EDITORIAL O ESTADÃO
Esta desconexão entre uns e outros não é de agora. Entre os vários clamores que insuflaram a heterogênea, e por vezes contraditória, agenda das manifestações populares de junho de 2013, a expressão “não me representa”, no que concerne à ação dos mandatários políticos, foi uma das poucas insatisfações bradadas em uníssono por avenidas e praças País afora. Começava então o chamamento ao “novo”, ainda que indistinto e mal definido, por vozes que expressavam sentimentos como traição, raiva e desalento.
O tempo transcorrido desde junho de 2013 serviu apenas para aprofundar uma divisão que já era preocupante àquela época, vale dizer, a havida entre representantes e representados, e para afoguear os ânimos de gente disposta a explorar, nem sempre movida por boa-fé, as lacunas ainda abertas nos corações e mentes da sociedade, que continua sem saber precisamente o que – e quem – quer, canalizando todas as suas esperanças por um País melhor, mais decente e justo, na direção desse “novo” impreciso, um conceito tão vago que pode caber em qualquer um, do mais impoluto cidadão imbuído de espírito público ao mais irresponsável populista.
Na verdade, o que se convencionou chamar de “novo” na política brasileira nada mais é do que a mais estrita observância aos velhos valores republicanos que deveriam inspirar a ação de todos os detentores de mandatos políticos no País desde o final do século 19.
Mas a separação entre o público e o privado tem sido tão criminosamente negligenciada pelos maus políticos, e com tal frequência, que a desonestidade e a manipulação nociva da res publica parecem, à luz do imaginário coletivo, ser da própria natureza do fazer político no Brasil. Tanto é assim que, ao examinar mais detidamente o que se espera de “novo” na atividade política, se tem tão somente a ideia de um Estado moderno, eficiente e isonômico.
Ao clamar por “novidade” na política, a sociedade não está, necessariamente, pedindo socorro a uma figura inesperada e heroica, messiânica mesmo, que haveria de surgir como uma lufada de ar fresco para conduzir o País de volta à da qual jamais deveria ter sido desviado pelas práticas espúrias dos maus políticos.
O que se busca, na verdade, são lideranças públicas capazes de guiar a Nação tendo como Norte tão somente os já conhecidos – e muitas vezes maltratados – valores da República, da Liberdade, da Democracia.
O País precisa de líderes genuinamente imbuídos de espírito público e rigorosamente comprometidos com os valores liberais e democráticos, não necessariamente neófitos na atividade política, ainda que sejam absolutamente salutares – e necessários – a renovação do quadro de lideranças políticas e o arejamento de ideias e projetos.
Os candidatos a cargos eletivos em 2018 – sejam os majoritários ou os proporcionais – que conseguirem personificar esses valores republicanos e apresentar à Nação um projeto de desenvolvimento para o País que seja claro, responsável e exequível serão capazes de recuperar a confiança da sociedade não apenas em relação aos políticos, mas à própria política como o meio inescapável para a mediação dos múltiplos interesses públicos e a garantia da paz social.
Não é um desafio pequeno, assim como não devem ser os homens e as mulheres dispostos a enfrentá-lo, sejam ou não nomes conhecidos.
As eleições do ano que vem representarão uma encruzilhada para a Nação. A depender dos resultados advindos das urnas, problemas hoje muito graves poderão levar o País ao desastre. Ou prevalecerão a temperança e a racionalidade e, assim, a tranquilidade de um futuro melhor para esta e para as futuras gerações
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