FELIPPE HERMES
Qual a política energética do Brasil? Qual a política de agricultura? Quais são os projetos de governo para o Brasil?
A frase acima completará em breve duas décadas. Foi dita
pela deputada do PCdoB, Jandira Feghali, na época em que PT e demais
partidos de oposição lutavam pelo impeachment do governo FHC. Apesar do
contexto distinto, a frase poderia passar desapercebida nos dias atuais.
Há pouco mais de um mês, sob os olhares atentos de artistas e
intelectuais reunidos num “conselhão”, Dilma e o recém empossado
ministro da Fazenda anunciaram ao país as novas medidas para recuperar a
economia. De lá para cá, porém, nada disso se concretizou – pelo
contrário: mergulhamos em um aprofundamento da crise política e deixamos
de lado os velhos problemas na economia. Na medida em que Lula
tornou-se o novo alvo da Lava Jato, vimos as mínimas perspectivas de
soluções para a crise serem abandonadas. Estamos, nesse momento da
história, condenados – presos ao destino de Lula e o PT. Somos reféns de
um sequestrador apavorado e sem opções, que tem nesse momento o único
objetivo de apontar uma arma em nossa cabeça para fugir do radar da
polícia.
Desde que a
Lava Jato alcançou o triplex do Guarujá em suas operações, cerca de 120
mil brasileiros perderam seus empregos, fazendo o desemprego atingir o
maior nível em 7 anos. E isso é apenas parte da história. Nesse tempo, a
inflação continuou acima da meta e a renda caiu ladeira abaixo, jogando
outras centenas de milhares de pessoas na pobreza (as mesmas que Lula
se orgulha em ter tirado de lá). Nada disso, no entanto, mereceu
destaque do governo. Nenhuma nova medida foi votada no Congresso que
aliviasse a situação de empresas que hoje pagam os maiores juros em
oito anos. Nenhuma medida foi tomada que reduzisse o aumento da dívida
pública, que supera os 10% do PIB ao ano apenas em déficits.
A razão
para isso? Não há tempo para preocupações com o Brasil de amanhã. É
preciso correr e impedir imediatamente a queda da República.
Durante a
emblemática terça-feira, 15, quando vimos a mais alta corte do país
homologar a delação de Delcídio do Amaral, Dilma ligou para ministros em
busca de notícias positivas para abafar o caso. “O que o seu ministério
está fazendo de bom que possa ser anunciado?”, questionou. Dessa forma,
como descreve a jornalista Vera Magalhães, do blog Radar Online,
seu governo buscava reagir às denúncias de que não apenas Lula e Dilma
sabiam de todos os esquemas na Petrobras, como participaram de crimes
como a tentativa de obstruir a Justiça ou subornar testemunhas, ainda no
caso do Mensalão.
Talvez
houvesse algo de positivo a anunciar – mas nunca saberemos, pois a bomba
de Delcidio, seguida pela revelação dos grampos envolvendo o
ex-presidente Lula, tornariam até os hipotéticos anúncios da cura do
câncer pela FioCruz ou o fim do analfabetismo anunciado pelo MEC, numa
mera nota de rodapé nos grandes jornais. “Eles queriam obstruir a Lava
Jato”, denunciou Delcidio. “Mas e a Rosa hein? Será que ela tem “saco”
para brecar esta situação?”, questionando Lula confirmando Delcidio em
um dos telefonemas.
A bem da
verdade, há uma noticia positiva na agenda: a reforma da previdência.
Anunciada pela presidente como uma medida urgente, no entanto, ela não
avança, sob o temor de que gere desgastes ao governo exatamente com a
única base que ainda consegue manter apoio: a das centrais sindicais.
É certo
que nossa previdência não sobreviverá às regras atuais, e improvável que
o país escape de um calote ou um aprofundamento da recessão caso o
problema da dívida não seja solucionado. Nada disso importa nesse
momento, no entanto. Como vamos salvar Lula, afinal de contas?
Os
argumentos que nos prendem a este clima de sequestro são inúmeros. Caso
Dilma sofra impeachment, seremos governados por Temer (aquele mesmo
escolhido como vice pelo próprio PT). Poderemos ter Aécio presidente (o
mesmo Aécio envolvido em denúncias de corrupção em parceria com o PT em
Furnas). Teremos um caos nas ruas, pois o país esta dividido (ainda que
sejam 93% de um lado e 7% do outro). Agora, é preciso preservar as
instituições – e acredite, quem fará isso é a mesma turma flagrada em
escutas telefônicas negociando uma nomeação para ministro apenas para
garantir que ele escape do juiz federal Sergio Moro, aquele que é
parcial demais para julgar o caso. Para isso, é preciso julgar o caso no
STF, onde 9 em 11 ministros foram indicados pelo PT. Tudo em nome das
instituições e da imparcialidade.
Em um
discurso de pouco mais de uma hora na posse como ministro de Lula, Dilma
incitou o acirramento politico e discursou para as bases ignorando por
completo o país que assistia ao seu pronunciamento. Nomeou um ministro
que, segundo os próprios governistas, terá o papel quase bolivariano de
“definir os rumos da economia” – tal qual Chavez ou Maduro, Lula irá
apontar caminhos e dar “uma guinada à esquerda”, segundo políticos e
conhecidos militantes do partido. Absolutamente nada, no entanto, foi
dito ao povo neste discurso que remetesse a qualquer luz sobre o futuro
do país. Trata-se de projetar o futuro do governo exclusivamente. Unir
as bases às custas de desunir o pais.
Há mais de
ano é possível ver petistas e demais governistas atribuírem à crise
econômica o empasse na politica. Em partes, possuem razão. A negação de
Dilma em renunciar põe o pais em uma encruzilhada. Para respeitar os
ritos de um Estado democrático, temos de aguardar. Os próximos passos?
Nessa ordem: aguardar a defesa de Dilma perante a comissão de
impeachment aprovada ontem, aguardar o relatório e, enfim, a votação
para afastá-la do cargo.
Neste
período, certamente muita coisa irá acontecer. Mas de uma coisa hoje não
resta dúvida – sem impeachment, o país permanecerá no mesmo lugar:
sequestrado por Dilma e Lula.
EXTRAÍDADESPOTNIKS
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