por Zuenir Ventura O Globo
À maneira das telenovelas. No capítulo anterior, um dos personagens
alegou que precisava se ausentar, os outros estavam cansados, e a
diretora do espetáculo não teve alternativa senão suspender a sessão,
que já durava cinco horas, e transferir para hoje o suspense de um
desfecho que nem se sabe se haverá.
Agora, falando sério, trata-se do julgamento do habeas corpus que tenta
evitar a prisão do ex-presidente Lula depois da decisão do TRF-4. A
expectativa é grande, e há disputa até de abaixo-assinados. Anteontem,
dois deles foram protocolados no Supremo. Um, com mais de cinco mil
assinaturas de juízes e promotores, é a favor da prisão de condenados em
segunda instância. O outro, com cerca de três mil apoios de advogados,
inclusive de Lula, é contra.
Também no STF, os ministros estão divididos. Especula-se que cinco deles
defendem o princípio do “trânsito em julgado”, que permite ao réu
esgotar todos os recursos antes de cumprir pena. Os outros cinco
estariam adotando posição contrária.
Diante do possível impasse, as atenções se voltam para o voto de Rosa
Weber, que está sendo considerado decisivo, mas também incerto. Ela é
contra a execução provisória de pena, mas tem respeitado o que vem
prevalecendo nas resoluções do STF desde 2016:
permitir a prisão mesmo cabendo recursos a instâncias superiores. Porém,
algumas de suas declarações recentes fazem supor que ela também está
sendo assaltada por dúvidas.
Um dos signatários do “manifesto dos cinco mil”, o procurador da
Lava-Jato em Curitiba Deltan Dallagnol advertiu nas redes sociais que
“uma derrota significará que corruptos de diferentes partidos, por todo o
país, jamais serão responsabilizados. O cenário não é bom.
Estarei em jejum, orando e torcendo pelo país”.
A preocupação não é infundada. Os candidatos à impunidade estão vibrando
com razão. Se alguém desconfia, basta lembrar, entre muitos, o caso de
Luiz Estevão. Condenado em 1992 por desviar R$ 169 milhões de uma obra, o
ex-senador passou 24 anos livre graças a mais de 30 recursos aos
tribunais superiores. Só em 2016, quando saiu o trânsito em julgado, o
ex-parlamentar foi, enfim, preso.
Há uma dúvida especial, importante, que é a de quem não está
familiarizado com as tecnicalidades jurídicas: como terminará essa
novela de trama tão intrincada? O protagonista sairá mais perto da
cadeia ou, como esperam seus seguidores, mais próximo do palácio? Aos
que me fazem na rua essa pergunta, respondo: “Se souber, me conta porque
eu também não sei”. Aliás, estou aceitando palpites.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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