, editorial do Estadão
A ampla e bem planejada operação policial contra traficantes de drogas na Cracolândia, realizada na manhã de domingo passado, foi o que há muito se esperava do governo do Estado, que partilha com a Prefeitura a responsabilidade pela solução do problema constituído pela concentração de dependentes no centro da cidade. Ao longo de mais de 20 anos, o problema só se agravou, por causa da falta de determinação das autoridades de atacá-lo como deveriam, com ações mais ousadas, tanto na área policial como na da assistência aos dependentes para ajudá-los a se afastar das drogas.
Participaram da ação 900 policiais civis e militares, com o apoio de dois helicópteros para orientar seus movimentos. A Justiça expediu 69 mandados de prisão e 50 de busca e apreensão. Dessa vez, a operação policial foi mais efetiva do que espetaculosa – ao contrário das anteriores –, porque precedida por minuciosa investigação, conduzida durante sete meses pelo Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), da Polícia Civil, que permitiu identificar tanto os traficantes que atuam ali diretamente como os que comandam a distância o crime na Cracolândia, que se transformou num reduto do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Essa preparação permitiu prender 38 traficantes, apreender armas e drogas escondidas em hotéis, pensões e casas comerciais e desmontar 34 barracas onde elas eram vendidas, dia e noite. Entre os presos também estão dois integrantes do PCC – um na Favela do Moinho e outro em Caraguatatuba, no litoral norte – que controlavam o tráfico na Cracolândia. A ação visou as principais vias em que se concentram os dependentes: Alamedas Barão de Piracicaba, Cleveland e Dino Bueno, Rua Helvétia e Avenida Duque de Caxias.
Está certo o governador Geraldo Alckmin quando afirma que esse é um problema que “não se resolve com um estalar de dedos”. Justamente porque é complicado, é de lamentar que se tenha demorado tanto para fazer uma operação bem planejada como essa. Mas antes tarde do que nunca. O que se espera dele agora é que as Polícias Civil e Militar desenvolvam ali uma ação permanente de luta contra o tráfico, pois seria rematada ingenuidade imaginar que o PCC se dará por vencido no primeiro embate. Ações isoladas, apesar do estardalhaço destinado mais a impressionar, produzem apenas resultados passageiros, como mostram as anteriores feitas na Cracolândia.
Da parte do governo municipal, o que se deseja do prefeito João Doria é menos declarações bombásticas e promessas vagas e mais informações precisas sobre o que pretende fazer ali. Desde o início de seu governo, não para de garantir que a Cracolândia vai acabar, o que reafirmou agora: “Enquanto eu for prefeito de São Paulo, a Cracolândia não volta mais a existir. Ali, a partir de agora, é um espaço reconquistado pela cidade. O próximo passo será a derrubada e a implantação de moradias dos programas Casa Paulista e Casa da Família, um Centro Educacional Unificado (CEU), uma creche e uma Unidade Básica de Saúde (UBS)”.
Mas onde está o plano detalhado de Doria para concretizar essa ação ambiciosa? Se ele existe, por que não o divulgou ainda? Se não existe, se tudo não passa de uma ideia vaga, apenas uma boa intenção, o prefeito não deve criar expectativas que só levarão a frustrações. Falta explicar, para citar apenas um exemplo, para onde serão encaminhados os dependentes que não puderem ficar mais na Cracolândia. Não será certamente da noite para o dia que eles, finalmente, aceitarão ou serão levados a aceitar os programas de recuperação. E, se aceitarem, estarão também esses programas – de responsabilidade do governo municipal – prontos para abrigar todos eles?
Fechar a Cracolândia aos dependentes e reurbanizá-la, pura e simplesmente, significa transferi-la para os bairros vizinhos. A solução do problema social está numa colaboração efetiva dos governos municipal e estadual.
extraídaderota2014blogspot
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