Impotentes x Batalhadores - VINICIUS MOTA
SÃO PAULO - A corrida de multidões para agências da Caixa, em meio ao boato sobre o fim do Bolsa Família, foi um evento exemplar do Brasil contemporâneo, embora um de seus aspectos remonte a antigas discussões sobre psicologia das massas.
O debate entrou na agenda da academia e da política na virada do século 19 para o 20. A urbanização galopava, e as metrópoles europeias tornavam-se aglomerados de populações desenraizadas.
Na multidão, dizia-se, diluem-se a identidade e o autogoverno do indivíduo, que passa a agir por impulso e imitação. Suscetíveis, as massas devem ser diligentemente manipuladas pela elite da nação.
Lideranças fascistas lambuzaram-se nesse melado. Investiram no carisma hipnotizador do Führer e na propagação metódica das mentiras que lhes interessavam.
Para espalhar boatos e calúnias, não dispunham de acesso telefônico instantâneo a dezenas de milhões de pessoas. Agora, a tecnologia está à mão. Mesmo que não tenha havido ação orquestrada no caso da Caixa, ficou evidente o potencial dessa ferramenta chamada telefone celular.
Também ressalta no episódio o grau de dependência de largas fatias da população em relação ao governo federal. Será que mamãe Dilma vai cortar a mesada? Melhor correr e raspar a conta já.
Resplandece a ética do impotente, de quem espera do governo remédio para seus problemas. De quem encara como dádiva a migalhice recebida dos políticos na assistência, na saúde e na educação.
Mas esse é apenas um polo dos arquétipos em conflito na sociedade brasileira. O outro é o dos batalhadores. De quem acredita que a recompensa individual diferenciada deve decorrer do esforço diferenciado. De quem exige dos governos o retorno eficiente dos impostos que paga.
Batalhadores e impotentes vão bater chapa no ano que vem, na disputa mais profunda pelo poder federal.
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