Com Blog do Augusto Nunes - Veja
A presidente Dilma Rousseff foi despejada do Palácio do Planalto por
exigência das ampla maioria dos brasileiros, cuja voz — encorpada pelas
redes sociais — enfim se fez ouvir nas ruas de centenas de cidades
engajadas na maior mobilização política registrada desde o
Descobrimento. Os indignados, os descontentes e os arrependidos
decidiram juntos, em 13 de março de 2016, que chegara a hora de afastar
Dilma Rousseff do cargo que desonrou. O fim desse capítulo infeliz da
nossa história foi decretado por esses milhões de brasileiros que
vocalizaram ao ar livre a vontade da nação.
O processo de impeachment só foi aceito por Eduardo Cunha, endossado
pela Câmara e está em julgamento no Senado porque o Congresso, como
disse o deputado Ibsen Pinheiro em 1992, “sempre acaba querendo o que o
povo quer”. Cumpre aos responsáveis pelo despejo da inquilina do
Planalto concluir o serviço que começaram. É hora de manter o Senado sob
estreita vigilância até que seja devolvida à família a alma penada que
assombra o Palácio da Alvorada com uivos, lamentos, gemidos e, sempre
que aparece alguma jornalista de confiança, palavrórios enunciados numa
linguagem muito estranha e igualmente assustadora.
O minueto ensaiado pelos senadores arranchados no muro é apenas uma
vigarice grisalha: o que os hesitantes de araque pretendem é aumentar o
valor do voto. Logo estarão de volta à terra firme, dançando conforme a
música tocada pela resistência democrática, entoando as palavras de
ordem que identificam os alvos prioritários (“Fora Dilma!”, “Fora
Lula!”, “Fora PT!”) e sussurrando o grito de guerra que passa ao largo
de partidos ou líderes políticos para celebrar o juiz que simboliza a
Lava Jato: “Viva Sérgio Moro!” Os gigolôs da indecisão sabem que vem aí
outra eleição. E sabem também que o voto pune.
Compreensivelmente, ninguém deu vivas a Michel Temer. A vitoriosa
oposição real ─ hoje hegemônica nas redes sociais, nas praças, nas
avenidas, até no Datafolha ─ não votou no candidato a vice de Dilma
Rousseff na chapa que revalidou o casamento do PT com o PMDB. Endossou a
ascensão do presidente interino por respeitar a Constituição que os
adoradores de Lula (e eleitores de Temer) sempre trataram a socos e
pontapés. E torce sinceramente para que o novo governo tenha sucesso na
missão de reconstruir o país arrasado pela era da canalhice. Quanto
pior, melhor? Quem responde afirmativamente a tamanha maluquice tem tudo
para virar sacristão de missa negra.
O balanço dos primeiros dias vai além das conversas gravadas por Sérgio
Machado e do afastamento de dois ministros alistado na tropa que luta
inutilmente para abortar a Lava Jato. O Brasil foi dispensado de
envergonhar-se com a política externa da cafajestagem. Vai tomando forma
o plano concebido para enfrentar a crise econômica — e qualquer plano é
melhor que nenhum. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem
demonstrado que é o homem certo no lugar certo. Começou a dedetização
dos porões da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), infestados de
blogueiros sabujos, múmias subalternas, jovens crápulas e velhotes
velhacos que vendem letras por quilo batucando em jurássicas máquinas de
escrever.
Não é muito. Mas não é pouca coisa, atestam os aplausos que
recepcionaram o pequeno lote de mudanças. Também por isso, repete-se com
crescente insistência a pergunta sem resposta: o que espera Michel
Temer para escancarar a colossal caixa preta que guarda a verdadeira
herança maldita? O rombo de 175.5 bilhões nas contas de Dilma pareceu
espantoso até a quem achava que não se espantaria com mais nada. É
preciso expor urgentemente o acervo acumulado em 13 sórdidos anos. Os
brasileiros têm de contemplar o quanto antes a terra devastada pela
passagem das incontáveis cavalgaduras do apocalipse.
O falatório gravado por Sérgio Machado reafirma que meliantes do PMDB e
do PP agiram em parceria com larápios do PT no assalto aos cofres da
Petrobras. E avisa que só cretinos fundamentais conseguem enxergar um
país em que se confrontam esquerdistas generosos e direitistas brutais. O
Brasil redesenhado pela Lava Jato está dividido em duas partes
assimétricas e antagônicas. Uma é habitada por gente que apoia sem
ressalvas o prosseguimento da operação que desmantelou o maior esquema
corrupto surgido desde a chegada das caravelas. A outra é reservada aos
quem sonham com a transformação da República de Curitiba numa versão
brasileira de Hiroshima. É nesse lado escuro que se amontoam dirceus e
jucás, dilmas e renans, mercadantes e machados.
A montanha de provas contundentes berra que o Petrolão é o filho mais
abjeto de Lula. O ex-deputado Pedro Corrêa, no depoimento à Justiça
divulgado na mais recente edição de VEJA, revelou que o então presidente
comandou pessoalmente, em 2004, os trabalhos de parto da quadrilha que
saqueou a Petrobras. Até 2010 ─ apoiado pela companheirada do PT, pela
banda podre dos partidos da base alugada, por empreiteiros de estimação e
por diretores da Petrobras que ele próprio escolheu ─, o Pai dos Pobres
acompanhou com cuidados de Mãe dos Ricos a evolução da criatura que
Dilma acolheu com afagos de avó extremosa. O resto é o resto.
Tudo somado, os pais da pátria terão de escolher entre dois caminhos.
Michel Temer decidiu percorrer a trilha à beira do penhasco. É perigosa,
mas costuma levar a portos seguros. Dilma Rousseff optou desde sempre
por descer a ladeira que desemboca no abismo. Milhões de brasileiros
fartos de tapeação mantêm sob estreita vigilância todos os senadores,
sobretudo os fantasiados de indecisos. A oposição real deve voltar às
ruas para recomendar-lhes que tenham juízo na hora de votar.
extraídaderota2014blogspot
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