por Cláudia Costin Folha de São Paulo
No ultimo sábado, um grupo de jovens me convidou para o lançamento de um movimento suprapartidário para renovação da política, o Acredito. Pensei muito no que dizer a eles e ocorreu-me falar de algo que vem fazendo muita falta na cena política atual, ou seja, aprender a debater com pessoas que pensam diferente.
Fala-se muito hoje em indignação, o que pareceria justificar o tom violento e desqualificador das assertivas. O outro, o que diz coisas de que discordo, não merece minhas ideias contrárias ou uma explicitação dos meus motivos para pensar diferente, e sim um epíteto que deixe claro que ele não é legítimo para falar.
Em outros termos, achamos legítimo desqualificar o adversário, em vez de nos darmos ao trabalho de discutir teses, aprofundar nossa convicções ou aprender com o outro. Talvez a preguiça que nos leva a buscar categorias gerais para qualificar visões divergentes e, assim, evitar o esforço de focarmos propostas ou sugestões concretas, tenha a mesma origem desse ato.
Com isso, perdemos todos, independentemente da visão de mundo que nos ilumina. É importante lembrar que, durante muito tempo, algumas atrocidades de Stalin foram negadas pela esquerda francesa, por temer estar se colocando a serviço da direita, mas também que não foram poucos os intelectuais que ouviram e analisaram com atenção os argumentos e tiveram a coragem de rever posições.
Houve um debate famoso na história da Grécia, no século 5º a.C., em que, na sequência de uma insurreição mal sucedida em Mitilene, os atenienses discutiram como punir seus habitantes pelo feito. A decisão inicial fora condenar todos os homens à morte e escravizar mulheres e crianças.
Dados os temores de um erro na decisão, o debate envolveu Deodato, que pedia clemência para os mitilenos, e Cleon, que afirmava que eles precisavam ser mortos para que os atenienses não fossem vistos como fracos.
A atitude de Deodato, que ouviu com atenção e, em seguida, soube defender uma posição mais ponderada, focou o papel do cidadão que deve vencer, segundo ele, não pela força, mas pelo poder do argumento. Felizmente, a posição de Deodato triunfou e os militilenos foram punidos, mas poupados de um final atroz.
Muitas escolas ensinam os jovens a debater e existe até um Campeonato Mundial de Debates para estudantes, no qual o que é valorizado não é a agressividade e o ódio dos adversários, e sim os argumentos e a capacidade de ouvir antes de contra-argumentar. O ensino de história ou de literatura ganhariam certamente maior interesse e relevância com a introdução de debates nas aulas, mas a política nacional se beneficiaria ainda mais.
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