editorial do Estadão
A notícia continua a causar espanto: um incêndio destruiu no domingo
passado a mais antiga instituição científica do País, o Museu Nacional,
que, no semestre passado, comemorou seu bicentenário. Diante da tragédia
absolutamente inadmissível, é preciso tentar entender as causas e as
devidas responsabilidades. Tal descalabro com o patrimônio histórico e
cultural não pode passar em branco, também para que não se repita com
outras instituições.
O Museu Nacional está vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), que por sua vez recebe recursos da União e tem autonomia para
administrá-los como bem entender. A responsabilidade pela manutenção e
conservação do Museu Nacional cabe, portanto, à UFRJ. Autonomia
universitária implica responsabilidade e transparência – a população tem
direito de saber como os recursos públicos são geridos e como o
patrimônio público sob sua administração é preservado.
Houve quem tenha se apressado em culpar o ajuste fiscal do governo Temer
pelas más condições do Museu Nacional. No entanto, não existe tal
relação de causa e efeito. Por exemplo, entre 2014 e 2017, houve um
aumento dos recursos da União destinados à UFRJ. Em 2014, a universidade
recebeu R$ 2,6 bilhões. Em 2017, foram R$ 3,1 bilhões. O problema é
que, nesse período, o valor gasto pela UFRJ com pagamento de pessoal
saltou de R$ 2,1 bilhões para R$ 2,6 bilhões. O aumento de R$ 500
milhões foi para o funcionalismo.
Além da gestão no mínimo temerária do patrimônio público, chama a
atenção na atual reitoria da UFRJ o seu aparelhamento político. O reitor
da UFRJ, Roberto Leher, é filiado ao PSOL. A vice-reitora, Denise
Fernandes Lopez Nascimento, também é filiada ao PSOL, assim como a
pró-reitora de Extensão, Maria Mello de Malta, e o pró-reitor de
Pessoal, Agnaldo Fernandes. Há também outros dois pró-reitores filiados
ao PCdoB: o pró-reitor de Graduação, Eduardo Gonçalves, e o pró-reitor
de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças, Roberto Antonio Gambine
Moreira.
É um acinte que a administração da maior universidade federal do País
seja controlada por dois partidos políticos que, como se sabe, difundem
uma ideologia excludente, avessa ao diálogo e tantas vezes inimiga das
liberdades e garantias fundamentais. Só num ambiente de pluralismo e de
respeito à liberdade de pensamento e de expressão é que a universidade
pode cumprir sua relevante função social. Ao mesmo tempo, não é mera
casualidade que a tragédia do Museu Nacional tenha ocorrido na gestão
dessas duas legendas, tão críticas da responsabilidade fiscal e de uma
gestão profissional dos recursos públicos.
O incêndio do Museu Nacional deve ser um chamado à responsabilidade
fiscal e administrativa. Certamente, há modos desastrosos de realizar um
corte de gastos públicos, como, por exemplo, diminuir igualmente todos
os valores do orçamento, sem distinguir entre o que é prioritário e o
que é acessório. Isso não revoga urgente necessidade de um profundo
ajuste fiscal. Basta ver que houve um aumento nas receitas gerais da
UFRJ e, ao mesmo tempo, nos últimos anos, houve uma diminuição das
verbas que a universidade, em sua autonomia administrativa, destinou
para o Museu Nacional.
É preciso aprender a lição do Museu Nacional. Não é a austeridade na
gestão dos gastos públicos que põe em risco a preservação do patrimônio
histórico e cultural do País. O que produz graves perigos é antes a
ideia de que os cofres públicos são copiosos a ponto de dispensar uma
eficiente gestão dos recursos.
É politicamente fácil culpar o governo federal pelo incêndio ocorrido na
Quinta da Boa Vista. Mas, além de não encontrar respaldo na realidade,
essa atitude abre caminho para novas tragédias, já que não enfrenta as
verdadeiras causas da lamentável situação do Museu Nacional e de tantos
outros equipamentos públicos. O incêndio de domingo passado deixou uma
mensagem clara: a irresponsabilidade com o dinheiro público sempre causa
graves danos ao País.
extraídaderota2014blogspot
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