Ciência de menos - EDITORIAL FOLHA DE SP
MEC prepara programa mais ambicioso para formar professores de matemática e exatas e interromper círculo vicioso da mediocridade
A situação do ensino de ciências no Brasil é tão calamitosa que qualquer iniciativa do governo federal para revertê-la seria bem-vinda, só por existir. Um programa em preparo pelo Ministério da Educação vem interromper, em boa hora, a inércia que tem condenado nossos jovens à mediocridade científica.
Não é de hoje que esse setor da educação básica vive em crise. Faltam não só bons professores --há carência até dos menos preparados. Sem aulas de matemática, física, biologia e química, decentes ou não, os estudantes se desinteressam e aprendem pouco. Raros deles consideram seguir a carreira docente, menos ainda nessas áreas, o que realimenta o preconceito geral contra a ciência.
Várias medidas estão em consideração, de bolsas de estudo para alunos do ensino médio que se interessem por ensinar tais disciplinas a aulas de reforço para universitários que já estejam nos cursos de licenciatura dessas áreas.
Mais controversa se mostrou a proposta de uma pós-graduação em prática de ensino para os já licenciados. Não pela orientação do curso -com efeito, é de ferramentas pedagógicas e não de teorias de aprendizagem que os docentes brasileiros carecem-, mas pela ideia de vincular a concessão do diploma ao desempenho dos alunos na matéria que o pós-graduando lecionar na rede pública.
Há que debater mais essa vinculação. É difícil medir o progresso de alunos atribuível ao desempenho de um único professor; além disso, soa excessivo cobrar dele resultados antes mesmo de concluído o curso de aperfeiçoamento.
Alguma coisa, por certo, é urgente fazer. O resultado da negligência até aqui observada -que não é só do governo, mas de toda a sociedade- se encontra visível nas estatísticas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), baseadas em exames padronizados que se aplicam em dezenas de países e classificam os alunos em seis níveis de proficiência.
Em 2009, última prova de ciências do Pisa, o Brasil ficou em 53º lugar entre 65 nações. Apesar de alguma melhora, 83% de nossos alunos param no nível dois, provando-se incapazes de formular explicações e tirar conclusões de pesquisas que não sejam triviais.
É preciso muito mais que isso para construir e desenvolver um país.
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