Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 20 de maio de 2020

"A moral pelo avesso"

por Ruy Fabiano

Passou em brancas nuvens – e isso, em si, já é um escândalo – a segunda condenação, em segunda instância (e por unanimidade), do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Entre outras coisas.

Há mais sete processos em curso, de igual ou mais grave teor – corrupção, lavagem de dinheiro e até envolvimento em homicídio (caso Celso Daniel) -, mas nada disso constrange mais ninguém.
A sentença de agora é de prisão por mais 17 anos. A primeira condenação, em segunda instância – e também por unanimidade -, pela gorjeta do tríplex do Guarujá, já o havia levado à cadeia, mas foi solto pelo STF, com a garantia de que só corre o risco de voltar quando (e se) o processo transitar em julgado. Pode levar décadas.
A Justiça não tem pressa. Há uma infinidade de recursos, em quatro instâncias, garantidos pela lei processual brasileira, uma das manifestações da infinitude. Bastam um bom advogado e um bom trânsito político – e o resto fica por conta das instituições, que, como se sabe, sempre funcionaram, não importa como.
Essa segunda condenação, em segunda instância, relativa ao sítio de Atibaia – outra gorjeta de empreiteiras, dentro da voracidade criminosa dos governos do PT -, deu-se há pouco mais de uma semana, no dia 6. Após o registro protocolar da notícia, o tema saiu de cena, como ocorre com as banalidades.
Afinal, nada mais natural que um ex-presidente da República, com duas condenações, em duas instâncias, por corrupção (palavra simplória para expressar a catástrofe que produziu), livre pelas ruas da cidade, sem qualquer restrição em seus deslocamentos, dentro e fora do país. Tornozeleiras eletrônicas? – nem pensar.
Não bastasse, sente-se à vontade, muito à vontade, para opinar e intervir na política do país, insultar o governo, questionar (vejam só) a integridade do presidente, como se nada devesse ao país – e à lei. Tudo isso, claro, com o apoio das instituições.
Marca reuniões políticas com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (que considera legítima a participação de um condenado na vida institucional do país); participa de debates na internet com lideranças políticas do porte do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (que se empenhou para que não fosse preso) e do ex-quase tudo Ciro Gomes; dá entrevistas às imprensa nacional e estrangeira, com a autoridade moral de um prêmio Nobel. Cumplicidade total.
Ontem, falou à imprensa internacional e acusou o presidente Bolsonaro de promover nada menos que um “genocídio” pelo fato de defender a flexibilização da quarentena e o uso da cloroquina no combate ao vírus: “Sou católico e fico rezando para que o povo brasileiro escape deste genocídio de irresponsabilidade causado por Bolsonaro”, declarou à Agência France-Presse.
E ainda: “Bolsonaro ameaça a democracia, as instituições, o povo brasileiro”. Ora, nada ameaça mais tudo isso (e mais alguma coisa) que a quebra da decência mais elementar na vida pública.
E isso, claro, não se restringe a Lula, mas a todos (a começar pelo STF) que fingem ignorar o seu passivo criminal e o dano coletivo que ocasionou. Um país cuja Suprema Corte preserva o sigilo de um assassino como Adélio Bispo, e não hesita em quebrar o do presidente da República a qualquer pretexto.
Em suma, um padrão institucional ao feitio de Lula.

Ruy Fabiano é jornalista








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