titular da Pesca se chama Marcelo Crivella, um
ex cantor gospel, sobrinho do bispo Edir Macedo e amigo de Lula? E,
pior, o ministro não chega sozinho, traz uma legião de assessores,amigos
e correligionários políticos. Por isso a carga tributária no Brasil é
alta, muito acima da média da América Latina.
O brasileiro gasta 35%
de sua renda pagando impostos para sustentar uma máquina administrativa
dispendiosa e que, se reduzida à metade, poderia até funcionar melhor.
Sacrifício. Quando a
receita tributá- ria desaba, como aconteceu neste início de ano, o
governo corre para apagar o incêndio. Essa queda de arrecadação era mais
do que previsível diante do fraco desempenho da economia e das
desonerações fiscais de mais de R$ 10 bilhões previstas para
2013.Porém,como o governo não tem o bom hábito de planejar e só age no
afogadilho do imediato, não incluiu o previsível em sua previsão
orçamentária e, agora, discute cortes nas despesas e um
contingenciamento de até R$ 35 bilhões - aliás, inferior ao de 2012.
Como nos últimos anos, o
sacrifício do corte vai recair sobre os investimentos, e não sobre as
chamadas despesas correntes, que sustentam o cotidiano da máquina,
inclusive o pagamento de salários.
Não importa quem saia
vitorioso na próxima eleição, para governar com competência, ser
seletivo e racional nos gastos, concentrando-os na área social, o
próximo presidente da República precisa chegar com um projeto pronto de
reforma administrativa, que reduza o número de ministérios e de
funcionários. Uma reforma que leve em conta que hospitais e escolas
precisam mais de médicos e professores do que a entourage que cerca
ministros, parlamentares e juízes. Que priorize investimentos - em
saneamento básico, por exemplo - e restrinja as despesas correntes.
Enfim, é necessário que o uso do dinheiro público seja reconhecido e
respeitado pela população, que paga impostos e sustenta o governo.
Depois de dez anos de
desperdícios e exageros do PT no poder, aquele apelo ideológico "lá vem o
neoliberal defender o Estado mínimo" não encontra mais ressonância. O
que o brasileiro comum quer é um Estado forte, que funcione, atenda às
carências sociais da população, regule e fiscalize com rigor a economia
privada e aplique o dinheiro público em benefício da população, não de
partidos políticos.





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