Jornalista Andrade Junior

sábado, 15 de março de 2025

“A Mentalidade Anticapitalista”, de Ludwig von Mises

 KAROLINE SOUZA/INSTITUTOLIBERAL


Ao longo da história, poucos sistemas econômicos proporcionaram uma melhora tão expressiva na qualidade de vida da humanidade como o capitalismo. Apesar de suas falhas e imperfeições, é inegável que o período capitalista trouxe avanços significativos em áreas cruciais, como saúde, alimentação e expectativa de vida. Esses progressos são especialmente notáveis quando comparados aos períodos anteriores, marcados por sistemas econômicos rudimentares e ineficientes, em que a maioria da população vivia na pobreza extrema, sujeita a condições precárias de sobrevivência.


Mesmo em comparação com sistemas contemporâneos ao capitalismo, como o socialismo, as diferenças são gritantes. Países que adotaram o socialismo como modelo econômico falharam em alcançar resultados comparáveis aos obtidos pelas nações capitalistas, tanto em termos econômicos quanto sociais. A frase do economista e filósofo austríaco Friedrich Hayek, “se os socialistas entendessem de economia, não seriam socialistas”, sintetiza bem esse contraste, apontando para as deficiências inerentes ao planejamento centralizado e à negação da dinâmica de mercado.


Ainda assim, em uma era de informação instantânea e acessível, o capitalismo continua a ser alvo de críticas e ataques. Por que isso ocorre? Por que, mesmo sendo responsável por avanços tão evidentes, o capitalismo é frequentemente retratado como um sistema opressor e explorador? Essas questões foram abordadas de maneira clara e objetiva por Ludwig von Mises em sua obra A Mentalidade Anticapitalista. Apesar de ter sido escrita há décadas, a análise de Mises permanece extremamente relevante, especialmente em momentos de transição política e econômica como os que vivemos atualmente.


A obra é organizada em cinco capítulos que exploram os principais argumentos contrários ao capitalismo, analisando suas origens e desconstruindo suas falácias.


No primeiro capítulo, intitulado “As Características Sociais do Capitalismo e as Causas Psicológicas de seu Descrédito”, Mises apresenta o conceito de “consumidor soberano”. Esse é um dos pilares do sistema capitalista: a ideia de que o mercado responde às necessidades e preferências dos consumidores e não a interesses específicos de grupos ou indivíduos. Em outras palavras, o poder está nas mãos das pessoas comuns, que decidem o destino das empresas e dos produtos com base em suas escolhas de consumo.


Essa dinâmica gera mobilidade social, um aspecto central do capitalismo. No entanto, essa mesma mobilidade frequentemente provoca ressentimento em determinados grupos. A inveja social surge quando indivíduos percebem que o sucesso no capitalismo não está necessariamente atrelado ao status ou à intelectualidade, mas sim à capacidade de atender às demandas do mercado. Um exemplo clássico disso é o contraste frequentemente apontado entre os altos salários de jogadores de futebol e os ganhos mais modestos de professores. Essa percepção alimenta críticas que, muitas vezes, têm como base o ressentimento e não uma análise objetiva do sistema.


Mises destaca o papel dos intelectuais nesse contexto. Muitos criticam o capitalismo por não recompensar adequadamente as capacidades intelectuais enquanto celebram profissões consideradas mais práticas ou populares. Essa desconexão entre o status intelectual e o sucesso econômico é uma fonte recorrente de insatisfação e, consequentemente, de argumentos anticapitalistas.


No segundo capítulo, “A Filosofia do Homem Comum”, Mises aborda como o progresso tecnológico é percebido pela sociedade. Muitos enxergam os avanços como uma consequência inevitável do desenvolvimento científico, ignorando o papel crucial do capitalismo em viabilizar tais inovações. A estrutura de mercado, com sua capacidade de alocar recursos de maneira eficiente, é o que permite que tecnologias sejam desenvolvidas, aprimoradas e disseminadas.


Como bem destaca Mises, sob a visão de professores, líderes trabalhistas e políticos, a pior exploração é efetuada pelos grandes negócios, setor que “[…] raspa tudo e deixa, como indicava o Manifesto do Partido Comunista, ao criador de todas as coisas boas apenas ‘o de que ele necessita para o seu sustento e para propagação de sua roça’”. É válido lembrar que uma das principais críticas de Marx sobre o trabalho no sistema capitalista consiste no argumento de que o trabalhador não possui aquilo que produz. O produto pertence ao capitalista, que o vende para obter lucro.


