Ascâmio Seleme, O Globo
Foi mais um embate entre os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar
Mendes. Barroso foi muito melhor e Lula perdeu seu habeas corpus e
poderá ser preso a qualquer momento. O voto de Barroso foi decisivo na
votação. De uma clareza acima do comum, o ministro mostrou aos demais
juízes, e a coerente Rosa Weber em particular, que voltar ao estado
anterior, que impedia a prisão após a segunda instância, representaria a
volta ao estado da impunidade permanente. “Não prendemos os verdadeiros
bandidos no Brasil”, disse Barroso. “Prendemos apenas meninos pobres”.
Vale a pena ler na íntegra o voto de Barroso. Como vale ler o de Gilmar,
que mudou de posição sobre a questão menos de uma ano e meio depois de
decidir em sentido contrário.
Enquanto Barroso elencou os danos que a posição anterior causava ao
sistema judicial brasileiro, gerando impunidade calçada sobre os
inúmeros procedimentos procrastinatórios de sentenças, Gilmar acusou o
que chamou de “onda de neopunitivismo” que precisa ser estancada.
De acordo com Gilmar, a decisão que tomava não alvejava ninguém. “Não
sei se eram pretas, não sei se eram putas”, exemplificou o ministro.
Barroso disse que sabia, sim, a quem a decisão de ontem beneficiaria. A
Lula, disse Barroso e a todos os corruptos brasileiros. O que se criou
no passado, quando a prisão depois da segunda instância foi derrubada
pelo STF em 2009, foi “um país de ricos delinquentes”, disse o ministro.
Não há como não concordar com Barroso e discordar de Gilmar. Barroso
disse que no Brasil o que se tem não é uma sensação de impunidade, mas
sim a própria impunidade. Acrescentou que por isso o sistema judicial
brasileiros é desacreditado pela sociedade. E que é preciso resgatá-lo. E
a manutenção da prisão em segunda instância, restaurada em 2016, é o
caminho mais curto para alcançar este objetivo.
Gilmar, demonstrando irritação, afirmou que enquanto o STF não julgar
mais uma vez, a terceira, a prisão depois de sentença em segunda
instância, não se pode determinar a prisão do “paciente”, no caso Lula.
Mas como Gilmar jurou não se importar com a identidade do impetrante,
depreende-se que seu entendimento era pela soltura imediata de todos os
encarcerados sem aprovação do STJ e do STF. Uma onda impunitivista faria
fila no Supremo.
Na véspera, em Portugal, Gilmar disse que “é muito ruim para o país ter
um ex-presidente preso”. Por ironia, Portugal teve um
ex-primeiro-ministro preso, e adivinhe por quê? José Sócrates, do
Partido Socialista Português, foi condenado e preso por corrupção e
lavagem de dinheiro, entre outros crimes que envolviam bancos,
telefônicas, dinheiro público e vantagens pessoais para o mandatário.
Ninguém achou ruim a prisão do corrupto em Portugal. A não ser seus
amigos, familiares e aliados.
Lula vai ser preso. As pretas, as putas e os meninos pobres agradecem.
extraídaderota2014blogspot
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