Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Responde e/ou te devoro e outras notas

Valentina de Botas:
Responde e/ou te devoro e outras notas
Antes de Edson Fachin estender o prazo de Temer até sexta-feira, o presidente tinha 24 horas para responder quase 200 perguntas da Polícia Federal inspiradas pelo refundador-geral da república. As 80 e tantas embutem outras, o que eleva a quantidade. A PF tem pressa: dá 24 horas para Temer e levará 30 dias para periciar a gravação de 40 minutos que Janot deveria ter mandado periciar antes de não a usar para coisa nenhuma. Mas os dias são assim e, tomado por repentina pressa, Janot dispensou a picuinha legal porque, desperto do sono para “os interesses do país”, a lei passou a atrapalhar o cumprimento da lei. Depois de Lula ter instalado o mensalão e progredir para o petrolão sem que lhe fosse imposto prazo para perguntas jamais feitas, vamos tirar o atraso. Só acho que devemos ficar de olho, o povo não é bobo: Temer está enrolando, querendo ganhar tempo enquanto é devorado; depois de ler as perguntas da PF, em dois minutos ele poderia apressar as coisas e responder tudo com duas perguntas simples: 1 – OK, Janot, mas e o Lula? 2 – OK, Fachin, mas e julgar alguém que o ajudou a cabalar votos para a sabatina no Senado para o STF?

Por falar em bandidos de estimação
Depois de Lula no segundo turno das diretas-já que nem mesmo ele quer agora e só as insufla ajudado por tanta gente (de artistas a intelectuais, passando pelo ministro Roberto Barroso, aquele com complexo de legislador) para manter a nação atribulada e, assim aturdida e desencantada, ser convencida de que só ele faz a paz; depois de o ex-goleiro Bruno dar autógrafos para crianças nos treinamentos do Boa Esporte; Suzane Richtofen atrai tietes nas saídas temporárias da cadeia. Desta vez, a jovem que tramou o assassinato dos pais e foi ao motel, chorou no velório deles e quis a herança, é vista distribuindo autógrafos e é convidada por cidadãos comuns para selfies nas ruas de duas cidades do interior de São Paulo. Por favor, não me entendam mal, não estou comparando o chefe da organização criminosa (segundo o Ministério Público) a Bruno e Suzana: o mal indizível que estes dois fizeram atingiu um número restrito de pessoas.

Ah, se esse país tivesse outro jeito torto de ser
Temer, quando vice decorativo de Dilma, viajou com Marcela e o filho no avião da JBS/esleys em 2011. Anunciaram as roucas trombetas do fim do mundo. Um dos esleys (parece que o Jo) ainda deixou flores para Marcela e teve de armar um esquema com a própria mãe para diluir o ciuminho do presidente. Um pândego esse Joesley, não é mesmo? Ô se é! A casa onde o ministro Edson Fachin participou de um jantar numa longa jornada noite adentro quando em campanha pelo STF também é de Joesley Batista. E quem é Ricard Saud que cabalou, entre congressistas, votos para Fachin ser aprovado para o STF? O homem da mala. Homem da mala de quem? De Joesley Batista, cuja delação com vistas para o Central Park foi chancelada pelo mesmo Fachin. Tão impróprio quanto Temer usar o avião dos esleys é Fachin ser o relator do caso em que os irmãos reluzem. O país só terá jeito quando as duas coisas forem repelidas. Quem pretende lhe dar um jeito repelindo só uma delas – não importa qual –, está lhe dando um novo jeito torto de ser.

Lava Jato de raiz e Lava Jato com alfafa
Grande parte da imprensa se entreteve com a viagem de Temer no tal avião como prova da intimidade dele com a JBS. Nem precisava, mas vale tudo. Ou quase: não vale falar de Fachin, Janot e da intolerável porque ilegal e imoral delação dolarizada dos esleys; quem falar disso é leigo, idiota, não entende nada; ou está defendendo bandido. Tem de calar a boca. Bem, se no reino da intolerância e do desencanto em que os moralistas se prestam à manipulação, for possível escolher, fico na caixinha dos leigos, que é melhor do que defender bandido e porque sou leiga mesmo. Felizmente, a ministra Cármen Lúcia já determinou que cala-boca-já-morreu. Então falo o que vejo. Certo jornalismo fast-food de notinhas insinuantes e parte do jornalismo televisivo, que querem o país lavado a jato sem questionar a limpeza de quem lava nem se importar com a ridicularia de determinadas narrativas, serviram de novo a cabeça de Temer acompanhada de alfafa, guarnição frequente desde que Janot e Fachin deram-se as mãos para perdoar o passivo penal dos esleys cujas sentenças somariam 2.448 anos, segundo o essencial editorial do Estadão de hoje que segue como uma das poucas ilhas de lucidez no país que se voluntariou para o caos. Aquele jornalismo fast-food, o televisivo e parte do, digamos, tradicional, cuja atuação foi decisiva para que a Lava Jato continuasse operando, se continuarem tratando a armação Janot-Fachin como a Força Tarefa de Sérgio Moro, vão misturar alfafa e raiz. Se isso não traduz o fim do mais auspicioso acontecimento no país redemocratizado – a operação Lava Jato –, traduz o veto ao país que ela desenhou.

Uma mulher, um gay, um cristão, um ateu, um judeu

Achei bacana e tal quando o muçulmano Sadiq Taran foi eleito prefeito de Londres, mas não achei nada extraordinário. Os atentados islamoterroristas em série na cidade me fizeram lembrar o que pensei à época: o fato extraordinário, digno de grande celebração por cidadãos de bem do mundo, é quando houver, em Riad, Cabul ou Teerã, um prefeito judeu ou cristão ou budista ou ateu ou mulher. Ficaram confusos? Então vocês entenderam.

































EXTRAÍDADEBLOGDEAUGUSTONUNESOPINIAOVEJA

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