por Igor Gielow Folha de São Paulo
As reviravoltas que acompanham a política brasileira de forma mais intensa desde os protestos de junho de 2013 criaram situações antes impensáveis.
Ninguém em sã consciência, digamos há uns dois anos, diria que o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) estaria agora na cadeira que já foi do então todo-poderoso Eduardo Cunha. E não só estar, mas ser reeleito com maioria e mandato para tentar tocar reformas polêmicas de temas sensíveis, como a Previdência.
A cortesia maior à montanha-russa foi dada pela Operação Lava Jato. Sem ela, Cunha não estaria em uma cela em Curitiba. Somada a outros fatores, foi central para que Dilma Rousseff esteja em Porto Alegre enquanto Michel Temer tenta fazer avançar seu programa no Planalto.
A manutenção do comando do Senado pelo PMDB obedece, por sua vez, uma lógica mais conservadora. Renan Calheiros (PMDB-AL), antecessor de Eunício Oliveira (PMDB-CE), logrou suportar à pressão da Lava Jato e permaneceu no cargo, mesmo enroladíssimo. O novo presidente da Casa segue seus passos, acusado por delatores.
Mas o Senado, a "Casa da Federação" como os antigos diriam, é um reino de compadrios e confabulações, como o fatiamento do impeachment de Dilma e o apoio tácito do PT àqueles que em público o partido chama de golpista demonstram. Esta é a regra, com notórias exceções como as brigas protagonizadas pelo lendário Antonio Carlos Magalhães.
Em condições normais de temperatura e pressão, o novo arranjo no Congresso seria uma baita notícia para o Planalto. Afinal, mesmo temas complexos têm maior chance de apreciação com a maioria arregimentada, e há uma boa possibilidade que o acerto funcione bem para o governo Temer –como já vinha funcionando.
Isso dito, há a Lava Jato, que instaura um grande senso de impermanência a tudo que foi acordado. A operação promoverá um tsunami assim que as delações da Odebrecht e outras atingirem o oceano onde boiam os políticos, quase todos eles, a começar pelo PMDB de Temer.
Salvo algum grande acordão que hoje parece difícil, a Lava Jato prosseguirá como a protagonista da política brasileira. Se fará sua grande colheita antes do pleito de 2018, esta é uma questão que fica.
Por ora, é preciso ficar atento para manobras parlamentares visando anistia a caixa dois cometido em eleições passadas. Enterrada por pressão da opinião pública no fim de 2016, essa ainda é a grande esperança dos políticos implicados nas investigações, e nunca é bom duvidar da capacidade de parlamentares de tentar salvar a própria pele.
extraídaderota2014blogspot
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