REINALDO AZEVEDO
O que os defensores da legalização das drogas insistem em não aprender com a política de combate ao tabagismo. E por que não aprendem?
A VEJA.com publica uma reportagem sobre
uma pesquisa que sustenta que, entre 1989 e 2010, um terço dos fumantes
brasileiros abandonou o cigarro em razão da proibição da publicidade e
dos avisos estampados nos maços alertando para os malefícios do produto.
O texto não informa, mas creio que a proibição de fumar em locais
públicos fechados também tem peso importante. Sendo mesmo esses os
números, uma parcela importante de brasileiros foi beneficiada pela
obstinação de José Serra, ex-ministro da Saúde, que lutou pela causa.
Quando governador de São Paulo, deu largada ao que se tornou, mais
tarde, lei federal: a proibição do cigarro em locais públicos fechados. O
texto informa ainda que 92% dos não fumantes e 89% dos fumantes
entrevistados acham que o governo federal deveria fazer ainda mais para
combater o cigarro. Batizado de relatório da Política Internacional do
Controle do Tabaco (ITC), o trabalho é fruto de uma parceria entre a
Universidade de Waterloo, no Canadá, o Ministério da Saúde, o Instituto
Nacional de Câncer (Inca), a Secretaria Nacional de Políticas sobre
Drogas (Senad), a Fundação do Câncer, a Aliança de Controle do Tabagismo
(ACTbr), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Centro de Estudos sobre
Tabaco e Saúde (Cetab). O que esses dados nos ensinam sobre a política
de combate às drogas e o que os defensores da legalização se negam a
aprender?
Dia desses
li um texto realmente estupefaciente, daqueles redigidos com as patas
dianteiras, enquanto as traseiras tentavam alçar voos teóricos. Segundo o
pensador, a evidência mais clara de que as drogas deveriam ser
descriminadas (na verdade, ele pedia, de forma oblíqua, a legalização)
era justamente a queda do número de fumantes. O rapaz enxergava no
combate oficial ao tabaco uma variação da famigerada, mal compreendida,
mal aplicada e superestimada “política de redução de danos”. Ora… A
política de redução de danos supõe, necessariamente, que possa haver
doses controláveis e prudentes — e, pois, menos danosas — para o consumo
de determinadas substâncias. Em casos excepcionais, aposta que uma
droga mais nociva possa ser substituída por outra, menos. Perguntem ao
médico Dráuzio Varela — que luta ardentemente contra o tabagismo, mas,
de maneira terrivelmente equivocada, defende a descriminação das drogas —
qual é a dose segura de tabaco…
Tudo
errado! O que o combate ao tabagismo ensina é que o consumo de uma
determinada droga — legal ou ilegal — cai quando as pessoas,
especialmente os adolescentes, são menos expostos a ela. E simples
assim. O que diminuiu — e esta é a evidência dos fatos — foi a exposição
dos brasileiros ao tabaco. Os que defendem a descriminação ou a
legalização das drogas querem fazer justamente o contrário: se e quando
portar drogas, ainda que para consumo, deixar de ser crime (que não leva
à cadeia, diga-se), é evidente que mais gente circulará com as
substâncias entorpecentes no bolso e que um maior número de pessoas
ficará exposto a elas. Não só isso: alguns aloprados querem estabelecer
um mínimo para caracterizar o tráfico. O deputado petista Paulo Teixeira
(SP) acha que droga para até dez dias de consumo não é tráfico. Outros
falam abertamente em não punir os “pequenos traficantes”.
Então
vejam que país notável estamos construindo. O Brasil obtém inegável
sucesso numa política que cria severas restrições ao consumo de
substâncias legais, mas alguns descolados insistem em criar facilidades
que vão certamente aumentar o consumo de drogas… ilegais!!!
Não sei
por quê, mas tenho cá minhas hipóteses, os defensores da legalização das
drogas, particularmente da maconha, não se dão bem com a lógica. Alguns
deles, afetando interesse puramente intelectual na questão, insistem em
pegar esses números sobre o cigarro e defender a “mesma política” para a
cannabis: “Ora, basta legalizar e depois fazer campanha contra, como no
cigarro”. Tá. Se vale para a maconha, por que não para as outras
substâncias? Ou a tese está certa, ou a tese está errada. O que querem
esses fanáticos, então, é, primeiro, aumentar brutalmente a exposição
dos brasileiros às drogas hoje proibidas para, depois, tentar combater o
consumo. De resto, a propaganda contra as drogas independe de elas
serem legais ou não, certo?
PS – Sim,
acho que o tabaco deveria ser permitido em bares que contassem com a
devida advertência. Não mudei de ideia sobre isso. A razão é simples: se
a substância é legal, o estado não pode impedir o seu consumo desde que
todos os frequentadores de um ambiente estejam de acordo. “Por que não
vale para a maconha?” Porque é ilegal. E eu defendo que assim permaneça,
por razões que já expus em dezenas, centena talvez, de textos.
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