EDITORIAL O ESTADÃO
Nesse cenário, é mais que natural que se espere muito do governo de Michel Temer. Não se espera apenas, por exemplo, que o novo governo não infrinja a Lei de Responsabilidade Fiscal. A expectativa da população é por um novo modo de governar - mais transparente e menos corrupto, mais eficiente e menos aparelhado -, capaz de recolocar o País nos trilhos do desenvolvimento.
Tais expectativas são muito positivas. Certamente elas ajudam a avivar a responsabilidade não apenas do presidente interino, mas de toda sua equipe. Qualquer omissão, deslize ou aparência de ineficiência suscita pronta reação da população. Esse fenômeno é especialmente acentuado nos tempos atuais, em que a comunicação é instantânea.
Mas há que ter cuidado com o que se espera. É bom exigir urgência, mas deve-se ter presente que as enormes dificuldades que o País atravessa não serão resolvidas do dia para a noite. Afinal, foram 13 anos de PT no governo. Treze anos de uso da máquina pública em prol de um projeto de poder que dividiu a Nação. Não há desmonte instantâneo possível para essa máquina. Se é certo que as mudanças exigem firmeza, não menos certa é a necessidade de tempo para que elas ocorram.
A aspiração por uma mudança imediata pode ser contraproducente, a começar por impedir que se olhe a situação do País e do governo com um mínimo de realismo. Sejam muitos ou poucos os erros de Temer no exercício da presidência, não há qualquer dúvida de que o País deu um passo de gigante ao afastar Dilma Rousseff do cargo, possibilitando que o Senado julgue as acusações que recaem sobre ela. Seja qual for o resultado imediato alcançado pelo governo interino, o apeamento da tigrada petista do poder é um enorme avanço institucional. Com o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República, as instituições políticas voltaram a ser oxigenadas, depois de serem asfixiadas pelo modo petista de impor, à revelia da lei e dos bons costumes, suas vontades ao Estado e à sociedade. Diante de todo esse recente progresso, alcançado há apenas um mês, seria de requintada perversidade deixar o País voltar à situação de antes.
Deveria Michel Temer não ter recuado e mantido a Cultura sob a pasta da Educação? Deveria demitir tal ou qual ministro envolto em suspeitas de corrupção? Ou talvez nem tê-lo nomeado? É certo que a cada dia surgirão novos questionamentos sobre as decisões do presidente interino. Em boa medida, serão questionamentos provenientes da expressiva parcela da população que apoiou o afastamento de Dilma Rousseff e, se bem encaminhados, poderão ajudar decisivamente a melhorar a qualidade das decisões de Michel Temer e de sua equipe. Seria descabido, pois pouco afeito ao ambiente de liberdade próprio de uma democracia, fazer censuras a essas críticas. E temos feito não poucas críticas ao presidente em exercício, nestas páginas, sempre lembrando que a vigilância do poder é sempre um enorme bem que se faz ao próprio poder.
Um açodamento pela mudança pode, no entanto, matar a própria mudança, ainda frágil. O País merece esse cuidado de não perder a capacidade de distinguir as abissais diferenças entre o atual governo e a temporada de Lula e sua tigrada - da qual Dilma foi não mais que o epílogo.
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