Eduardo Oinegue, O Globo
Só quem tem 76 anos ou mais sabe o que é eleição presidencial sem Lula.
Entre os 147 milhões de eleitores registrados no cadastro eleitoral,
apenas sete milhões de pessoas pertencem a esta faixa etária. Tinham ao
menos 18 anos para votar em 1960, ano em que se disputou no Brasil a
última eleição direta para presidente antes do regime militar. Após a
redemocratização, lá estava ele na corrida de 1989 ao Palácio do
Planalto. Naquela e em todas as outras que se seguiram. Participou
pessoalmente em cinco, duas por intermédio de Dilma. O placar, a seu
favor, está assim: quatro vitórias e três derrotas.
Para os demais 140 milhões de eleitores, mesmo os que votarão pela
primeira vez em 2018, eleição presidencial e Lula pareciam inseparáveis,
feito arroz e feijão. Só que veio a Operação Lava-Jato, vieram os
inquéritos, as denúncias, as ações penais — e veio a primeira
condenação, seguida da decisão colegiada do Tribunal Regional Federal da
4ª Região, que tornou o ex-presidente inelegível por força da Lei da
Ficha Limpa.
Com a sessão do Tribunal Superior Eleitoral, finalizada na madrugada de
sexta-feira para sábado, encerraram-se as discussões sobre a candidatura
Lula. Eventuais embargos interpostos por sua defesa nos próximos dias
não mudarão a realidade. A reunião agendada para hoje entre Fernando
Haddad e o ex-presidente na carceragem da Polícia Federal em Curitiba
tampouco alterará a situação jurídica de Lula. O momento chegou: ou o PT
troca o cabeça de chapa ou estará fora da eleição. Simples assim.
As lideranças petistas sempre souberam que o momento chegaria. Por mais
que tenham proferido discursos empolgados à militância, nunca se
iludiram com as chances na Justiça.
Ou será por acaso que bolaram uma campanha de marketing dando a Haddad
uma visibilidade inédita para quem seria apenas vice? Lula também tinha
clareza de que mais dia menos dia seria preso, e que lá ficaria por um
bom tempo. Ou será também por acaso que tenha deixado um farto material
gravado em áudio e em vídeo? Há falas suas apoiando candidatos a
governador, recomendando votos nos candidatos ao Congresso Nacional, às
Assembleias estaduais e falando bem do “vice” Fernando Haddad. Tudo
estudado, tudo programado. Se acreditasse no desfecho positivo da
campanha “Lula Livre”, deixaria as gravações para quando saísse da
cadeia. Como a cúpula partidária prometeu não deixar Lula na chuva, o
desafio agora é anunciar a substituição sem dar aos admiradores do
ex-presidente a impressão de que foi abandonado.
Esse é o desafio do PT, que seguirá seu caminho. Resta o desafio pessoal
de Lula. A não ser que seus advogados consigam tirar um coelho da
cartola quando recorrerem ao STF, a matemática penal que recai sobre
Lula é dramática. Pela legislação, um condenado só pode disputar
eleições oito anos depois de encerrado o cumprimento da pena que lhe foi
imposta. A pena imposta a Lula pelo TRF4 foi de 12 anos. Doze anos mais
oito anos dá 20 anos. Até 2038, portanto, quando terá 93 anos, Lula não
poderá disputar eleições. Ficará fora da corrida de 2018, e das 6
seguintes.
extraídaderota2014blogspot
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