Jornalista Andrade Junior

domingo, 5 de fevereiro de 2017

"Trump testa limites institucionais americanos",

 editorial de O Globo

A chegada de Donald Trump à Casa Branca foi marcada por promessas de rompimentos. Falando a um setor do eleitorado afetado pela crise global de 2008 e a globalização, o novo presidente se apresentou como um anjo que traz redenção, e prometeu brigar contra “o sistema”, representado pelos políticos de Washington, insensíveis ao infortúnio da população. Em sua crítica, Trump fez promessas assombrosas pelo caráter isolacionista, xenófobo e populista. Entre elas, a construção de um muro na fronteira com o México; e a proibição da entrada de muçulmanos no país.

Inicialmente, muitos analistas acreditaram que ele não seria eleito. Seu comportamento histriônico, marcado por polêmicas e controvérsias, inclusive contra segmentos importantes da população americana, como mulheres, imigrantes e hispânicos, era visto como inadequado para ocupar o Salão Oval.

E, de fato, Trump perdeu a eleição direta para a rival democrata, Hillary Clinton. Mas, como ganhou no Colégio Eleitoral, foi declarado vencedor. Apostou-se então, que ele buscaria um discurso de conciliação para reatar uma sociedade profundamente dividida.

Mas, em vez disso, desde o discurso de posse, Trump continuou no mesmo tom da campanha, falando exclusivamente a seu eleitorado. Atacou novamente o establishment de Washington, vendendo-se como um outsider ao sistema corrompido da política convencional, e deu andamento, com estonteante velocidade, a esdrúxulas medidas prometidas.

Antes de completar dez dias na Presidência, o seu governo já contabiliza duas crises diplomáticas internacionais, e uma série de medidas para anular ou inverter avanços em direitos civis, sociais e econômicos, duramente construídos em gestões anteriores.

O que pareceria caos e falta de experiência vai rapidamente ganhando contornos de um programa político e ideológico perigoso, porém bastante consistente, já que engenhosamente desenhado por radicais da chamada “direita alternativa”, ainda mais conservadora do que o chamado Tea Party.

Representantes dessa corrente têm íntimo trânsito com o presidente, como seu estrategista-chefe, Stephen Bannon, visto como eminência parda do governo. A indicação do juiz ultraconservador Neil Gorsuch para a Suprema Corte americana — direito seu — é mais um passo na estratégia trumpista. Com Gorsuch, Trump espera cavar uma importante trincheira no Judiciário.

A tendência ideológica que vai se esboçando na Casa Branca fere os valores de liberdade e igualdade que constituem a base da cultura política americana. Esta tradição é amplamente defendida pela Constituição e inúmeras instituições de pesos e contrapesos, guardiãs da principal democracia representativa do mundo. Pela primeira vez na história recente dos EUA, estes mecanismos serão amplamente testados.




























extraídaderota2014blogspot

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