Contudo, essa visão simplista faz com que grande parte da população desconsidere os benefícios do capitalismo e seja mais suscetível a argumentos populistas e moralistas, frequentemente empregados por líderes carismáticos. Nesse contexto, o desconhecimento das bases econômicas que sustentam os altos níveis de desenvolvimento humano em países capitalistas contribui para a perpetuação de mitos e falácias sobre o sistema. Em momentos de crise, a desinformação pode levar a retrocessos, como o apoio a regimes autoritários que prometem soluções simplistas para problemas complexos, mas que acabam comprometendo o crescimento econômico e o bem-estar social.


O terceiro capítulo, “A Literatura sob o Capitalismo”, explora a relação entre a produção cultural e a visão negativa do capitalismo. Mises aponta que a classe artística e literária frequentemente retrata o sistema de maneira caricatural, apresentando empresários e capitalistas como vilões gananciosos e exploradores. Esse estereótipo é amplamente difundido por obras de ficção, como novelas, filmes e romances, que moldam a percepção pública de maneira enviesada.


Na realidade, os empresários desempenham um papel fundamental no funcionamento do capitalismo, criando empregos, gerando riqueza e atendendo às demandas dos consumidores. No entanto, a narrativa predominante na mídia muitas vezes ignora esses aspectos positivos, focando apenas nos casos de abusos ou excessos. Essa visão distorcida contribui para a desconfiança generalizada em relação ao sistema e para o fortalecimento de discursos contrários ao capitalismo.


Nesse capítulo, Mises também destaca que a imprensa livre só existe onde o controle dos meios de produção é privado. Curiosamente, um artigo publicado na revista VEJA em 13 novembro de 2024 destaca que, entre os anos de 2023 e 2024, a Rede Globo recebeu 177,2 milhões de reais em publicidade do governo federal por meio da Secretaria de Comunicação (Secom). Assim, mesmo em se tratando de uma mídia privada, a imparcialidade e a liberdade de imprensa são claramente comprometidas com a distribuição de verbas publicitárias estatais.


No quarto capítulo, “As Objeções não Econômicas ao Capitalismo”, Mises, por sua vez, examina como os argumentos anticapitalistas frequentemente se baseiam em premissas morais e subjetivas em vez de dados concretos e análises econômicas. Conceitos como felicidade, materialismo e liberdade são frequentemente utilizados de forma vaga para criticar o sistema sem que sejam apresentadas alternativas viáveis ou melhores.


Essa estratégia é especialmente comum em discursos políticos populistas, que apelam às emoções e ao senso de justiça social para justificar políticas intervencionistas. Ao desconsiderar os princípios econômicos fundamentais, esses argumentos acabam resultando em medidas que prejudicam o crescimento e a geração de riqueza, perpetuando os problemas que pretendiam resolver.


No capítulo final, “Anticomunismo Versus Capitalismo”, Mises reforça a necessidade de compreender e combater a mentalidade anticapitalista. Ele argumenta que, embora as críticas ao sistema muitas vezes sejam infundadas ou baseadas em premissas equivocadas, elas têm uma base ideológica sólida que não pode ser ignorada. Para combater essas ideias de maneira eficaz, é fundamental entendê-las em profundidade e demonstrar, com argumentos racionais e dados concretos, as vantagens do capitalismo em relação a outros sistemas.


A principal lição da obra é a valorização da ciência econômica como ferramenta indispensável para a compreensão e solução dos problemas sociais. Ignorar os princípios econômicos em prol de argumentos moralistas ou ideológicos é um erro que pode custar caro, especialmente em contextos de instabilidade política e econômica.


A obra é mais do que uma defesa do capitalismo; é um convite à reflexão crítica e ao estudo aprofundado da economia. Mises nos lembra que o progresso e a prosperidade não são garantidos, mas resultam de um sistema que incentiva a inovação, a liberdade individual e a busca por melhores soluções para as necessidades humanas.


*Karoline Souza é associada II do Instituto Líderes do Amanhã.











PUBLICADAEMhttps://www.institutoliberal.org.br/resenhas/a-mentalidade-anticapitalista-de-ludwig-von-mises/

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