Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 27 de maio de 2020

APARELHAMENTO

MIRANDA SÁ

Pessoas que são boas em arranjar desculpas raramente são boas em qualquer outra coisa”       (Benjamin Franklin)
Bons tempos aqueles em que a grande maioria dos tuiteiros era contra o aparelhamento ignóbil do aparelho de Estado e de cargos no governo na Era Lulopetista!
Hoje não se fala mais nisto. Pelo contrário; tenho até encontrado no Twitter pessoas justificando que os cargos no governo federal devem ser negociados com o Centrão com o mesmo discurso da velha política; para garantir a “governabilidade”.
Esta tal governabilidade apareceu no Brasil na esteira intelectueira do governo FHC, aproveitando-se dos termos ingleses governance ou good governance, para indicar governança e governabilidade.
Adequar as palavras governança e governabilidade no Brasil trouxe infinitas discussões como aquelas que levaram Bizâncio à ruína, no alvoroço das divergências e debates sobre o sexo dos anjos, envolvendo a sociedade de cima para baixo, dos doutores da Lei ao baixo clero…
Segundo alguns, a governabilidade é o atributo daquilo que é governado, ou seja, a sociedade; e vulgarizou-se para justificar alianças dos governantes com o lado podre da política como necessidade de apoio para governar; diz-se de governança como manutenção da estabilidade política, social e financeira pelo governo.
Assim, no meu entender, não se explica bem o uso de aparelhamentos para garantir a governabilidade, a não ser que falte capacidade do Executivo para exercer a governança.
Por outro lado, com boas ou más intenções, o aparelhamento do Estado e do Governo sempre levanta desconfiança e suspeitas por parte da cidadania. Era ameaçador antes, com a intimidação invisível e silenciosa do lulopetismo para garantir o poder nas mãos dos defensores da “pátria grande bolivariana”.
Assim se fez nos governos lulopetistas, de Lula e do seu poste, Dilma Rousseff. Durante o seu exercício na administração pública, o PT e os seus puxadinhos de diversas siglas esquerdistas aparelharam o ensino público, os órgãos culturais, as empresas estatais, o Ibama e a Funai, criando grupos de pressão ideológicos.
Dicionarizado, o verbete “Aparelhamento” é um substantivo masculino originário do verbo transitivo “aparelhar”, preparar, dispor, arrear (o cavalo); e ou, como verbo pronominal, significando preparar-se, dispor-se, aprontar-se. A palavra se formou de aparelha + mento, ato de aparelhar.
Muito usado na terminologia da 3ª Internacional Comunista como ocupação de postos estratégicos no partido ou nas organizações do Estado, o aparelhamento consiste em colocá-los a serviço dos interesses da hierarquia ideológica.
Tivemos no Brasil como de resto na América Latina o aparelhamento dos governos em órgãos que contratam grandes obras públicas em benefício de empresas do setor. É inesquecível a varredura da Lava Jato entre nós.
Escreveu alguém que “a História se repete como caricatura”; e é assim que temos hoje a estranha e numerosa ocupação de militares da reserva na burocracia ministerial e nas empresas estatais. No Planalto, vários generais reservistas formam uma espécie de guarda pretoriana que, infelizmente, não consegue impedir a volta de suspeitos ao conselho de Itaipu, nem que o Centrão e seus 300 picaretas ocupem importantes setores no governo.
Há, entretanto, uma forma de barrar o aparelhamento que vem de priscas eras. Temos sobre isto um episódio na História da França com o político e diplomata Talleyrand, Charles-Maurice de Talleyrand, chanceler do Governo da Restauração.
Conta-se que ele recebeu a visita de um jovem que solicitava um emprego. – “Quem o recomenda? Perguntou o Ministro. O rapaz, tímido diante a autoridade respondeu: – “Ninguém…”
“ –Como? Exclamou Talleyrand perplexo; – “é isto que venho procurando; você assumirá o seu emprego amanhã de manhã…”
O Chanceler se mostrou capaz de formar a consciência dos futuros mandatários. Inutilmente…












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