No entanto, o que ocorreu anteontem no Alemão, quando traficantes promoveram um tiroteio antes do início de uma corrida, difere-se desses outros acontecimentos. Foi algo bem mais grave o que aconteceu, não só por ter provocado pânico entre as pessoas que ali estavam presentes para participar de uma festa. Deu-se um ato de provocação dentro de um evento em que a comunidade e representantes do governo - entre os quais o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame - comemorariam mais um ano do resgate, para a cidadania, de uma região que vivera a violência do domínio dos traficantes.
O Complexo do Alemão é um marco no programa de UPPs. Sua retomada
foi uma resposta firme, precisa e oportuna à onda de terrorismo com a
qual o tráfico no Rio procurou emparedar o poder público em 2010. O
resgate daquela extensa área sob domínio do crime organizado ainda não
estava, naquele momento, na agenda do governo. Mas, em face da gravidade
da situação, antecipou-se a invasão do bunker da quadrilha lá
encastelada. O sucesso das ações fez da operação um modelo para novos
resgates de comunidades subjugadas, graças ao apoio efetivo da União,
por meio das Forças Armadas e Polícia Federal. Afrontas como a de
anteontem, portanto, têm um significado mais preocupante e não podem ser
entendidas como simples escaramuças promovidas por bandidos em
desespero. Houve, neste caso, o propósito claro de desacatar o Estado,
ressuscitar a sensação de insegurança que a comunidade viveu por muito
tempo (interrompida com a pacificação da área) e fazer passar a
enganadora impressão de que o tráfico tem condições de ali voltar a dar
as cartas.
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