MIRANDA SÁ
“O poder não corrompe o homem; é o homem que corrompe o poder” (Ulysses Guimarães)
Entre
as sempre boas obras de Howard Fast uma das melhores, para mim, é
“Poder” – um romance típico da escola americana narrando a carreira de
um sindicalista cuja ambição leva-o a praticar maldades com oportunismo,
esperteza, crimes e corrupção.
O
perfil traçado por Fast nos oferece a figura que no Brasil chamamos
“pelego”, o astucioso ativista sindical cujo amoralismo medeia os
interesses de empregados e patrões para se manter no poder usufruindo
das vantagens da posição.
No
Brasil, um deles, Lula da Silva, elegeu-se presidente da República,
levando consigo os seus comparsas para dirigir ministérios e empresas
estatais e, pelas facilidades usufruídas do cargo, elegeu seus parceiros
senadores e deputados…
Todos
roubaram muito, por que o “poder é o poder”; e o poder provém da
habilidade de se impor sobre os outros, pelo voto ou pela força, um
processo próprio da política mesquinha sempre presente nos poderes
econômico ou político.
O
verbete “Poder” é tão poderoso e complicado que a sua qualificação
gramatical é trina, aparecendo como verbo transitivo direto, verbo
intransitivo ou substantivo…. A origem é latina, do verbo poteo, potēre,
e do substantivo possum, potes, potŭi, posse, “o poder, capacidade de”.
Neste
momento que o Brasil atravessa interessa-nos somente o substantivo.
Poder é o direito de agir, deliberar, mandar, exercer a autoridade. Como
função do Estado, deve ser, teoricamente, a ação necessária à execução
do bem comum. Na República, são adotados três poderes, Executivo,
Judiciário e Legislativo; no Império, pela Constituição de 1884, havia
mais um, o Moderador, exclusivo do imperador.
A
herança iluminista da doutrina dos poderes republicanos separados e
iguais, é atribuída a Montesquieu – um pensador iluminista do século
XVIII –, veio, entretanto, de mais longe no tempo, da antiga Grécia, com
Aristóteles propondo a separação dos poderes.
Este
princípio de governo, dos três poderes coexistindo, foi adotado pela
primeira vez na Inglaterra, em 1653, e é hoje uma característica das
democracias modernas. É pena que entre nós, atualmente, se assente
apenas na teoria. É deturpada.
A
desfiguração começa na indicação dos ministros da Suprema Corte pelo
titular do Poder Executivo e aprovada pelo Legislativo. Que soberania e
independência pode ter o Poder Judiciário se os seus membros são
devedores a outrem da posição que ocupam?
É
daí que nasce a degeneração dos juízes do STF, da subalternidade aos
que os indicaram, os “fantasmas dos governos passados” que citei em
artigo anterior, constatando com pesar que os tribunais superiores no
Brasil se firmam em base contrária a que propunha Platão: é nomeada para
prestar favores.
Isto
ficou transparente (como água de esgoto) quando o STF concedeu uma
esdrúxula liminar impedindo que Lula da Silva – condenado de Justiça por
corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha – seja preso até
o julgamento de habeas corpus, no dia 4 de abril, após as longas férias
pascais dos meritíssimos.
Para
registro na agenda de fim-de-ano, anotem que votaram por esta
idiossincrasia ajoelhados diante do Pelegão, os ministros Celso de
Mello, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Ricardo
Lewandowski e Rosa Weber. Ficaram contra, Alexandre de Moraes, Carmen
Lúcia, Edson Fachin, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso.
Paladino
da Democracia, Abraham Lincoln escreveu que “quase todos os homens são
capazes de suportar adversidades, mas se quiser pôr à prova o caráter de
um homem, dê-lhe poder”. É assim, que aqueles que o receberam de graça,
se mostram esnobando da Justiça e escarnecendo da Nação.
EXTRAÍDADETRIBUNDADAIMPRENSASINDICAL
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