Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O ESQUEMA NÃO ACABOU

Durval avisa que organização, criada em 2003 e flagrada em 2009, permanece ativa

Terminou mais uma fase do processo sobre o esquema de corrupção deflagrado pela Operação Caixa de Pandora. O depoimento do ex-deputado distrital Rogério Ulysses sobre o processo de improbidade administrativa encerrou o processo de coleta de provas na instrução do caso, conhecido como mensalão do DEM. A partir de agora, o Judiciário abrirá a fase dos julgamentos, ainda sem data marcada para começar. ...

O depoimento foi na tarde de ontem, na 2ª Vara de Fazenda Pública. O ex-deputado começou a ser interrogado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) por volta das 15h. Rogério Ulysses é acusado de participar do esquema e, dentro dele, de supostamente receber quase R$ 6 milhões. O mandato de Ulysses foi cassado por infidelidade partidária.



MESADA IRIA A R$ 60 MIL

O delator da Caixa de Pandora, Durval Barbosa, contou durante o depoimento que nunca entregou dinheiro pessoalmente a Ulysses, mas que, por meio dos documentos e da relação dos deputados que participavam do esquema, foi possível a ele comprovar a participação do ex-deputado. Durval disse que Ulysses chegou a receber R$ 60 mil por mês, de duas fontes diferentes.

Segundo o delator, a organização foi instalada em 2003, funcionou em 2009 e estaria sendo mantida até os tempos de hoje. “Confirmo todas as informações dadas até hoje sobre o aparelhamento de uma organização criminosa instalada no Governo do DF. Os objetivos da organização eram a promoção de pagamentos de propina para os deputados distritais, com a finalidade de obter apoio político, formação de caixa 2 e financiamento de campanhas eleitorais locais, além de ajudar outros estados”, reafirmou Durval. Ele acrescentou que o esquema “não irá terminar nunca”.


Ulysses não arrolou defesa para o depoimento e negou qualquer participação. O acusado argumentou que não existem provas, apenas a citação de seu nome. “Ele não sabe de que partido sou, nunca me viu. Desconheço qualquer ato ilícito da minha parte e ele também. O que existe é uma suposição de que eu faria parte do esquema. Mas saio aliviado, pois tive oportunidade de me defender. Desafio imagem, ligação telefônica, qualquer prova que não seja apenas citar meu nome”, provocou.


Quando perguntado sobre fontes de renda além do salário de deputado, Ulysses afirmou que só entravam na sua conta o subsídio e o valor da verba indenizatória. “Não usei caixa 2 e gastei só o que está declarado na Justiça”, disse.


Cinco para distribuir dinheiro

Durval Barbosa também afirmou durante o depoimento no processo do ex-deputado que o dinheiro repassado a deputados da base aliada não era entregue apenas por ele. Outros operadores entraram no esquema. Além dele próprio, Omésio Pontes, à época assessor de imprensa do ex-governador José Roberto Arruda; José Geraldo Maciel, ex-chefe da Casa Civil no governo Arruda; Domingos Lamoglia, conselheiro do Tribunal de Contas do DF; e Fábio Simão, ex-assessor do GDF, repassavam dinheiro aos parlamentares. No entanto, Fábio Simão só entraria no esquema algumas vezes.

Segundo Durval o esquema também tinha mais arrecadadores, além dele: Renato Malcoti, empresário, e Márcio Machado, ex-secretário de Obras.


OPOSIÇÃO RECEBEU

Entre os pagamentos feitos aos deputados distritais, um dos últimos lotes, no valor de R$ 605 mil, teria sido usado para pagar 19 deputados. De acordo com o depoimento de Durval, entre eles poderiam estar deputados de oposição. “Acho que tinha, mas não tenho certeza”, disse. Entretanto, distritais de oposição teriam sido cultivados com outro tipo de pagamento: os cargos. Para Durval Barbosa, atender pleitos de deputados de oposição com cargos era a mesma coisa que pagar em dinheiro. “É a mesma moeda de troca”, explicou.

Por Camila Costa
Fonte: Jornal de Brasília

 

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