Apuração interna aberta após reportagens do 'Estado' indica que houve favorecimento ao grupo que controla Hipolabor
Suspeito de fazer pagamentos ao governador do Distrito Federal, Agnelo
Queiroz (PT), o laboratório Hipolabor e empresas de seu grupo foram
favorecidos em procedimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) na gestão do petista. Auditoria do órgão, aberta após
reportagens do Estado, mostra que a farmacêutica obteve licenças
irregulares, escapou de multas e deixou de sofrer ações para retirar do
mercado medicamentos que ofereciam risco à saúde. ...
Sediado em Minas, o grupo do Hipolabor,
que controla também o laboratório Sanval e a distribuidora Rhamis, é
investigado por sonegação, lavagem de dinheiro, formação de cartel e
falsificação de remédios. Apreendida durante a Operação Panaceia,
desencadeada em 2011 pela Polícia Civil, Ministério Público e Receita
Estadual, uma agenda da diretoria da empresa registra supostos repasses
ao petista em 2010, ano em que deixou o cargo para concorrer ao Palácio
do Buriti. Na Anvisa, Agnelo concedeu diversas autorizações ao grupo.
A auditoria especial foi iniciada em março. O objetivo foi apurar a
regularidade dos procedimentos realizados a partir de pedidos do grupo
que tramitaram de outubro de 2007 a abril de 2010 na Gerência Geral de
Inspeção e Monitoramento da Qualidade, Controle e Fiscalização de
Insumos, Medicamentos e Produtos. Nesse período, Agnelo foi diretor da
agência e esse setor estava subordinado a ele.
Contradição.
Obtido pelo Estado por meio da Lei de
Acesso à Informação, o relatório da auditoria mostra que, contrariando
regras da própria Anvisa, a gerência liberou certificados de boas
práticas de fabricação (CBPFs) sem os pareceres técnicos exigidos. Em um
dos casos, o Sanval não teve o pedido de concessão da licença
indeferido, embora reprovado em inspeção sanitária. O CBPF é necessário
para registro e venda de medicamentos. Também é exigido em licitações e
assinatura de contratos para a venda de produtos ao poder público.
Pedidos apresentados pela Rhamis foram autorizados irregularmente pela
Anvisa, em períodos nos quais ela não tinha permissão para funcionar. A
auditoria constatou que a agência não informou ao MP e órgãos de
investigação sobre supostos crimes praticados pelo grupo. Um dos casos
seria a comercialização, sem registro, do medicamento Cardioron, sob
suspeita de causar a morte de paciente.
Autuações cabíveis deixaram de ser aplicadas e ações necessárias para
retirar produtos de circulação não foram adiante. O relatório registra
que a Anvisa não impôs o recolhimento de remédio ao Sanval, autuado por
terceirizar a produção irregularmente, embora tenha aferido "risco
gravíssimo ao fato".
Apesar dos apontamentos, a auditoria não investigou eventuais
responsáveis pelas irregularidades nem propôs, na maioria dos casos,
apurações dessa natureza.
O porta-voz do Governo do DF, Ugo Braga, disse que a auditoria não
apontou irregularidades nos processos, mas problemas estruturais nos
sistemas de inspeção. Segundo ele, não há casos em que Agnelo assina
certificados em desacordo com pareceres técnicos das vigilâncias
estaduais e dos técnicos da agência. "É impossível corromper os
processos."
O Hipolabor alegou que não houve irregularidades nos processos. "A
empresa nunca foi favorecida, por quem quer que seja, na Anvisa."
Por Fábio Fabrini
Fonte: Jornal Estado de São Paulo
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