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Gen
Div R1 Clovis Purper Bandeira
Na China antiga, os jornais não circulavam nas
cidades e aldeias distantes, onde o pequeno número de alfabetizados não
justificava a despesa da distribuição dos periódicos. Nesses locais, existiam –
existem? – painéis colocados em locais públicos, onde eram dispostos os avisos,
editais, proclamas, notícias etc. Eram os dazibaos.
Diariamente, ao passar pelo extinto
Canecão, em franca decadência e correndo perigo de ruir, pois agora é “do povo”,
ou seja, não será usado nem sofrerá manutenção até cair, leio meu dazibao sobre
a interminável greve das universidades federais.
Dois cartazes, em especial, chamam
minha atenção.
O primeiro, muito bem feito,
trabalho de profissionais, anuncia: “A Universidade está viva! A Universidade
está em greve!”.
Vejam que preciosa afirmação, que contrassenso bem
colocado, que atrai pelo aparente
paralelismo entre “ vida” e
“greve”. No entanto, nada mais
enganoso. Uma Universidade viva está em ebulição por outros motivos: pelas aulas,
palestras, discussões, debates, pesquisas, monografias, publicações; seus
corredores fervilham de pessoas indo e vindo, dirigindo-se às aulas,
bibliotecas, laboratórios, áreas de lazer, centros de tecnologia e de
informática, produzindo e difundindo conhecimento, arte, ciência, dúvidas,
soluções...
Uma Universidade em greve, e em greve há mais de
dois meses, é o oposto da vida: nada produz, a não ser confronto e radicalismo
ideológico. Ainda não morreu, mas está moribunda.
E, por incrível que possa parecer, as principais
vítimas da greve, os alunos que perdem seu ano letivo, um ano precioso de sua
juventude e de sua vida, aplaudem e justificam o movimento intransigente, que
alega querer negociar mas não aceita nenhuma proposta diferente de suas exigências
e impede, até de forma violenta, o acesso às instalações das faculdades por
aqueles que não concordam com a greve. Por certo a conduta suicida dos alunos é
resultado de anos de doutrinação socialista e da verdadeira lavagem cerebral
que nossos estudantes sofrem desde o ensino fundamental.
Abaixo da frase, vejo os logotipos das várias
associações de classe, sindicatos e centrais pelegas que organizaram e impõem a
greve.
O segundo cartaz não tem a beleza
plástica do primeiro. Escrito a mão livre, com letra irregular, numa faixa de
plástico amarela, exige: “Dilma e Reitor, negociem já!”. Além de não admitirem
nenhuma contraproposta, os grevistas ainda jogam no colo das autoridades a
responsabilidade pelo fracasso das discussões, como se as mesmas é que não
quisessem negociar. Por negociar entendem ceder, submeter-se à vontade dos todo
poderosos sindicalistas, donos da verdade, enviados divinos para estabelecer
sua justiça entre os homens.
As autoridades, porém, merecem o
impasse pelo qual são também responsáveis. Enquanto esteve na oposição, o
partido da Presidente estimulou e defendeu o grevismo radical sempre que pode.
No poder, fortaleceu e encheu de privilégios os sindicatos e associações de
classe, pensando, com certeza, em usá-los como companheiros de viagem em sua
intenção de perpetuar-se no poder. Mas os sindicalistas têm agenda própria, e
caminham a passos largos para estabelecer a República Sindicalista do
Brasil. Logo veremos quem usou ou quem
foi usado.
O governo, agora, toma um pouco do
remédio amargo que produziu para os outros.
Como diz o velho ditado, “quem
semeia ventos, colhe tempestades”.
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