Manifesto
da cidadania democrática e integracionista das irmãs Repúblicas do
Paraguai e Uruguai, aos povos e Governos dos países que inspiraram o
MERCOSUL, e à opinião pública regional, continental e mundial
A esperança da integração democrática de nossas nações e Estados, pensada como um instrumento institucional de políticas públicas, para melhorar a qualidade de vida e fortalecer as instituições da sociedade aberta da região, que nasceu em Assunção do Paraguai em 26 de março de 1991, quando os presidentes democráticos da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram o Tratado constitutivo do MERCOSUL, morreu definitivamente hoje, 31 de julho de 2012.
Neste
fatídico dia, em aberta violação dos valores e normas legítimas e
legais do processo integracionista desta parte das Américas, os governos
da Argentina, Brasil e Uruguai, traindo o histórico mandato recebido de
seus povos, acabam de aperfeiçoar a perpetração do crime de
lesa-democracia e integração, ao impor sua vontade pela força.
Esmagaram
assim o direito internacional dos tratados e dos direitos fundamentais
do ser humano, ao permitir o ingresso ilegal e ilegítimo da República
Bolivariana da Venezuela ao MERCOSUL, submetida a um regime de natureza
totalitária o que, como tal, não vacilaria em intervir nos assuntos
internos da República Livre, Soberana e Independente do Paraguai,
abrindo com isso inclusive a possibilidade de uma guerra civil que, se
houvesse ocorrido, teria ensangüentado a pátria paraguaia, talvez muito
mais do que o experimentado em Curuguaty em 15 de junho último.
Isto
foi impedido pelo julgamento político-constitucional ao então
presidente Fernando Lugo, que foi destituído pelo Congresso da Nação
paraguaia com o respaldo da absoluta maioria de seus integrantes,
decisão política que foi respaldada pela quase totalidade da cidadania
paraguaia, como o demonstram os acontecimentos ocorridos desde então.
Em
razão de tudo isto, cidadãos do Uruguai e Paraguai, irmanados em suas
convicções democráticas e integracionistas, desde Assunção e Montevidéu,
e interpretando também o sentimento de grande parte dos povos da
Argentina e Brasil, em salvaguarda dos ideais e institucionalidade do
MERCOSUL, refugiados hoje na República do Paraguai, expressamos nosso
mais profundo rechaço à violação do Tratado de Assunção que acaba de se
consumar com o ingresso irregular, arbitrário e prepotente da Venezuela
ao processo integracionista, que é contrário ao direito internacional e
da integração ao carecer da aprovação do Parlamento do Paraguai, tal
como exige claramente o Tratado.
Para
pisotear com vocação autenticamente totalitária o espírito e a letra do
Tratado de Assunção, os governos da Argentina, Brasil e Uruguai
recorreram ao grosseiro pretexto da recente crise institucional vivida
do Paraguai, e que fora resolvida dentro do marco da Constituição e das
leis nacionais, tal como entenderam a consciência jurídica e democrática
dos povos da América e do mundo, e encontra-se refletido no Informe da
Missão Insulza sobre a crise paraguaia que se encontra a ponto de ser
aprovada pelos sistema inter-americano da OEA, no marco de seus
procedimentos institucionais.
As
sombras e ameaças do recente passado autoritário, porém agora com
tonalidades totalitárias, voltaram a escurecer o presente de nossas
nações e questionam muito seriamente o futuro dos povos da região,
decididos a viver sob a proteção do Estado de Direito democrático para
enfrentar os desafios de realizar em liberdade as mudanças e
transformações que requer um mundo que suporta uma combinação muito
preocupante de crises que florescem sobre a humanidade.
Só
será possível levar a cabo tais tarefas históricas, acatando o direito e
os princípios universais consagrados na Constituição Nacional do
Paraguai, que são os da independência nacional, a auto-determinação dos
povos, a igualdade jurídica entre os Estados, a solidariedade e a
cooperação internacionais, a proteção internacional dos direitos
humanos, a livre navegação dos rios internacionais, a não-intervenção e a
condenação a toda forma de ditadura, colonialismo e imperialismo.
A
união de nossos povos e Estados, propugnada pelos pais da Independência
da América, é um destino inexorável que só será alcançado por meio da
plena vigência da lei e o respeito ao direito, como regulador da vida em
paz e liberdade de nossos povos.
VIVA A SOBERANA REPÚBLICA DO PARAGUAI!
Assunção, capital da República do Paraguai, aos 31 dias do mês de julho de 2012.
Tradução: Graça Salgueiro
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