por Jorge Maranhão O Globo
Estes
supremos contorcionistas não percebem que as ruas exigem eficiência da
Justiça? Que não vão mais admitir heterodoxas exegeses contra a Operação
Lava-Jato?
Circula nas redes um desabafo bem-humorado de um cidadão anônimo sobre a
suprema farsa da sessão do último dia 22, em que o STF decidiu pelo não
julgamento do habeas corpus do condenado-mor da corrupção nacional.
Aliás, por apreço ao ato falho, grande parte da pantomima foi encenada
em torno do debate sobre o conceito de teratologia, mais para enfeitar o
pavão do juridiquês do que para livrar da “decisão monstruosa que
contraria a lógica, o bom senso e a moral”, como definem os dicionários.
Depois de incansáveis circunlóquios, e da paradoxal decisão, o que
conseguiram foi um verdadeiro tiro no pé: adiaram a data do julgamento
porque uma de suas excelências tinha um compromisso de caráter privado
em outra cidade, como se o dever público para com a prestação
jurisdicional, pela qual é pago, não fosse prioridade.
Pois sua impostura, confirmada pela maioria, veio bem a calhar, uma vez
que milhões de cidadãos de bem deste país, ultrajados por tamanha
desfaçatez, tiveram mais tempo de mobilização para as manifestações
contra mais esta burla de nossos altos governantes e magistrados!
Hoje, os cidadãos conscientes deste país irão às ruas pressionar para
que o Supremo jeitinho acorde e largue de vez esta mentalidade
encharcada de ironias, ambiguidades, eufemismos e outras figuras
retóricas de seu tortuoso pensar barroquista. Além de condutas plenas de
exibicionismo, falta de compromisso para com a razoabilidade, a
efetividade e a resolubilidade que se deve exigir da ação pública.
Trata-se de um total escárnio para com a dignidade e o respeito que
devem ao cidadão brasileiro pagador de suas privilegiaturas! Pois é
farsa alegar o valor corrompido da liberdade de um condenado que violou a
liberdade de milhões de cidadãos brasileiros pela destruição de seus
empregos.
Será que estes supremos contorcionistas não estão a perceber que as ruas
exigem eficiência da Justiça? Que não vão mais admitir as heterodoxas
exegeses em que têm se contorcido contra a Operação Lava-Jato?
Com a exceção de quatro ministros que tentaram em vão apelar para a
responsabilidade cívica, política e histórica da maioria, o relator,
ministro Fachin, a presidente Cármen Lúcia, e os ministros Barroso e
Fux, o que vimos é exatamente o descrito no meme que circula nas redes:
“O STF reuniu-se para decidir. Mas decidiu que, antes, precisava decidir
se podia decidir. Decidiu que podia. Mas decidiu não decidir, mesmo
podendo decidir. Decidiu que vai decidir noutro dia. Mesmo assim decidiu
que TRF-4 não pode decidir pela prisão antes dele decidir o que ia
decidir e não decidiu!”
Supremo barroquismo! Supremo jeitinho! Suprema vergonha!
Jorge Maranhão é diretor do Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão
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